Rosário (ARG) – Conversatório, julgamento Villazo, papel do PST e luta operária
Na segunda, 19, aconteceu a segunda audiência de julgamento dos crimes contra a humanidade sofridos pelos metalúrgicos e trabalhadores na greve de Villa Constitución
Na segunda-feira, 19 de fevereiro, o julgamento por crimes de lesa-humanidade no contexto do caso conhecido como o Villazo foi retomado nos Tribunais Federais de Rosário, uma façanha operária que marcou a história das lutas operárias na Argentina dos anos 70.
Nesse contexto, no domingo, 18 de fevereiro, no Centro Cultural “Revolução Socialista” do MST de Rosário, ocorreu um encontro entre jovens, professores, ativistas sindicais, ex-companheiros do antigo MAS e estudantes de Villa Governador Gálvez para discutir sobre Luta Operária, o papel do PST (partido antecessor do MST) e a repressão estatal nos anos 70.
Apresentado por Jimena Sosa, dirigente regional do MST, participaram do conversatório dois militantes históricos que testemunharam no julgamento na segunda-feira. São eles José Moya “Chiquito”, operário metalúrgico, escritor, torneiro e naquela época militante operário do PST; e Pedro Fuentes, que militou na Palabra Obrera, dirigente do PST, militante internacional, atualmente no MES no PSOL do Brasil. Também participaram Oscar “Pacho” Juárez, atual demandante no julgamento, e outro protagonista do Villazo, Zenón Sánchez, militante operário da lista Marrón, do ERP, que junto com Pacho Juárez são parte ativa na divulgação da causa Villazo.
Chiquito Moya
Pedro Fuentes e Pacho Juarez
Deixaram saudações ao convite Carlos Ghioldi, ex-militante do MAS e atual líder da Toma; Daniel Jozami, morador que participou dos protestos em Villa em 1975, e Carlos Carcione, líder nacional do MST.
Num clima de efervescência social e política, os operários metalúrgicos de Villa enfrentaram demissões, perseguição e repressão paraestatal. Seus testemunhos, experiências e ensinamentos são vitais para estes tempos.
José “Chiquito” Moya nos contou sobre sua militância ao lado de Pacho Juárez, que acrescentou sobre o sequestro em Villa a carta que escreveu a Pacho com a linha para intervir: “Vamos à greve até que a fábrica esteja coberta de teias de aranha”, recordavam e se emocionavam.
Por sua vez, Chiquito nos contou anedotas de sua militância na cidade de Rosário durante a época da ditadura que estão escritas em seu livro “Sonhos em Vermelho e Preto”: “Era o final de março de 1976. E o golpe anunciado tinha surpreendido a todos no partido. Eu tinha ficado sem palavras naquela primeira reunião apressada… O grupo era composto por companheiros jovens. Eu era o único que tinha vivido a ditadura do final dos anos 60. Eu disse: ‘Se o governo de Onganía foi realmente obscuro, este da Junta vai ser…’- perguntei a uma professora ao meu lado: ‘O que é mais obscuro que o obscuro?’ A garota me devolveu um sorriso silencioso e patético – e disse VIDELA. Bem… isso!”
Pacho Juárez mencionou como foi participar do plenário no Club Riberas del Paraná, convocado em 20 de abril no campo de futebol do clube de Villa. Milhares de delegados e ativistas de todo o país se reuniram com os metalúrgicos que derrotaram Lorenzo Miguel. Destacados líderes sindicais, os mais reconhecidos do sindicalismo combativo estavam presentes: o anfitrião Alberto Piccinini, Agustín Tosco de Luz y Fuerza Córdoba, René Salamanca do SMATA Córdoba, Ferraresi de Farmácia, Jaime da CGT Salta, Jorge Mera do Banco Nación, entre outros.
Nas palavras de Pedro Fuentes, o conversatório expressou com grande entusiasmo que: “…o julgamento coloca no seu devido lugar o que foi Villa Constitución e também é importante levar essa história para o Brasil e para os nossos militantes, para que conheçam mais e aprendam com a luta de classes e se tornem mais internacionalistas, e também a reivindicação de toda a nossa corrente histórica, que foi o morenismo. Não se trata de repeti-lo como um livro; mas de manter viva essa tradição, essa paixão pela luta de classes, paixão pela organização dos trabalhadores, paixão pelo estudo do marxismo, paixão pela ação”.
Foram escritas e publicadas várias páginas sobre o Villazo e a atuação das diferentes organizações na década de 70. Esses testemunhos são uma contribuição indispensável para a nossa formação partidária, mostrando como nossa corrente foi forjada, lutando convencidos de que vale a pena qualquer sacrifício para transformar tudo. Suas lembranças, suas anedotas e conclusões nos encorajam, nos dão oxigênio e, acima de tudo, renovam nossa paixão pela construção do partido com e para a classe trabalhadora.
Foi realizada a segunda audiência
Na segunda-feira, 19, ocorreu a segunda audiência do processo sob a responsabilidade do Tribunal Oral Federal N°1 de Rosário, composto por Germán Sutter Scheneider, Ricardo Moisés Vásquez e Otmar Paulucci. O promotor geral Adolfo Villatte está envolvido. Trata-se de um julgamento oral e público, onde os testemunhos das vítimas, sobreviventes e familiares se estenderão ao longo de todo o ano. Cada testemunho é um passo forte em defesa da memória, verdade e justiça.
No julgamento estão sendo julgados mais de vinte réus e mais de 69 casos de homicídio, privação ilegal de liberdade e associação ilícita, cometidos contra 67 vítimas a partir de 20 de março de 1975 nessa zona industrial, em resposta à histórica mobilização operária conhecida como “El Villazo”.
Desde o MST no FIT Unidad, acompanhamos esta audiência, junto com a militância e importantes líderes de nossa organização.