Como o capitalismo contribui para desastres climáticos
Parlamentares do PSOL discutem como especulação imobiliária e o agronegócio colaboram para enchentes, estiagens e ondas de calor
Foto: Ascom Mariana Conti
O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu um alerta para a chegada de uma onda de calor em praticamente todo o Brasil ao longo desta semana. O Centro-Oeste e o Sudeste são as regiões que devem ser mais afetadas. Porém, de acordo com a Climatempo, o período “muito quente” deve se estender até a primeira semana da primavera, podendo ir até o final do mês em algumas áreas do interior do país. No Sul, porém, o avanço de uma frente fria vai aumentar as áreas de instabilidade nos três estados, com previsão de chuvas mais intensas – especialmente no Rio Grande do Sul, que vive uma catástrofe humanitária em função das cheias desde o início do mês.
A situação evidencia que o país está sob emergência climática, o que exige não apenas reparação de danos, mas a reflexão e a implementação de políticas de proteção ao meio ambiente. Contudo, um dos grandes empecilhos a esse desenvolvimento é a lógica de destruição capitalista. No Rio Grande do Sul, a Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Assembleia Legislativa realizou audiência pública, em parceria com a organização Eco Pelo Clima, para debater o assunto.
A deputada estadual Luciana Genro falou da importância da luta ambiental ter um viés anticapitalista: “uma luta por um outro modelo econômico, outro modelo de vida. Em que o acúmulo de riqueza, de lucro, a devastação não sejam o mote do sistema. Não basta mudar o clima, é preciso mudar o sistema político e econômico”, disse.
O vereador do PSOL em Pelotas, Jurandir Silva, enfatizou que o Brasil é o quinto país que mais contribui com emissão de gases de efeito estufa no mundo, principalmente devido ao agronegócio. Ele também vê conexão entre as enchentes do Estado e a questão ambiental.
“Precisamos falar do desmatamento das matas que ficam no entorno dos rios, porque com esse desmatamento, a água passa com mais velocidade no caso de chuvas fortes. Na metade Sul e na região do Pampa, temos também um problema muito sério com os banhados, que são aterrados devido à especulação imobiliária. E toda a água precisa ir para algum lugar”, aponta.
A sanha destruidora do capitalismo, porém, parece ilimitada. Em Campinas (SP), a vereadora Mariana Conti (PSOL) enviou requerimento de informações ao prefeito Dário Saadi, sobre a existência de um laudo técnico para embasar a “poda” de uma figueira centenária no bairro Barão Geraldo. Além de se tratar de uma árvore de grande valor histórico e cultural para o distrito, a retirada é mais um símbolo da devastação das árvores urbanas.
“A gente tem visto isso por toda a cidade, sob o argumento, que na minha opinião, é bastante oportunista, do risco da queda das árvores. Isso tem justificado a extração de muitas árvores para obras de asfalto. Enfim, obras que vão tornando a cidade mais impermeável, a cidade mais seca, a cidade mais concreta, quer dizer, uma concretização absoluta da cidade. E isso vai na contramão das nossas necessidades, uma vez que nós estamos vivendo essas mudanças climáticas, os efeitos deletérios dessas mudanças climáticas, com ondas de seca, ondas de calor, chuvas extremas, enchentes. E a gente sabe que quem mais sofre com esses efeitos desses eventos extremos das mudanças climáticas são os mais pobres”, observa Mariana.
Na avaliação da vereadora, os últimos governos do município – a gestão Dário, em especial – incentivaram a especulação imobiliária, inclusive permitindo a expansão urbana para todas as áreas rurais.
“Isso cria uma série de problemas. Primeiro, porque quando você tem expansão urbana sobre uma área rural, valoriza as terras, ou seja, os proprietários de terra ganham muito dinheiro. Isso cria um impacto muito grande do ponto de vista do orçamento, porque toda a infraestrutura pública que nessa área de expansão urbana é bancada pelo orçamento, ou seja, pelo conjunto dos moradores. Então é uma forma de privatizar os ganhos e socializar os custos”, salienta.
Mariana acrescenta que todos os estudos que embasaram o Plano Diretor de Campinas mostram que não é necessária a ampliação do perímetro urbano, porque a cidade já tem vários vazios urbanos que poderiam absorver o crescimento populacional. Isso indica que legalizar e oferecer isenção para grandes empreendimentos imobiliários, como Dário vem fazendo, não cumpre o objetivo de ampliar a oferta de moradias.
“Muito pelo contrário, tem gerado carência de moradia, porque a especulação imobiliária, na medida que ela avança, faz subir o custo dos aluguéis. E aí a gente tem visto a segregação social, a população sendo expulsa para as áreas periféricas”, observa.
Além disso, há um grande impacto ambiental sobre a cidade, porque os prédios vêm sendo construídos em áreas verdes, que concentram fragmentos de mata. Reservas, Áreas de Preservação Permanente (APPs] e Áreas de Proteção Ambiental (Apas) também estão em risco.
“A Apa de Campinas, que preserva fragmentos de mata é fundamental para a proteção das nascentes que abastecem o Rio Atibaia, que é responsável pelo abastecimento de 95% da população de Campinas. Então, a gente tem visto aí o governo Dário com essa política de favorecimento da especulação imobiliária, de expansão urbana sobre as áreas verdes, com alto impacto sobre o meio ambiente e sobre os nossos fragmentos, na contramão do que é necessário para que a gente possa ter cidades que possam resistir aos efeitos das mudanças climáticas”, finaliza Mariana.
*Com informações das assessorias dos mandatos Luciana Genro e Mariana Conti.