Belo Horizonte: Nenhum voto em Engler!
O segundo turno na capital mineira apresenta um cenário ruim para o povo: de um lado, Fuad Noman, atual prefeito do PSD, do outro, Bruno Engler, candidato do bolsonarismo
Foto: PBH/Reprodução
Estamos agora diante de uma campanha eleitoral de segundo turno em Belo Horizonte. Um cenário ruim para o povo: De um lado, Fuad Noman, atual prefeito de Belo Horizonte, do PSD, partido de Gilberto Kassab. Do outro, Bruno Engler, candidato do bolsonarismo, que teve como cabo eleitoral Nikolas Ferreira. Esse cenário, porém, não está isolado de uma conjuntura nacional. Recentemente, o Secretariado do MES (corrente interna do PSOL) apontou um diagnóstico: o regime político brasileiro apresenta um processo de aprofundamento do clientelismo através das milionárias emendas parlamentares que ampliam a influência do chamado centrão (lê-se direita) nas cidades brasileiras, ao ritmo em que o Bolsonarismo, com seu plano ousado de atingir 1.000 prefeituras, esteve longe dessa meta mas ainda confortável para apresentar seu projeto político que ainda disputa cidades importantes: a exemplo de Belo Horizonte.
Fuad é um conhecido aplicador de programas de retiradas de direitos, conhecido dos “políticos tradicionais”, dos quais ajudou especialmente na gestão de Antônio Anastasia, do PSDB. Foi o prefeito que autorizou o aumento da passagem do ônibus; que está em vias de atingir, até o fim deste ano, a acintosa marca de doação de mais de 1 bilhão de reais em subsídios às empresas de ônibus em apenas 2 anos de Governo (austeridade para quem?!); que em meio a uma crise global do clima foi parte da autorização do evento da stock car na Pampulha, que impactou a arborização da cidade e impactou as pesquisas pela corrida ocorrer nos arredores do hospital universitário da UFMG. O prefeito que encanta, de forma equivocada, parte de setores progressistas, mas é aquele que autoriza a retirada de adesivos do Centro de Referência LGBTQIAPN+ por pressão dos conservadores; que sancionou lei que visa restringir o acesso das pessoas transgêneros a banheiros compatíveis com sua identidade de gênero; que trata os servidores da prefeitura como inimigos, negando-lhes reajuste dignos, e ainda propôs uma agressiva Reforma da Previdência Municipal, que felizmente não teve êxito por enquanto. O prefeito que não enfrentou nenhum dos representantes dos grandes empresários belorizontinos, pelo contrário, agiu para maximizar sua expressão e ampliação na cidade. É o mesmo prefeito que estava no exército durante a ditadura e que menciona o golpe de 64 como “Revolução”.
Bruno Engler, por outro lado, para além de querer aplicar um pacote de retirada de direitos semelhante, é parte do avanço de um um projeto neofascista no Brasil, de destruição do pouco de democracia que conquistamos duramente ao longo de anos. Não se esconde em dizer que é parte do legado do negacionismo, do conservadorismo e do ataque aos direitos do povo. Foi eleito Deputado Estadual, protocolou leis contrárias à vacinação, propondo a cloroquina como método de combate à covid. Propõe o avanço das escolas militares e é um grande apoiador do projeto de privatização das escolas estaduais. Apesar de se apresentarem em candidaturas diferentes, é certo dizer que Bruno Engler, ainda que mais radicalizado que Romeu Zema, consegue construir sínteses quando o assunto é a privatização e o conservadorismo.
Ambas candidaturas postas no segundo turno não podem contemplar os trabalhadores, nem mesmo as minorias sociais. Mas não estamos confortáveis para dizer que o cenário seria o mesmo independente do vencedor do pleito. Em razão da ameaça neofascista representada por Bruno Engler, frente a uma crise de regime de interregno político, é necessário votar pelo velho mundo, aquele que já conhecemos, para que através dele, apostando nas lutas dos movimentos sociais, na mobilização e da articulação de base, através de um programa político que consiga carregar os direitos do povo, possamos trabalhar para a construção de uma sociedade e um mundo radicalmente diferente – mais à esquerda, muito à esquerda deste. Em suma, é preciso, em primeiro lugar, derrotar o radicalismo à direita para que possa haver espaço no futuro para um projeto radical à esquerda.
Para paralisar seu projeto e mais uma vez derrotar a extrema-direita nas urnas, sem ilusões com a direita tradicional, nenhum voto a Bruno Engler.