Em apoio ao chamado de Gustavo Petro, abrir caminhos
Gustavo Petro faz um chamado para que a América Latina se levante contra o colonialismo do Estado de Israel
Em meio à escalada sangrenta contra Gaza, o presidente colombiano fez um chamado para que a América Latina se levante contra o colonialismo do Estado de Israel, que ameaça os povos do mundo. O chamado decidido de Gustavo Petro à luta em defesa do povo palestino, pelo cessar-fogo imediato, é um exemplo de solidariedade internacional que deve ser seguido, acumulando forças contra o colonialismo do Estado de Israel e o imperialismo do ocidente que o sustenta.
O Estado de Israel atacou às posições de Petro, classificando-as como “hostis e anti-semitas”, além de ter convocado o retorno da embaixadora na Colômbia e suspendido as exportações para o país sul-americano. O presidente colombiano respondeu da seguinte forma, em sua rede social:
«Se tivermos que suspender as relações externas com Israel, nós as suspendemos. Não apoiamos o genocídio. “O presidente da Colômbia não se sente insultado”. “Apelo à América Latina para que demonstre verdadeira solidariedade com a Colômbia. E se não for capaz, será o desenvolvimento da história que dirá a última palavra, como na grande guerra do Chaco”,
Sem baixar a guarda, dentro dos líderes de Estado do chamado “mundo ocidental”, Petro é o que tem tido a postura mais correta e altiva, abrindo um novo patamar na sua relação como referência política. Isso se dá no marco da ofensiva sobre Gaza que, com a ida de Biden para Israel, um dia depois da agressão contra o hospital que matou 500 pessoas, ganha novos contornos.
Petro, vanguarda na luta continental
A eleição de Petro foi fruto de um processo ímpar. Nós estivemos e estamos acompanhando o chamado “processo colombiano”, inclusive com a presença de dirigentes do MES, como eu e Luana Alves. O processo colombiano está marcado por sua singularidade, diante de uma complexa situação: por um lado o esgotamento do processo anterior, por outro a resiliência da extrema-direita, diante da crise geral que marca a situação mundial. Petro, com sua vice, Francia Marquez, expressou o ascenso popular e juvenil que teve como ponto alto a greve geral política que mudou a situação nacional. Esse levante quebrou o regime anterior, o mais reacionário do continente, abrindo caminho para uma nova situação.
Há três temas que vem notabilizando o governo Petro e Francia como vanguarda na luta política: a questão dos povos originários e afro-colombianos, com Francia Marquez como protagonista; a questão ambiental e o método de mobilização popular para sustentar as medidas progressivas do governo.
A questão da paz, tema candente na Colômbia, ganhou contornos distintos com a defesa dos direitos e territórios das comunidades originárias e afro-colombianas, com a presença da vice Francia Marquez a frente das discussões, uma mudança de paradigma histórico. Francia cunhou a consigna “viver sabroso”.
Essa mudança veio acompanhada de uma postura distintiva de Petro diante da crise ambiental, como a que expressou em reuniões internacionais, lutando contra o aquecimento global e o desenvolvimentismo extrativista. Petro, na Cúpula da Amazônia e na ONU, instou os países a discutir necessidade de uma luta coerente para a reduzir a emissão de carbono, de forma muito altiva enfrentando o lobby das corporações petroleiras.
Em relação ao pacto de governabilidade, que Lula e outros governos de corte social-liberal utilizam como justificativa para não avançar em seu programa, Petro também inovou. Até aqui, ainda que com contradições, tem apostado em chamados às ruas para governar. Na contramão da visão que setores da esquerda mundial -como Syriza e Podemos- de buscar compromissos com setores da burguesia e apoiar governos de centro-esquerda como “mal menor”, Petro está se apoiando no método de mobilização.
Um ponto de apoio para uma etapa superior da luta política- e ideológica
Em que pese a posterior derivação burocrática do processo venezuelano, aprofundada pelo governo Maduro, temos nitidez que Chávez cumpriu um papel progressivo do ponto de vista da luta de ideias. Com sua prematura morte em 2013, o espaço à esquerda nos debates da ONU e dos espaços institucionais foi esvaziado.
Com uma outra trajetória e sob outras circunstâncias, Petro pode assumir esse papel. Sua postulação sobre o massacre em curso pode ser um salto de qualidade nessa direção. A questão Palestina hoje e a luta contra o apartheid é a mais importante da situação política. O epicentro, podemos afirmar.
As posições adotadas no cenário internacional dividem águas. O primeiro-ministro da Escócia, HumZa Yousaf, que tem parentes próximos isolados em Gaza nesse momento, adotou um discurso progressivo, assumindo que Escócia pode receber refugiados palestinos. E o ex-presidente da Bolívia, Evo Morales, exigiu que seu governo rompa relações e encabeça a luta pelo cessar-fogo imediato.
Do outro lado, há uma coalizão que une a extrema-direita mundial, a ala dura do sionismo, Biden e Sunak, que sustenta a linha de Netanyahu, ao menos até agora. A ONU, por sua parte, como foi visto pela ação da diplomacia brasileira, quer uma solução mediada para o conflito.
De imediato é preciso construir as coordenadas para um programa de urgência, se apoiando nas massas que se mobilizam em todo mundo para pedir que pare o massacre. Isso gera uma polarização na esfera política, nas redes e nas ruas. A máquina de propaganda da direita sionista quer disputar a narrativa e perseguir lideranças que vocalizam os direitos dos palestinos, como faz com Luciana Genro do PSOL, com Rashida Tliab do DSA e Myrian Bregman da FITU Argentina.
Essa aposta na mobilização, que precisa ser consolidada, pode vir a ser um ponto de apoio para uma etapa superior na luta política e na tão necessária, luta ideológica. Não sabemos qual a dinâmica que Petro finalmente assumirá, com inúmeras contradições. Porém, sua posição decidida sobre o massacre, coloca sobre Petro novas responsabilidades. Como em outros momentos históricos, os acontecimentos de Gaza e seus desdobramentos, novamente reorganizarão os polos da esquerda mundial, separando um setor vacilante e a esquerda que não teme em dar nome às coisas. Por isso, estamos com a resistência palestina, na luta mais importante de nossos dias.