Vereador de Caxias do Sul mantém mandato após falas racistas
Apesar de apoio popular, Câmara não reuniu votos suficientes para cassar Sandro Fantinel (sem partido)
A Câmara Municipal de Caxias do Sul (RS) rejeitou o pedido de cassação de Sandro Fantinel (sem partido). Em 28 de fevereiro, o parlamentar usou a tribuna da Casa para fazer declarações racistas e xenófobas relativizando o caso de trabalho escravo em vinícolas de Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha. Após a repercussão do caso, ele foi expulso de seu partido, o Patriotas.
Em sessão realizada na terça-feira (16), 13 dos 23 vereadores foram favoráveis à perda de mandato do empresário bolsonarista, mas eram necessários 16 votos para aprovar a medida. Nove parlamentares votaram pelo arquivamento da acusação de quebra de decoro.
Aliviado, Fantinel se disse arrependido e resumiu o episódio a “uma fala infeliz:.
“Eu fiz uma fala infeliz, eu fui infeliz, eu estava num momento infeliz, eu deixei muito claro meu arrependimento, peço novamente desculpas e perdão às pessoas, à comunidade, ao povo que se sentiu ofendido”.
O parlamentar acrescentou que o baque o ajudará a mudar e garantiu que “a ideologia radical não fará parte” do seu cotidiano. Encerrou seu pedido de descupas com uma fala vitimista.
“O que eu posso dizer é que o arrependimento é explícito e para complementar minha fala eu quero dizer o seguinte, não matei ninguém, não estuprei, não roubei, não desviei, não maltratei ninguém e isso está dentro de mim nos meus 55 anos de idade. Nunca fiz isso. Ao contrário de mim, tem gente que fez isso e está livre e que foi perdoado”, comentou.
As declarações
Um forte movimento popular fez com que a Câmara de Vereadores de Caxias do Sul iniciasse o processo de impeachment de Fantinel. Após a libertação de mais de 200 trabalhadores, baianos em maioria – contratados por empresas que prestam serviço às vinícolas Aurora. Salton Garibaldi – mantidos em regime análogo a escravidão em alojamentos insalubres, Fantinel fez pronunciamento sugerindo que se tratavam de pessoas preguiçosas.
“O patrão vai ter que pagar empregado para fazer a limpeza todo dia pros bonito (sic) também? É isso que tem que acontecer? Temos que botar eles num hotel cinco estrelas para não ter problemas com o Ministério do Trabalho?”, disse Fantinel.
O vereador sugeriu que produtores e empresários “não contratem mais aquela gente lá de cima”, e disse dos baianos que “a única cultura que eles têm é tocar tambor na praia”. Fantinel disse ainda a contratação de argentinos que, segundo ele, “são limpos, trabalhadores, corretos, cumprem o horário, mantém a casa limpa e, no dia de ir embora ainda agradecem ao patrão”, sugerindo que os trabalhadores baianos explorados seriam a antítese dessas qualidades.