Maioria dos trabalhadores é a favor da taxação de grandes fortunas
Estudo “As Classes Trabalhadoras” fez um levantamento da percepção dos brasileiros sobre trabalho, direitos e renda
Imagem: Reprodução
O estudo “As Classes Trabalhadoras”, do Centro de Análise da Sociedade Brasileira (CASB) – parceria das fundações Perseu Abramo, Lauro Campos e Marielle Franco, Maurício Grabois e Rosa Luxemburgo -, revelou que apenas 20% dos brasileiros são contra a taxação de grandes fortunas.
Conforme os dados apresentados na última sexta-feira (9), 53% são a favor do imposto, 16% não concordam nem discordam e 12% não sabem ou não responderam. Mesmo entre os eleitores bolsonaristas, 40% concordam com a medida, 20% não concordam nem discordam, 33% discordam e 9% não sabem ou não responderam.
Prevista na Constituição de 1988, o tributo aos supericos nunca saiu do papel, e o Congresso Nacional leva o tema em banho-maria. Em 2008, a deputada estadual Luciana Genro (PSOL), à época no parlamento federal, apresentou um projeto de lei para aplicar a taxação sobre fortunas acima de R$ 2 milhões. O texto aguarda apreciação do plenário desde 2012.
Outros resultados
A pesquisa “As Classes Trabalhadoras” visa entender as mudanças do mundo do trabalho no contexto da sociedade brasileira. Para tanto, o estudo foi organizado em duas fases. A primeira, qualitativa, ouviu presencialmente 14 grupos focais formados por trabalhadores de empresas de plataforma da Grande São Paulo (motoristas, entregadores e profissionais dos ramos de beleza, cuidado e limpeza). A segunda, quantitativa, contou com 4.017 entrevistas, com pessoas economicamente ativas entre 18 e 55 anos em todo o país.
Os participantes foram questionados sobre variados temas que envolvem o mundo trabalho, com resultados interessantes – como o que indica que a glamourização do empreendedorismo perde força entre os trabalhadores: 67% deles se identificam como trabalhadores e somente 4% se declaram empreendedores;.64% das pessoas que atuam por conta própria têm medo de ficarem incapacitadas ao trabalho.
A valorização dos direitos trabalhistas está em alta. A grande maioria (79%) gostaria de ter acesso ao FGTS e 69% ao seguro-desemprego; 19% nunca participaram de sindicatos, mas gostariam de ter a experiência e 33% estariam dispostos a fazer contribuição financeira a alguma entidade sindical.
“A ideologia do empreendedorismo parece que está perdendo força e a percepção de ascensão social das pessoas se dá pela renda”, explica a coordenadora da pesquisa, Jordana Dias Pereira.
Para a pesquisadora Adriana Marcolino, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o estudo tem uma aderência com o quadro global de precarização do trabalho, “dialogando com políticas públicas como a valorização do salário-mínimo”.. Ela ressaltou ainda que os números levantados sinalizam um desafio aos sindicatos:
“A questão não é não sindicalizar o trabalhador, mas sim pensar nas novas estratégias para trazer esse trabalhador para essa esfera.”
*Com informações da Fundação Perseu Abramo