Segurança pública e finanças em crise: o nó entre Derrite, Tarcísio, governadores e a Faria Lima
Crime organizado

Segurança pública e finanças em crise: o nó entre Derrite, Tarcísio, governadores e a Faria Lima

A cena política e de segurança no Brasil está tensa, marcada por um cabo de guerra que opõe as forças de segurança estaduais, a Polícia Federal (PF) e o alto escalão do mercado financeiro e político

Igor Fernandes 19 nov 2025, 09:56

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Em São Paulo, o Secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, e o governador Tarcísio de Freitas enfrentam uma crise interna: são alvo de cobranças públicas de mais de 20 associações de policiais civis e militares. As reclamações são diversas, mas a principal é a falta de compromisso com a classe e o não cumprimento de promessas de eleição. Os policiais civis têm mais a reclamar, já que desde que Derrite assumiu, colocou de lado a Polícia Civil, tentando a todo custo minar ou desequilibrar os poderes entre civil e militar.

Paralelamente, no Congresso Nacional, Derrite (em sua atuação como deputado licenciado) move peças que buscam reforçar a autonomia e as atribuições das polícias estaduais, chegando a desfavorecer o trabalho da Polícia Federal em um dos seus quatro relatórios já apresentados. Esse movimento levanta a questão: é a segurança pública uma prioridade do governo ou apenas uma moeda de troca em disputas de poder e jurisdição?

O modelo repressor e a política de classe

O modelo encampado por Derrite (com raízes em sua história na Rota e alinhado à Polícia Militar) é o da repressão. Essa é uma política de classe que, na prática, se traduz em genocídio na periferia, mirando nos operadores de bairro e jovens, enquanto garante que a “burguesia” e os “dirigentes” do crime organizado (como o exposto no caso Banco Master) possam seguir operando e cometendo crimes “à vontade.”

O nó financeiro: Banco Master e a teia política

Enquanto isso, um escândalo no coração financeiro do país expôs a relação promíscua entre o mercado e a política. A prisão do Daniel Vorcaro, CEO e controlador do Banco Master, pela Polícia Federal, não é um evento isolado, mas, sim, o puxar de um novelo que desenrola uma teia complexa.

O Banco Master, que em sete anos viu seu ativo total saltar de cerca de R$ 200 milhões para algo em torno de R$ 5 bilhões (um crescimento de mais de 2.400%), tornou-se um case de expansão vertiginosa e questionável.

A instituição tem atuado como um dos principais financiadores de concessões e privatizações de serviços essenciais (como água, lixo e esgoto) por todo o Brasil, pavimentando seu caminho com fortes conexões políticas. A contratação do ex-presidente Michel Temer como consultor e a revelação de que executivos do banco custearam luxuosas viagens e festas para o presidente do partido do governador Tarcísio, Marcos Rueda (Republicanos), sublinham a tese de que o sucesso financeiro da instituição caminhou de mãos dadas com a dedicação de “regalias” à classe política.

Outros governadores que têm paralelo e ligações fortes com Daniel Vorcaro e o banco Master são o governador Ibaneis, do DF, e Cláudio Castro, do RJ. O banco tem influência em diversas ações de privatizações pelos estados.

O confronto de poderes

O paradoxo central é claro: enquanto Derrite tenta limitar a influência da Polícia Federal em investigações de segurança estaduais, é justamente a PF que, com apoio de intensa pressão midiática, avança nos esquemas de crime organizado que parecem envolver diretamente os bancos da Faria Lima e seus aliados políticos.

Após duras críticas e quatro relatórios enviados, Derrite aparece junto a Arthur Lira e Eduardo Cunha em um jantar, ao mesmo passo em que Hugo Motta pautou o mais rápido possível a 5ª versão do relatório.

O caso Master não é apenas um crime financeiro; é a prova da intersecção perigosa entre o capital, as concessões públicas e a influência de bastidores. O que está sendo descoberto é um cenário em que a defesa da autonomia policial local pode colidir com a necessidade de uma investigação federal robusta para desmantelar os esquemas que financiam a política e distorcem o mercado.

A solução na Segurança que ninguém quer discutir

A verdadeira segurança pública exige uma abordagem alternativa e estrutural, superando o foco exclusivo na repressão. Essa política deve operar em duas frentes indissociáveis: de um lado, a Investigação do “Lado de Cima”, que priorize a punição implacável dos verdadeiros líderes do crime organizado, financistas da Faria Lima e corruptos, atacando as fontes de lavagem de dinheiro. De outro, a adoção de um modelo de segurança comunitária na ponta, que substitua a atuação militarizada por estruturas de policiamento patrimonial e relações sociais, buscando a segurança do território em vez da violência e das chacinas parece uma boa solução tendo como referência comunidades autogestionadas indígenas e de países que constroem o socialismo entendendo a necessidade também de investimento social como prevenção, que reconheça a violência como um sintoma da desigualdade. A redução da criminalidade depende do aporte maciço em Cultura, Educação, Assistência Social, Saúde, Saneamento Básico, Moradia e serviços públicos no geral. 

Tais investimentos são as soluções estruturais que desmantelam o crime na base, oferecendo dignidade, oportunidades e infraestrutura. Em suma, a pacificação duradoura não será alcançada com mais violência policial, mas sim combinando investigação implacável contra o topo e políticas públicas de desenvolvimento social que garantam condições de vida justas para a base da sociedade.


TV Movimento

Encontro Nacional do MES-PSOL

Ato de Abertura do Encontro Nacional do MES-PSOL, realizado no último dia 19/09 em São Paulo

Global Sumud Flotilla: Por que tentamos chegar a Gaza

Importante mensagem de três integrantes brasileiros da Global Sumud Flotilla! Mariana Conti é vereadora de Campinas, uma das maiores cidades do Brasil. Gabi Tolotti é presidente do PSOL no estado brasileiro do Rio Grande do Sul e chefe de gabinete da deputada estadual Luciana Genro. E Nicolas Calabrese é professor de Educação Física e militante da Rede Emancipa. Estamos unindo esforços no mundo inteiro para abrir um corredor humanitário e furar o cerco a Gaza!

Contradições entre soberania nacional e arcabouço fiscal – Bianca Valoski no Programa 20 Minutos

A especialista em políticas públicas Bianca Valoski foi convidada por Breno Altman para discutir as profundas contradições entre a soberania nacional e o arcabouço fiscal. Confira!
Editorial
Israel Dutra | 10 nov 2025

A COP-30 no espelho da situação nacional

A realização da COP 30 na Amazônia coloca novamente a emergência climática no centro do debate público no Brasil
A COP-30 no espelho da situação nacional
Publicações
Capa da última edição da Revista Movimento
A ascensão da extrema direita e o freio de emergência
Conheça o novo livro de Roberto Robaina!
Ler mais

Podcast Em Movimento

Colunistas

Ver todos

Parlamentares do Movimento Esquerda Socialista (PSOL)

Ver todos

Podcast Em Movimento

Capa da última edição da Revista Movimento
Conheça o novo livro de Roberto Robaina!

Autores