O anticapacitismo e a militância elitista

Liberalismo e luta não combinam.

Paulo Fabião 1 mar 2021, 15:05

A luta das pessoas com deficiência teve início na década de 60 nos Estados Unidos com o apoio do lendário grupo dos Panteras Negras. No Brasil, a militância ganhou força a partir de meados dos anos 70. Foi a partir deste período que alguns direitos básicos, porém fundamentais, como: obrigatoriedade de acessibilidade arquitetônica, inclusão de alunos com deficiência nas escolas e cotas trabalhistas foram conquistadas.

Todavia, atualmente, com a popularização das mídias sociais, uma nova onda de militância e militantes anticapacitismo surgiu e pode se dizer, se tornou o principal grupo com voz dentro da luta anticapacitista: os influenciadores digitais.

Ao contrário de outros grupos minoritários identitários que possuem movimentos e organizações bem definidas e podem se solidificar a partir das questões sociais e econômicas a partir do olhar periférico, isso não ocorre quando falamos de pessoas com deficiência. O ativismo anticapacitista se organiza a partir do mundo virtual, o que por si só, já não o torna abrangente como deveria, já que a voz da internet nem sempre, ou quase nunca é, a mesma voz das ruas.

Então a luta anticapacitista cai na perigosa armadilha de outras militâncias virtuais: se torna excessivamente liberal e elitista.

As principais vozes anticapacitista na internet (leia-se com maiores seguidores e engajamento) são pessoas que obviamente sofrem o capacitismo estrutural da nossa sociedade, mas por outro lado gozam de privilégios socio-econômicos que naturalmente tornam o olhar para a pauta menos abrangente e mais raso.

As pessoas com deficiência são 24% (45 milhões) da população nacional, onde apenas 1% de seu total está empregado formalmente. Ou seja, os PCDs são um grupo majoritariamente de baixa renda, o que automaticamente afeta a qualidade de vida, poder de voz social, autonomia e representatividade. Obviamente o capacitismo estrutural ganha força graças a esse massacrante sufocamento socio-econômico.

Mas o que vemos na militância virtual das pessoas com deficiencia é a simplificação do capacitismo estrutural em questões como: “A sociedade acha que a gente não transa”, “Por que as marcas não nos contratam pra fazer publicidade” ou ” Por que não tem pessoas no Big Brother?”
A falta de um olhar amplo e profundo para a questão das pessoas com deficiência feita por seus próprios representantes simplifica uma batalha complexa. Mas como sabemos, nem toda representatividade é coletiva e nem todo mundo que tem lugar de fala sabe o que está dizendo.

A busca incessante por seguidores e por lucrar através de suas redes faz com que as principais vozes anticapacitistas alimentem o próprio capitalismo neoliberal que nos aniquila.

Identitarismo liberal é uma armadilha pra todos os grupos, e não seria diferente com as pessoas com deficiência. Essa prática só serve para tornar as lutas minoritárias mais rasas, fracas e individualizadas.
Devemos aprender com os erros de nossos semelhantes.

Assim, ainda que se posicionem contra Bolsonaro e o bolsonarismo, na prática, abraçando essa militância liberal, a oposição se torna somente nos costumes, pois inconscientemente acaba abraçando a política neoliberal de Bolsonaro e Paulo Guedes. Neoliberalismo que invariavelmente tem como objetivo o aumento das desigualdades e extermínio social de minorias como as pessoas com deficiência.

A experiência da militância antirracista liberal de participantes do atual Big Brother Brasil só serve para desmerecer e enfraquecer luta antirracismo perante a sociedade.

A luta anticapacitista é pequena se comparada às outras, mas a amostragem atual já acontece de forma equivocada. Liberalismo e luta não combinam.


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Camila Souza