A última batalha de David
Uma homenagem ao companheiro David Miranda escrita por Honório Oliveira, da direção nacional do MES/PSOL
Após 9 meses de uma duríssima batalha pela vida, David nos deixou. Escrevo essas linhas após me despedir dele no dia de ontem. Com a certeza de que, como para tudo o que queria na vida, lutou até onde pôde.
Nesses 9 meses, foi desenganado 3 vezes e, para o espanto dos médicos, ele voltava e se recuperava. Sua força era extraordinária. Um menino que nasceu na favela do Jacarezinho não nos deixaria sem lutar até o limite.
Conheci David na campanha de asilo para Edward Snowden no Brasil, no final de 2013. Tomamos um café em Ipanema e começamos uma parceria política que durou até 2022. Esses anos poderiam seguramente ser o roteiro de um filme eletrizante. Com David, o improvável era cotidiano. Era difícil de acreditar.
Em 2014, recebemos dele e Glenn o apoio à candidatura de Luciana Genro à presidência. Em 2015, abrimos a Casa da Juventude na Pedra do Sal. No mesmo ano, fizemos parte dos últimos vazamentos do WikiLeaks, que revelaram os grampos telefônicos em todo o primeiro escalão do governo Dilma. Descobri, incrédulo, analisando os documentos, que o telefone do avião presidencial estava grampeado.
Em 2016, elegemos David vereador pelo PSOL. Em 2018, perdemos Marielle. Ela e David eram amigos de bancada, estavam sempre juntos, pareciam até duas crianças alegres. Em 2019, ele assumiu a cadeira de deputado federal e estivemos no centro da Vaza Jato, fato que estremeceu e mudou os rumos do país. Sem ela, provavelmente Bolsonaro seria presidente novamente.
A vida com David era assim, improvável, eletrizante, sem sossego. Em outro momento, tudo isso merece ser contado de forma mais detida.
Sinto saudades das coisas boas desse tempo. Rimos, choramos, lutamos e sentimos orgulho de tudo o que construímos.
Como um evento cósmico, David veio e, da mesma forma, nos deixou. Agora, depois de muito sofrimento, descansa. Sentiremos sua falta para sempre, amigo. Vá em paz.