Palestinos denunciam abusos sistemáticos nas prisões israelenses
Ex-detentos relatam espancamentos, humilhações e negligência médica; entidades palestinas e grupos de direitos humanos denunciam práticas de tortura institucionalizadas por Israel
Foto: RS/Fotos Públicas
Prisioneiros palestinos libertados ontem (13), como parte da primeira fase do acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza, relataram graves violações de direitos humanos nas prisões israelenses. As denúncias reforçam as constantes acusações de que Israel mantém um sistema prisional marcado por tortura, maus-tratos e desumanização da população palestina sob ocupação.
“Foi muito difícil. Nenhum ser humano racional consegue imaginar o que veria na prisão”, afirmou à CNN Ahmed Awad, libertado em Ramallah, na Cisjordânia ocupada, após cumprir três penas de prisão perpétua. “Você não imagina como eles lidam com os prisioneiros. Eles nos humilhavam e nos espancavam diariamente sem qualquer motivo.”
Outro ex-detento, Faisal Mahmood Abdullah Al Khaleefi, de 45 anos, contou ter passado dez anos preso, condenado por “crimes de segurança” e porte ilegal de armas. Ele descreveu um cotidiano de torturas físicas e psicológicas:
“Não havia tratamento, não podíamos nem tomar analgésicos. Quanto aos médicos, quem nos tratava também nos batia. O primeiro a nos bater foi o médico.” Segundo ele, “as autoridades prisionais nos deixaram no sol, sobre o cascalho, por 12 horas. De vez em quando, eles nos forçavam a levantar, nos batiam ou nos jogavam em cima dos nossos companheiros de cela.”
Abusos até a libertação
As denúncias se somam às declarações da Comissão para os Assuntos dos Prisioneiros Palestinos e da Sociedade Palestina de Prisioneiros, que afirmaram nesta segunda-feira (13) que “muitos prisioneiros, especialmente os de Gaza, apresentaram sinais claros de tortura física e psicológica, e houve casos documentados de abuso até os últimos momentos de sua libertação.”
A Sociedade do Crescente Vermelho Palestino (SVP) também relatou que diversos prisioneiros libertados em Ramallah foram espancados por agentes de segurança israelenses antes de embarcarem nos ônibus. “Alguns sofreram fraturas nas costelas e traumas oculares”, disse o porta-voz da SVP, Hassan Silwadi.
Em resposta, o Serviço Prisional de Israel declarou que “não tinha conhecimento das alegações descritas” e afirmou que “até onde sabemos, nenhum incidente desse tipo ocorreu sob a responsabilidade do IPS.” A declaração, no entanto, contrasta com inúmeras denúncias feitas por organizações internacionais – incluindo a Anistia Internacional e a Human Rights Watch – que há anos documentam a prática sistemática de tortura, isolamento prolongado e negligência médica contra palestinos detidos.
Uma investigação da CNN, publicada no ano passado, reforça o padrão de violência: três ex-funcionários israelenses de um campo de detenção admitiram ter testemunhado espancamentos e maus-tratos. As revelações dão peso às acusações de que Israel utiliza o encarceramento como instrumento político de repressão e controle sobre a população palestina, em flagrante violação do direito internacional humanitário.
Essas práticas, amplamente denunciadas por entidades de direitos humanos, são parte de uma política de apartheid e ocupação que há décadas subjuga o povo palestino. As prisões – muitas delas em território israelense, fora das fronteiras reconhecidas – funcionam como extensões do regime de dominação que nega à população palestina o direito à autodeterminação, à integridade física e à dignidade humana. A libertação dos prisioneiros, longe de representar justiça, expõe a face mais brutal de uma ocupação que criminaliza a resistência e transforma a sobrevivência palestina em um ato de coragem cotidiana.