Segurança pública e finanças em crise: o nó entre Derrite, Tarcísio, governadores e a Faria Lima
A cena política e de segurança no Brasil está tensa, marcada por um cabo de guerra que opõe as forças de segurança estaduais, a Polícia Federal (PF) e o alto escalão do mercado financeiro e político
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Em São Paulo, o Secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, e o governador Tarcísio de Freitas enfrentam uma crise interna: são alvo de cobranças públicas de mais de 20 associações de policiais civis e militares. As reclamações são diversas, mas a principal é a falta de compromisso com a classe e o não cumprimento de promessas de eleição. Os policiais civis têm mais a reclamar, já que desde que Derrite assumiu, colocou de lado a Polícia Civil, tentando a todo custo minar ou desequilibrar os poderes entre civil e militar.
Paralelamente, no Congresso Nacional, Derrite (em sua atuação como deputado licenciado) move peças que buscam reforçar a autonomia e as atribuições das polícias estaduais, chegando a desfavorecer o trabalho da Polícia Federal em um dos seus quatro relatórios já apresentados. Esse movimento levanta a questão: é a segurança pública uma prioridade do governo ou apenas uma moeda de troca em disputas de poder e jurisdição?
O modelo repressor e a política de classe
O modelo encampado por Derrite (com raízes em sua história na Rota e alinhado à Polícia Militar) é o da repressão. Essa é uma política de classe que, na prática, se traduz em genocídio na periferia, mirando nos operadores de bairro e jovens, enquanto garante que a “burguesia” e os “dirigentes” do crime organizado (como o exposto no caso Banco Master) possam seguir operando e cometendo crimes “à vontade.”
O nó financeiro: Banco Master e a teia política
Enquanto isso, um escândalo no coração financeiro do país expôs a relação promíscua entre o mercado e a política. A prisão do Daniel Vorcaro, CEO e controlador do Banco Master, pela Polícia Federal, não é um evento isolado, mas, sim, o puxar de um novelo que desenrola uma teia complexa.
O Banco Master, que em sete anos viu seu ativo total saltar de cerca de R$ 200 milhões para algo em torno de R$ 5 bilhões (um crescimento de mais de 2.400%), tornou-se um case de expansão vertiginosa e questionável.
A instituição tem atuado como um dos principais financiadores de concessões e privatizações de serviços essenciais (como água, lixo e esgoto) por todo o Brasil, pavimentando seu caminho com fortes conexões políticas. A contratação do ex-presidente Michel Temer como consultor e a revelação de que executivos do banco custearam luxuosas viagens e festas para o presidente do partido do governador Tarcísio, Marcos Rueda (Republicanos), sublinham a tese de que o sucesso financeiro da instituição caminhou de mãos dadas com a dedicação de “regalias” à classe política.
Outros governadores que têm paralelo e ligações fortes com Daniel Vorcaro e o banco Master são o governador Ibaneis, do DF, e Cláudio Castro, do RJ. O banco tem influência em diversas ações de privatizações pelos estados.
O confronto de poderes
O paradoxo central é claro: enquanto Derrite tenta limitar a influência da Polícia Federal em investigações de segurança estaduais, é justamente a PF que, com apoio de intensa pressão midiática, avança nos esquemas de crime organizado que parecem envolver diretamente os bancos da Faria Lima e seus aliados políticos.
Após duras críticas e quatro relatórios enviados, Derrite aparece junto a Arthur Lira e Eduardo Cunha em um jantar, ao mesmo passo em que Hugo Motta pautou o mais rápido possível a 5ª versão do relatório.
O caso Master não é apenas um crime financeiro; é a prova da intersecção perigosa entre o capital, as concessões públicas e a influência de bastidores. O que está sendo descoberto é um cenário em que a defesa da autonomia policial local pode colidir com a necessidade de uma investigação federal robusta para desmantelar os esquemas que financiam a política e distorcem o mercado.
A solução na Segurança que ninguém quer discutir
A verdadeira segurança pública exige uma abordagem alternativa e estrutural, superando o foco exclusivo na repressão. Essa política deve operar em duas frentes indissociáveis: de um lado, a Investigação do “Lado de Cima”, que priorize a punição implacável dos verdadeiros líderes do crime organizado, financistas da Faria Lima e corruptos, atacando as fontes de lavagem de dinheiro. De outro, a adoção de um modelo de segurança comunitária na ponta, que substitua a atuação militarizada por estruturas de policiamento patrimonial e relações sociais, buscando a segurança do território em vez da violência e das chacinas parece uma boa solução tendo como referência comunidades autogestionadas indígenas e de países que constroem o socialismo entendendo a necessidade também de investimento social como prevenção, que reconheça a violência como um sintoma da desigualdade. A redução da criminalidade depende do aporte maciço em Cultura, Educação, Assistência Social, Saúde, Saneamento Básico, Moradia e serviços públicos no geral.
Tais investimentos são as soluções estruturais que desmantelam o crime na base, oferecendo dignidade, oportunidades e infraestrutura. Em suma, a pacificação duradoura não será alcançada com mais violência policial, mas sim combinando investigação implacável contra o topo e políticas públicas de desenvolvimento social que garantam condições de vida justas para a base da sociedade.