Sérgio Moro: o “paladino da ética” em queda livre
Sérgio Moro perdeu a aura, perdeu aliados, perdeu densidade e perdeu credibilidade, restando-lhe apenas a retórica repetitiva de quem tenta sobreviver de um passado já contestado pelos fatos
A política brasileira vive uma fase decisiva, em que máscaras caem e narrativas cristalizadas durante anos começam a ruir sob o peso da realidade. Entre todas as figuras públicas que passam por esse processo, Sérgio Moro é, talvez, o caso mais emblemático. Vendido durante anos como o “paladino da ética”, seu discurso moralista encontrou seus limites na vida real — na política, nas instituições, e agora até dentro das próprias articulações partidárias que tentam viabilizar sua candidatura ao governo do Paraná em 2026.
A decisão do PP do Paraná de rejeitar por unanimidade a candidatura de Moro — provocando um impasse dentro da federação União Progressista (União Brasil + PP) — não é apenas um movimento tático. É um marco político.
É um sinal claro de que Sérgio Moro perdeu a aura, perdeu aliados, perdeu densidade e perdeu credibilidade, restando-lhe apenas a retórica repetitiva de quem tenta sobreviver de um passado já contestado pelos fatos, pela história e até pelo STF.
A desconstrução do mito do “juiz imparcial”
Durante a Operação Lava Jato, Moro construiu para si a imagem de juiz inflexível, rigoroso, inatingível. Mas essa narrativa começou a desabar quando vieram à tona as mensagens, os vazamentos seletivos, as conduções coercitivas sem base legal clara e, principalmente, a parcialidade reconhecida pelo próprio Supremo Tribunal Federal.
A operação que muitos chamavam de “revolução ética” revelou-se, nas críticas de juristas e acadêmicos, como um exemplo típico de lawfare — palavra inglesa que combina law (lei) e warfare (guerra), significando uso da lei como arma de guerra política.
Em termos simples: é quando o sistema judicial deixa de ser instrumento de justiça e passa a ser instrumento de disputa política.
Quando certos procedimentos são usados para fins midiáticos, quando a lei é interpretada em benefício de narrativas seletivas, quando grampos, prisões e espetáculos substituem o devido processo legal, o que se tem não é justiça — é manipulação.
E essa manipulação, tão útil às elites brasileiras no momento em que precisavam quebrar o rumo político do país, hoje cobra seu preço. Porque até quem o utilizou outrora como ferramenta descarta a ferramenta quando ela perde utilidade.
A política rejeita aquilo que não se sustenta
A rejeição do PP não é apenas programática — é simbólica. Demonstra que Moro já não agrega, já não inspira confiança e já não serve nem àqueles que um dia o usaram como símbolo moralista. Ele não unifica, não constrói alianças, não oferece horizonte. Ao contrário: divide, tensiona, cria rachaduras e expõe contradições internas.
O recado é simples e devastador: Moro não terá vida fácil em 2026.
Sua presença assusta aliados, empobrece coligações e enfraquece qualquer projeto político sério que precise dialogar com setores amplos da sociedade.
E isso não acontece por acaso.
Afinal, quem quer se aliar a alguém conhecido por métodos medievais de investigação, por grampos ilegais, por pressões indevidas destinadas a arrancar delações, e por um conjunto de práticas que hoje são motivo de vergonha entre profissionais do direito?
Quem quer caminhar ao lado de alguém cuja principal marca pública é a destruição das regras que garantem justiça imparcial?
O “paladino da ética” que traiu sua própria ética
A ironia histórica é que Moro tentou se vender como defensor da ética, mas sua trajetória política expõe justamente o contrário:
- Quando virou ministro de Bolsonaro, abandonou qualquer pretensão de neutralidade.
- Quando aceitou o cargo, ganhou um prêmio político de quem havia se beneficiado diretamente de sua atuação judicial.
- Quando rompeu com Bolsonaro, não foi por divergência de princípios — mas porque Bolsonaro quebrou a promessa de nomeá-lo para o STF e porque o escândalo da interferência na Polícia Federal o expôs.
Ou seja:
Não foi ética — foi conveniência.
Não foi moral — foi interesse pessoal.
Moro sempre falou como se encarnasse a integridade absoluta. Mas sua prática, seus cálculos e seus movimentos revelaram alguém profundamente condicionado pela ambição e disposto a instrumentalizar sua toga para chegar onde queria.
E quando o projeto pessoal fracassou, restou-lhe apenas a retórica vazia.
Conclusão: que caminho resta a Moro?
A resposta, hoje, parece evidente.
Se Sérgio Moro quiser ser candidato em 2026, terá dificuldade até para encontrar legenda. Os grandes partidos não o querem — e agora isso é explícito. A federação onde está filiado está rachada. O PP tocou a sirene e disse com todas as letras: “Aqui, não.”
Diante disso, o caminho que resta ao ex-juiz é também simbólico: terá de procurar um partido nanico, apagado, irrelevante — um partido tão medíocre quanto sua atuação política.
Porque a verdade é simples e cristalina:
- Moro foi um juiz medíocre, incapaz de sustentar a imparcialidade que deveria defender.
- É um senador medíocre, sem propostas significativas, sem articulação, sem densidade.
- E tornou-se um paladino da ética medíocre, cuja narrativa desabou na primeira prova real de coerência.
Sérgio Moro é o próprio retrato do moralismo que desmorona: fala alto, posa de puro, mas age movido por interesses pessoais. E quando o jogo político exige grandeza, ele entrega apenas contradições.