A despedida de Hugo Blanco
Direto de Lima, um relato sobre as últimas homenagens ao líder camponês peruano Hugo Blanco
Foto: Kevin Puelles
Passava das 16h quando as pessoas começaram a se reunir em frente à sede do “Novo Peru”, na Praça Bolognesi, no centro de Lima. O local foi todo preparado para receber, pela última vez, o corpo do grande líder camponês, militante trotskista, internacionalista, Hugo Blanco.
Velhos companheiros da revolução campesina, militantes trotskistas de diferentes correntes e muitos jovens completavam o público que pacientemente aguardou até as 23h para prestar uma última homenagem a Hugo. Sob aplausos e palavras de ordem, ele foi recebido por centenas de pessoas. O comitê organizador das homenagens permitiu que apenas a família, a CCP e “El Cochero” Henrique Fernández tomassem a palavra em um breve ato político.
Apesar do belo tributo, o ato também foi uma demonstração da disposição da burocracia peruana. Hugo foi um combatente pela reforma agrária e pelos camponeses, fato que explica que mais de 2.500 pessoas o receberam em uma grandiosa homenagem em Cusco, sua terra natal. Porém, mais que um lutador, Hugo Blanco foi um socialista, anticapitalista, anti-imperialista que dedicou 68 dos seus 88 anos à luta contra o regime de opressão e desigualdade vigente no Peru. Foi um rebelde e apaixonado pela causa revolucionária. Se estivesse vivo, estaria convocando às ruas contra Dina Boluarte, chamando o povo, os camponeses e operários a se organizar e derrotar o governo e o parlamento golpista.
Foi sua filha mais velha, Carmen Blanco Valer, que, falando em nome dos filhos que vivem no exterior, quem fez jus à memória do pai. Recordou o Hugo combativo e fez um chamado aos presentes a que lutassem contra Dina e pela democracia somando-se às mobilizações convocadas para 19 de julho. Nós do MES/PSOL estivemos presentes ao lado dos companheiros de Súmate. Participamos da homenagem e recordamos que Hugo Blanco e Guilherme Serpa foram ganhos para o trotskismo ainda jovens, por Moreno, com “Palabra Obrera”, quando Hugo fazia faculdade de Agronomia na Argentina.
Ele, Guillermo, Pedro Fuentes, Tito Prado foram todos contemporâneos e responsáveis pela construção da maior corrente trotskista da América Latina, a corrente morenista, que se despediu na última sexta do seu mais ilustre e combativo militante no Peru.