Mortes evitáveis expõem colapso no sistema prisional do DF
Penitenciária da Papuda

Mortes evitáveis expõem colapso no sistema prisional do DF

Em audiência proposta por Fábio Felix (PSOL), famílias denunciam negligência, racismo estrutural e falta de transparência nas 46 mortes registradas desde 2019

Redação da Revista Movimento 22 out 2025, 10:58

Foto: Paulo H. Carvalho/Agência Brasília

As mortes dentro do sistema prisional do Distrito Federal cresceram 21% entre 2019 e 2024, passando de 38 para 46 casos. Os dados, apresentados em audiência pública nesta terça-feira (21) na Câmara Legislativa do DF (CLDF), revelam um cenário de negligência médica, falta de transparência e desumanização da população carcerária.

O debate foi proposto pelo deputado distrital Fábio Felix (PSOL), presidente da Comissão de Direitos Humanos, e reuniu especialistas, gestores públicos e familiares de detentos mortos. De acordo com as secretarias de Saúde (SES-DF) e de Administração Penitenciária (Seape-DF), doenças evitáveis como tuberculose, pneumonia e sepse respondem por mais de 60% dos óbitos.

Para Fábio Felix, os números revelam uma crise estrutural no sistema prisional, marcada pela omissão do Estado e pela ausência de políticas públicas eficazes.

“A gente está falando dessa falta de transparência, dessa falta de explicação sobre as situações que acontecem ali dentro e de um sistema que não revela para as famílias a real motivação das mortes”, afirmou o deputado.

Ele também criticou a precariedade da vigilância nas unidades prisionais.

“Hoje, nós temos câmeras precárias, muitas delas instaladas pelos próprios profissionais. O acesso às imagens não é disponibilizado, e até aqui não foi implementado o regime de monitoramento interno. Estamos em 2025, onde tudo é digitalizado e ainda assim não conseguimos apurar as 18 mortes registradas neste ano. Isso é muito grave”, denunciou.

Sistema desigual e seletivo

Fábio Felix apontou que o problema vai além da gestão penitenciária, refletindo as desigualdades estruturais do sistema de justiça brasileiro.

“É um sistema que tem uma série de problemas, que vão desde a defesa técnica até a atuação do Ministério Público e as decisões judiciais. As pessoas em situação de vulnerabilidade social são as mais criminalizadas. Enquanto isso, crimes de colarinho branco não são punidos. É um sistema absolutamente desigual e que precisamos refletir sobre ele”, afirmou o parlamentar.

Vozes que clamam por justiça

Durante a audiência, familiares de detentos mortos relataram a dor e a falta de respostas das autoridades.

“Meu filho de dois anos pergunta pelo pai, e eu ainda não sei o que falar para ele. A gente só quer saber o que realmente aconteceu, porque ele entrou lá vivo e saiu morto, todo machucado. Eles entram para se ressocializar, não para morrer”, desabafou Débora, companheira de um dos internos.

Estado ausente e direitos violados

A Secretaria de Administração Penitenciária (Seape-DF) não enviou representantes à audiência. Em nota, a pasta alegou impossibilidade de comparecimento, mas afirmou estar à disposição “para responder às demandas levantadas” e aguardará o relatório final da audiência.

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, inciso XLIX, garante que “é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral”. Para Fábio Felix, o aumento das mortes e os relatos de negligência mostram que o Estado tem falhado em garantir saúde, segurança e dignidade às pessoas privadas de liberdade.

“A responsabilidade do Estado não é apenas manter as pessoas presas, mas garantir que elas vivam – e vivam com dignidade. Cada morte é uma tragédia que poderia ter sido evitada”, concluiu o deputado.

Propostas e próximos passos

Ao final da audiência, Felix anunciou que pretende propor novas medidas legislativas para fortalecer a fiscalização, garantir acesso à informação e amparo às famílias das vítimas e exigir transparência nos dados de mortalidade prisional.

O parlamentar defendeu que a vida e a dignidade de quem está sob custódia do Estado são direitos inegociáveis – e que combater o descaso institucional é parte da luta por uma sociedade verdadeiramente democrática.

“Enquanto o Estado tratar a população carcerária como descartável, continuará violando a própria Constituição. Precisamos romper com essa lógica de abandono e construir uma política prisional baseada em direitos humanos”, afirmou Felix.


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