Chico Mendes, 80 anos de um ecossocialista
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Chico Mendes, 80 anos de um ecossocialista

Uma reflexão sobre o 80º aniversário de nascimento do líder seringueiro

Arlindo Rodrigues e José Correa Leite 16 dez 2024, 16:21

Foto: Arquivo Memorial Chico Mendes

Introdução

Aqueles que atiraram no Chico erraram o alvo, perderam o tiro. Aqueles que pensam que o mataram, na verdade, tornaram-no imortal” (Gumercindo Rodrigues)

Este texto busca contribuir para que o 80º aniversário de nascimento de Chico Mendes seja mais um momento de reflexão sobre sua luta, seus sonhos e seu legado. Essa grande referência ecosocial brasileiro construiu uma história que é referência para a ecologia política mundial e em especial, o ecossocialismo global. Foi um dos primeiros brasileiros a associar luta social com responsabilidade ambiental, pois para ele, “ecologia sem luta de classe é jardinagem”1. Ele tinha a convicção de que era necessário preservar a Amazônia para todos os povos e que a autoemancipação dos seringueiros deveria ser construída a partir da sua integração aos demais povos da floresta e à própria Floresta Amazônia.

Sua principal ferramenta política era o diálogo e esse estava presente como orientador nos empates. Essa forma de resistência e intervenção social nos casos de ataques de milícias ruralistas às comunidades rurais do Acre envolvia toda população, nesse caso, as crianças, os idosos e as mulheres lideravam a linha de frente das ações, cuja intenção era evitar os tiros e a violência dos trabalhadores contratados contra os outros trabalhadores, seringueiros. A única arma da população nos empates era a força do convencimento das palavras e sentimentos.

Chico Mendes era de uma família de seringueiros, sua trajetória foi marcada pela herança das condições opressoras impostas pelos fazendeiros. Os seringueiros foram inseridos na floresta amazônica com a ilusão de vida melhor que a sofrida rotina do sertão nordestino, porém a realidade encontrada foi outra. As trabalhadoras e trabalhadores buscaram sua sobrevivência nos seringais da Amazônia na segunda metade do século XIX, a realidade abandonada por esse povo foi das longas estiagens e da gripe de 1877, causadora de mais de cem mil mortes (MARTINS, 1998, p. 13).

Porém, na sua busca de melhores condições de vida, essa população encontrou condições de trabalho em situação análoga à escravidão, em um cenário detalhado por Euclides da Cunha (2006) no início do século XX. Nessa crise humanitária, Chico Mendes soube sintetizar a sabedoria dos Povos da Floresta apontando para uma outra lógica de organização social e a difundindo para o planeta.

Chico Mendes, o despertar pela educação

Chico Mendes nasceu em 15 de dezembro de 1944, em Xapuri no Acre. Filho de Francisco Alves Mendes e de Maria Rita Mendes, ele iniciou seu trabalho como seringueiro aos nove anos e foi alfabetizado aos 20 anos (Grzybowski, 1991, p. 10). Ele soube apreender lições fundamentais para a sua trajetória, seja pela transmissão de conhecimento do seu professor Távola, seja pela sua vivência dos sucessos e fracassos nos movimentos sociais.

Uma lição fundamental para a trajetória de Mendes foi aprender a ler e ouvir notícias com o auxílio do exilado político, Euclides Fernando Távora. Euclides era oficial do exército quando participou da Coluna Prestes, por essa militância, foi preso e enviado para o presídio da ilha de Fernando de Noronha. Após ser solto por influência do seu tio Juarez Távola, ele seguiu para a Bolívia onde se engajou no Partido Comunista Boliviano, trabalhando com o movimento operário. Por consequência de sua militância, ele foi perseguido e obrigado a voltar à clandestinidade. Acabou se refugiando na selva perto da fronteira entre Brasil (Acre) e Bolívia e para sobreviver, aprendeu a fazer a borracha com os seringueiros (MARTINS, 1998, p. 87-88).

Os ensinamentos do “professor” Távola destacavam a relevância da militância sindical e a possibilidade da futura reestruturação dos sindicatos no Brasil, pois “apesar de derrotados, humilhados, massacrados, as raízes nunca se acabaram, elas sempre germinam; por mais atacadas que sejam, elas germinarão mais tarde” (Grzybowski, 1991, p.64). Assim, uma lição deixada por Távola foi que a militância no movimento sindical era fundamental, mesmo no caso de sindicatos chamados pelegos, porque o ingresso de militantes combativos estabelece as bases para espalhar as “sementes da liberdade” (GRZYBOWSKI, 1991, p. 64).

Não há muitas informações sobre Euclides Távola, pois ele queimava tudo que anotava e, em julho de 1965, foi à cidade para checar se seu emagrecimento era um processo de úlcera e nunca mais voltou (Martins, 1998, p. 88), contudo suas lições evoluíram na práxis de Chico Mendes. Em entrevista à CUT no 3º Congresso em 1988, Mendes lembrou de alguns ensinamentos de Euclides: “hoje os trabalhadores estão sendo rechaçados, mas por maior que seja o massacre sempre existirá uma semente que renascerá e aí você terá que entrar, mesmo que seja daqui a oito, dez anos” (MARTINS, 1998, p. 88).

Com o conhecimento adquirido nas suas aulas, Mendes descobriu que sua família e os demais seringueiros eram manipulados pelos comerciantes da fazenda: o valor da metade da produção de um ano de borracha pagava a conta na venda do seringalista e o lucro gerado seria a outra metade, porém, nas contas do seringalista, o trabalhador estava sempre devendo (Martins, 1998, P. 89). A lição foi que a eterna dívida do mercado do patrão era ferramenta de opressão, e a liberdade deveria ser construída com a ruptura do monopólio da venda aos seringalistas. A opção inicial foi o comércio com os marreteiros, pequenos comerciantes, para comprar mais barato pagando com borrachas (MARTINS, 1998, p. 89).

