A indicação do vice de Nunes e as opções da direita paulistana
As possibilidades de candidatura a vice do prefeito de São Paulo e suas consequências
Foto: Agência Brasil
O acirramento da disputa eleitoral na capital paulista está explícito. Faltando pouco mais de dois meses para a abertura oficial da campanha, os espaços de preparação da eleição escalam, com novas rodadas de pesquisa confirmando a renhida disputa entre Boulos e Nunes, desde o primeiro turno. Na última Datafolha, Boulos e Nunes aparecem na dianteira, com 24 e 23%, respectivamente. Em seguida, oscilando entre 8 e 7% , pontuam Tabata Amaral, José Luiz Datena e o “coach” Pablo Marçal, deprimente novidade da constelação direitista no pleito municipal. Nota-se, contudo, uma diferença grande, em relação ao cenário da pesquisa do Instituto Atlas e da CNN, onde Boulos chega a 37% contra 20 % de Ricardo Nunes.
Para além das pesquisas, contudo, Nunes quer consolidar uma estratégia de campanha que possa driblar o desgaste acumulado por sua gestão, alinhando-se cada vez mais com Bolsonaro e com Tarcísio. (ver artigo Nunes conversão à direita). Um óbvio lugar comum que o leva a atitudes como o reforço à pauta privatista – vide o show de horrores que foi a sessão na câmara municipal que tratou da venda da SABESP – e sua não participação na parada LGBTQI, uma das maiores atividades de rua desse tipo do mundo.
Dentro desse cenário, a escolha do vice do atual prefeito, que deve ser tomada em alguns dias, eivada de polêmicas e disputas, indica quais setores e estratégias estão em luta dentro do condomínio da extrema direita paulistana.
Na Folha, na coluna Painel, o jornalista Fábio Zanini comentou que “o fortalecimento do nome do coronel da reserva Ricardo De Mello Araujo, do PL, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para vice de Ricardo Nunes (MDB) na eleição para a prefeitura de SP gerou revolta em lideranças do PP”.
Os nomes que estão levantados- alguns já previamente descartados – ilustram o perfil que Nunes precisa dar a sua jornada. Vejamos: Ricardo de Mello Araujo, Sonaira Fernandes, Delegado Olim e a Delegada Raquel Galinatti. O ainda favorito Ricardo de Mello Araujo representa a ostensividade da visão policialesca, exibindo como distintivo sua trajetória à frente da ROTA.
Sonaira Fernandes conta a seu favor a capacidade de articulação política ideológica, sendo uma bolsonarista que circula bem em diversas esferas da sociedade, sendo vereadora e secretária de governo de Tarcísio, chegando a se apresentar como “Damares de São Paulo”. Seria uma aposta na renovação por um lado, e por outro no reforço da agenda ideológica.
Como parte da “bancada da segurança pública”, dois delegados correm por fora: Olim e Raquel Galinatti, considerados opções para manter as pontes com a centralidade da “agenda dura” no caso da segurança pública.
Antes chegaram a ser cogitados Milton Leite e Aldo Rebelo, que indicam as outras facetas que compõem o arranjo de Nunes para vencer a eleição.
Leite, todo-poderoso da Câmara de SP sofreu um duro golpe, com denúncias que vieram a público, chegando a ter seu sigilo quebrado. Como um experiente dirigente político que controla o parlamento e tem muito peso sobre o poder local, Milton Leite, rebateu, em nota, acusações de envolvimento com o esquema de lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC) por meio de empresas de ônibus.
Aldo é a conversão patética de um dirigente oriundo do PCdoB num colaborador direto da extrema direita. Suas posições nacionalistas foram derivando em posições extremamente conservadoras, chegando ao cúmulo de cultivar a relação direta com Bolsonaro, com direito à presença do ex-presidente genocida no lançamento de seu livro.
A escolha da candidatura à vice de Ricardo Nunes ilustra a constelação mais geral por onde passa a articulação da direita paulistana, numa eleição que vai polarizar a política na cidade de São Paulo nos próximos meses. Envolve diretamente a disputa com Tarcísio para se credenciar como nome viável à futura disputa presidencial.
Para parar a mão da extrema direita, é necessário derrotar eleitoralmente Nunes e construir um ambiente político na sociedade para reforçar as nossas ideias, no âmbito político e programático. A campanha de Boulos terá esse desafio, sendo apoiada e observada por dezenas de milhares de ativistas que estão ávidos para derrotar o projeto de Nunes que é o projeto de Bolsonaro. A campanha de Luana Alves, que já vem cumprindo um destacado papel de oposição combativa na câmara, ao lado do conjunto da bancada do PSOL, será uma caixa de ressonância a serviço do enfrentamento à direita paulistana.