NÃO TEM VACINA, MAS TEM CHACINA: O MASSACRE DO JACAREZINHO
Patrick Veiga e Daniel Costa escrevem sobre o massacre do Jacarezinho e cobram por justiça.
A operação policial de hoje no Jacarezinho já é o maior massacre promovido pelas forças de Estado na história do Rio de Janeiro, mesmo sem ter a apuração total do número de vítimas até agora.
Pelos dados já divulgados, são 25 mortos, entre eles, um policial. A população local fala em mais vítimas do que o número divulgado pela mídia e relata o assassinato de vítimas já rendidas.
Às vésperas do dia que marca um ano do assassinato do jovem João Pedro no Salgueiro, nos deparamos com mais uma operação desastrosa da polícia que mais mata e que mais morre no mundo. A chacina que aconteceu hoje, desta vez pela Polícia Civil, foi promovida pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente. Esse é o modelo de segurança pública que o Estado apresenta para os nossos jovens.
O caso do Jacarezinho é mais um episódio da violência cotidiana sofrida pelas populações periféricas no Brasil, as quais vivem em um Estado de Exceção permanente. As invasões à domicílio, abordagens policiais violentas e os tiroteios fazem parte do cotidiano das famílias. Tudo isso, em comunidades desassistidas pelo poder público.
As imagens de trabalhadores e trabalhadoras jogando-se ao chão no trem lotado são emblemáticas. Como se não bastasse a exposição ao vírus no transporte público durante a pandemia por ausência de um programa de auxílio emergencial digno, as pessoas ainda são obrigadas a passar por situações de risco promovidas por essas ações desastrosas da polícia. Enquanto a população pede vacina, o Estado entrega chacina.
A suposta guerra às drogas na periferia é, na verdade, o genocídio da população negra mascarado. No Brasil, além de ser a maioria dos mortos por homicídio, os jovens negros também são a maioria dos encarceirados. É preciso discutir com profundidade o que é racismo estrutural. Apenas um reconhecimento formal do problema pela mídia e pelas instituições de Estado não basta.
O Estado segue avançando com seu projeto racista e genocida. Nem são precisos dados para saber o óbvio: certamente, a maioria das mortes dessa operação são de pessoas negras. Tentam apagar a nossa identidade, e impôr a ideia de que todo preto favelado é um potencial bandido, e veremos nos próximos dias todos os assassinados de hoje sendo chamados de “suspeitos”. Isso acontece, mesmo com vídeos de policias invadindo casas e diversos relatos de abuso policial e assassinato de inocentes. Ainda que não exista pena de morte no Brasil, o Estado conscientemente mata nossas perspectivas, nossos sonhos e nossos corpos.
A declaração da polícia é reveladora: “lá não estavam suspeitos, estavam criminosos”. Claramente, trata-se de um julgamento sumário, sem direito ao julgamento e à ampla defesa. A operação que pretendia prender 21 investigados matou 25, prendeu apenas 6 e feriu dezenas.
O governador Cláudio Castro segue a mesma política genocida de Bolsonaro e Witzel. Vale destacar que um dia antes da operação, Castro esteve reunido com o presidente genocida. Castro precisa responder porque a decisão do STF que restringe as operações policiais nas favelas do RJ durante a pandemia não está sendo cumprida. O prefeito Eduardo Paes precisa se posicionar frente a esse massacre.
Assim como Marielle Franco, perguntamos: quantos mais têm que morrer para essa guerra acabar?
É necessário organizar a luta contra o genocídio da população negra em todos os estados. A denúncia do massacre no Jacarezinho precisa ser internacional. O Juntos está disposto a se somar e a contribuir para a mobilização de todos aqueles e aquelas com disposição de lutar. Não iremos nos calar, nem assistir de braços cruzados.