PL: uma semana sob cerco
Partido de Bolsonaro acumula operações da PF, apreensão de dinheiro, cassações e avanço de responsabilização contra o golpismo
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
A semana foi particularmente dura para o Partido Liberal (PL) no Congresso Nacional. Em poucos dias, a legenda do ex-presidente Jair Bolsonaro viu seus principais quadros se tornarem alvo de operações da Polícia Federal, apreensão de dinheiro em espécie, cassações de mandato e decisões judiciais que aprofundam o cerco institucional ao bolsonarismo e às práticas antidemocráticas que marcaram os últimos anos.
Na manhã desta sexta-feira, a Polícia Federal deflagrou a Operação Galho Fraco, que teve como alvos os deputados federais Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder do partido na Câmara, e Carlos Jordy (PL-RJ). A ação investiga um esquema de desvio de recursos públicos da cota parlamentar, com apuração de crimes de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Segundo a PF, “agentes políticos, servidores comissionados e particulares teriam atuado de forma coordenada para o desvio e posterior ocultação de verba pública”.
Durante as buscas, a PF apreendeu R$ 430 mil em dinheiro vivo em um endereço ligado a Sóstenes Cavalcante, um dos principais articuladores do bolsonarismo no Parlamento. Os mandados foram expedidos pelo ministro do STF Flávio Dino e cumpridos no Rio de Janeiro e no Distrito Federal. Não houve buscas nos gabinetes parlamentares.
Carlos Jordy reagiu com a retórica já conhecida da extrema direita, acusando o Judiciário de perseguição.
“Hoje, no aniversário da minha filha, a PF fez busca e apreensão novamente na minha casa por determinação de Flávio Dino”, escreveu no X, classificando a investigação como “perseguição implacável”.
Quem são
Sóstenes e Jordy são figuras centrais da ala mais radical do PL. Ambos atuaram ativamente contra o Supremo Tribunal Federal, defenderam pautas golpistas após o resultado das eleições de 2022, atacaram o sistema eleitoral e se alinharam à tentativa de deslegitimação da democracia brasileira. Jordy, em especial, ficou conhecido por discursos agressivos contra ministros do STF e pela defesa de medidas autoritárias sob o pretexto de “liberdade de expressão”.
O desgaste do PL, no entanto, não se restringiu à operação policial. A semana também foi marcada pelo avanço das cassações de parlamentares ligados à trama golpista. Os ex-deputados Alexandre Ramagem (PL-RJ) e Carla Zambelli (PL-SP) tiveram seus mandatos encerrados e estão inelegíveis, em razão de condenações criminais definitivas decididas pelo Supremo Tribunal Federal. Ramagem, condenado a mais de 16 anos de prisão por envolvimento direto na tentativa de golpe, está foragido nos Estados Unidos. Zambelli, condenada por invadir sistemas do CNJ e por porte ilegal de arma, fugiu para a Itália, onde acabou presa.
Na mesma semana, a Câmara também declarou a perda do mandato de Eduardo Bolsonaro (PL-SP), ainda que por excesso de faltas. Embora ele ainda não tenha condenação definitiva, tornou-se réu no STF por coação e articulações internacionais contra o Brasil para tentar livrar o pai da responsabilização criminal. Desde fevereiro, Eduardo está nos Estados Unidos, de onde chegou a afirmar que buscaria “as punições que Alexandre Moraes e a sua Gestapo da Polícia Federal merecem”, frase que aprofundou o isolamento político do clã Bolsonaro.
Para a deputada estadual Luciana Genro (PSOL-RS), o momento representa um marco na responsabilização institucional do golpismo.
“Hoje a Câmara reconhece que quem atenta contra a democracia não pode seguir representando o povo brasileiro. A cassação de mandatos de parlamentares ligados ao golpismo é um passo necessário para romper com a normalização do autoritarismo na política institucional”, afirmou. Segundo ela, a luta precisa continuar: “Seguimos em luta até que todos os golpistas respondam pelos seus crimes, sem anistia ou redução de pena!”.
A sucessão de operações, cassações e decisões judiciais expõe uma semana emblemática para o PL, partido que se consolidou como abrigo político do autoritarismo, do ataque às instituições e, agora, de graves suspeitas de corrupção com dinheiro público. Mais do que episódios isolados, os fatos apontam para o avanço – ainda que tardio – da responsabilização daqueles que tentaram corroer a democracia brasileira por dentro.