Eduardo Paes assume (novamente) o que sempre foi
Quem realmente acredita na unidade do campo democrático e popular como saída para o contexto de decadência em que o Estado do Rio de Janeiro se encontra não pode apoiar Eduardo Paes
O prefeito Eduardo Paes há anos se esforça para se apresentar como um sujeito gente boa, daqueles que gosta de um chopp bem gelado após o expediente, frequenta rodas de samba raiz aos sábados e que defende a democracia sempre que necessário. Uma espécie de homem público cordial.
Contudo, nos últimos meses, sobretudo depois que o PT sinalizou que o apoiará incondicionalmente na disputa eleitoral de 2026 (o alcaide aspira ser governador), Paes rompeu com seu personagem e se aproximou desavergonhadamente dos personagens e do programa da direita política fluminense.
Antes refratário, Paes armou a Guarda Municipal e disputa o protagonismo, ainda que no plano simbólico, dos descaminhos da segurança pública fluminense. Além disso, selou um acordo de paz com o governador bolsonarista Claudio Castro, declarou amor integral ao pastor Silas Malafaia e adotou a estética belicista no trato dos problemas municipais.
Este último aspecto foi replicado por seus assessores, vide o recente episódio no qual seu secretário de educação interpelou energicamente merendeiras acusadas de desvio de alimentos de uma unidade escolar.
Ocorre que, em uma análise retrospectiva das posturas de Eduardo Paes assumidas em temas sensíveis à democracia, a aproximação do prefeito com o que há de pior na política fluminense e nacional não é nenhuma novidade.
Quando do ápice do espetáculo jurídico-midiático do Mensalão, oportunidade em que Paes era deputado federal pelo PSDB, atacou pessoalmente o então presidente Lula e sua família.
Da mesma forma, no episódio do impedimento da presidenta Dilma, rapidamente se posicionou e apoiou o golpe. Inclusive, seu fiel escudeiro Pedro Paulo, hoje protagonista da Reforma Administrativa em debate no Congresso Nacional, juntamente com outros aliados locais, votou a favor do afastamento de Dilma.
Da mesma forma, quando Lula estava preso e Haddad era candidato, Paes se aliou ao bolsonarismo ao declarar maior proximidade com o projeto ultraliberal capitaneado por Paulo Guedes.
Em âmbito municipal, afastou toda sorte de experimentação popular dos territórios valorizados da cidade. Sob a insígnia do “choque de ordem”, expulsou os trabalhadores informais dos centros comerciais. Em nome da ordenação do espaço urbano, desalojou moradias populares em favor da especulação urbana. Criminalizou as lutas dos servidores públicos por melhores condições de trabalho e salários. Colaborou com os ataques aos manifestantes contra os gastos nababescos dos Jogos Olímpicos e da Copa, entre muitos outros absurdos.
Portanto, Eduardo Paes não se tornou um novo aliado da direita recentemente, apenas voltou a ser o que sempre foi: parte orgânica dela. Quem realmente acredita na unidade do campo democrático e popular como saída para o contexto de decadência em que o Estado do Rio de Janeiro se encontra não pode apoiá-lo. Outras alternativas estão postas, e o PSOL, certamente, faz parte delas, e apresentará uma candidatura à altura deste desafio.