Por que é um erro o PSOL compor governos petistas no estado de São Paulo
Partido encaminhou participação nos governos de Diadema e Mauá: decisões são grave erro político.
O PSOL encaminhou, recentemente, participação nos governos municipais das cidades de Diadema e Mauá, na região metropolitana de São Paulo. Essa decisão, bastante significativa para um partido como o nosso, está ocorrendo à revelia de um debate com a militância e mesmo com as direções estadual e nacional partidárias. A maior parte dos militantes do PSOL no país, talvez, sequer esteja informada sobre os processos em curso.
Em ambas as cidades se tratam de governos petistas, cujos candidatos receberam o apoio do PSOL no segundo turno, depois do partido ter apresentado candidatura própria no primeiro turno, com Rafaela Boani (Diadema) e André Sapanos (Mauá). Em Diadema, Filippi Júnior (PT) elegeu-se em uma coligação com partidos burgueses como Solidariedade, PL, Avante e Patriota, todos contemplados em seu governo. Já em Mauá, Marcelo Oliveira (PT) não se coligou, mas agora distribui cargos para partidos como PTB e PSL. Nos dois casos, a partir de deliberações tomadas em âmbito municipal, a perspectiva é de que militantes do PSOL assumam cargos tanto no primeiro como no segundo escalão de governo.
O MES considera um grave erro político essas decisões, que precisam ser revertidas, sob pena de abrirem de um grave precedente. Mesmo partindo de casos municipais, o debate em questão é obrigatoriamente nacional e abrange a visão de nosso partido sobre o caráter do Estado, dos governos, além de nossos princípios, programa e estratégia. Também por isso, as correntes que avalizaram essa política — Primavera (nas duas cidades) e Insurgência (em Mauá) — devem ser cobradas em suas responsabilidades.
O PSOL surgiu como uma alternativa à traição de classe e à degeneração do PT que, embora sendo a maior referência da “esquerda” brasileira, ao assumir governos traiu seus princípios, aliou-se com os piores partidos e aplicou um programa político e econômico de caráter burguês no país. É o que ocorre, inclusive, nas administrações municipais ou estaduais petistas, marcadas, por exemplo, pela aprovação de medidas de ajuste, pela colaboração com o grande empresariado e por ataques ao funcionalismo público. Não existe nenhuma possibilidade do PSOL coadunar com esses programas, menos ainda de codirigi-los, assumindo cargos e integrando formalmente administrações.
É certo que a “confusão” a respeito desse debate aumenta na medida em que o país atravessa uma conjuntura dramática, em que as ameaças da extrema-direita são reais. Num contexto em que derrotar o bolsonarismo é a tarefa principal, o raio de alianças do PSOL de fato se amplia, seja em eleições, movimentos ou ações comuns. Entretanto, é preciso ter em mente quais alianças e decisões dizem respeito às nossas táticas e quais à nossa estratégia, que deve ser pautada na mobilização independente da classe trabalhadora e no objetivo de destruição do Estado burguês, e não de sua administração.
Por muitos anos, o PSOL vetou alianças eleitorais até mesmo com partidos como PT e PCdoB. Já atualmente, justifica-se, em alguns casos, a ampliação de nossas alianças eleitorais, inclusive para outras siglas, sobretudo em segundos turnos, quando isso contribui para a tarefa de enfraquecimento objetivo da extrema-direita ou da direita liberal. Mas em nenhum caso isso se relaciona com a composição de governos cujos programas atentam contra nossa estratégia. O partido, inclusive para se postular como uma alternativa cada vez mais viável para a emancipação da classe trabalhadora, deve seguir em sua atuação coerente como oposição de esquerda a tais administrações.
Aqueles ou aquelas militantes que, individualmente, aceitem propostas dessas ou de outras administrações municipais estão no seu direito individual de fazê-lo. Entretanto, para isso, devem se desfiliar do PSOL e deixar de falar em nome do partido. Nas cidades, a orientação que nos representa será sempre a daqueles militantes organizados no seio da classe trabalhadora e de seus movimentos, mantendo-se na luta com independência, inclusive, para enfrentar as medidas dos governos municipais.