O segundo marco na formação de Chico Mendes foi o convívio com sindicalistas, em especial o Wilson Pinheiro, sua avaliação dos sucessos e a desmobilização do sindicato após a morte do Pinheiro esteve presente nas ações posteriores de Mendes.

Aprender na militância

Wilson Pinheiro foi a primeira liderança na direção do sindicato de Brasiléia, Acre, cujo mandato foi no período de 1978 e 1979. Foi na sua coordenação que os empates foram generalizados por toda a região (GRZYBOWSKI, 1991, p. 18-21).

O empate é uma forma de manifestação ao mesmo tempo pacífica e de forte impacto. Sua ação é liderada pela direção do sindicato e composta por centenas de seringueiros com suas mulheres, crianças e velhos. Os empates são mobilizados a partir da denúncia de desmatamento, seu primeiro passo é a reunião das comunidades, principalmente as afetadas, em assembleia na mata para definir a liderança e o grupo que ficará na frente das foices e motosserras. As mulheres e crianças costumam sair na linha de frente com bandeira para evitar a recepção do grupo à tiros pelos “seguranças” e policiais a serviço dos fazendeiros. As armas dos empates são os discursos educativos alertando da importância da manutenção da floresta e as consequências de seu desmatamento para todos os peões responsáveis pelo cumprimento de ordens. A proposta do método é sensibilizar o peão, responsável pela ação do desmatamento, pois, para os seringueiros, apesar de ser o representante da ação opressora, o peão é um ser humano “simples, indefeso e inconsciente” (Martins, 1998, p. 26). O convencimento dos peões muitas vezes provocou a adesão dos próprios peões nos empates (GRZYBOWSKI, 1991, p. 38).

A fama e notoriedade de Wilson Pinheiro foram construídas com a mobilização e liderança de 300 seringueiros que, com apenas facões e enxadas, expulsaram de pistoleiros, armados com rifles, que estavam ameaçando os posseiros na Boca do Acre. Porém, essa vitória gerou o seu julgamento e condenação à morte pela “corte” dos fazendeiros. No dia 21 de julho de 1980, Wilson Pinheiro foi morto por dois pistoleiros na sede do sindicato de Brasiléia. Sua morte aumentou a situação de conflito na região: inconformados com a percepção da falta de ação da Justiça, os seringueiros fuzilaram um dos fazendeiros acusados de envolvimento na morte de Wilson, Nilo Sérgio. Entretanto a ação da “Justiça”, para a reação dos seringueiros, foi ágil: prendeu e torturou centenas de seringueiros. Com a morte de Wilson Pinheiro e a repressão do Estado, o movimento dos seringueiros na Brasiléia perdeu força (GRZYBOWSKI, 1991, p.19-20; GRZYBOWSKI, 1991, p. 42).

O sindicato de Xapuri assumiu a liderança dos movimentos dos seringueiros com a coordenação de Chico Mendes. Esse sindicato foi fundado em 1977 com aprendizado da experiência de Brasiléia, e sua organização buscou ampliar a participação dos trabalhadores. O modelo de diálogo do sindicato aplicava o aprendizado de Chico Mendes junto às comunidades de base, iniciado em 1973 (GRZYBOWSKI, 1991, p. 20-21).

Chico Mendes, por influência das propostas libertadoras dos padres, aderiu às Comunidades Eclesiais de Base, usufruindo do espaço de convívio e diálogo com os religiosos e fiéis comprometidos com a superação da pobreza e opressão. Essa relação permitiu que o Sindicato pudesse funcionar no terreno da Igreja (GRZYBOWSKI, 1991, p. 20-21).

Para aumentar e melhorar a participação de todos nos diálogos e decisões, o sindicato investiu na educação da população trabalhadora. A formação e estruturação de condições para geração de novas lideranças e uma ampla participação de todos foram preocupações importantes nas práxis de Chico Mendes. Essa educação foi uma ação para despertar a conscientização da população oprimida. Inicialmente foi criada a cartilha Poronga com apoio CEDI – Centro Ecumênico de Documentação e Informação e diversos grupos de universitários. A cartilha foi aplicada nos cursos, que eram ministrados por professores eleitos pela própria comunidade. Para Mendes: “Poronga é a luz que o seringueiro usa e coloca na cabeça para caminhar na selva” (MARTINS, 1998, p. 85).

Além do apoio das ONGs e do Ministério da Educação, o diferencial do projeto na construção das escolas foi a mobilização da população, os agentes do Ministério ficaram estarrecidos com o resultado obtido com reduzidos recursos, em relação ao alto montante de recursos enviado às prefeituras do Acre: as prefeituras entregaram menos que um terço do total de escolas (GRZYBOWSKI, 1991, p. 47).

Para Chico Mendes, a educação era fundamental para a práxis transformadora, esse sentimento pode ser exemplificado pelo último conselho que ele deu a sua filha Elenira, que quando ele morresse, ela não deveria chorar na sua morte e sim estudar para continuar a sua luta: “Se seu pai morrer, você tem que ser forte, tem que estudar para continuar a luta dele” (VENTURA, 2003, p. 19).

Chico Mendes entendia que para avançar com as conquistas, o movimento deveria se estruturar em sindicatos e se inserir na política partidária. Em 1977, Mendes participou ativamente na fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri e se elegeu vereador pelo partido de oposição à ditadura militar, MDB (Martins, 1998, p.15). Posteriormente ele soube dialogar com as diversas siglas (PT, PCB, PC do B, PV, PDT e PSB). Sem perder o espaço de diálogo com os demais partidos, ele se filiou ao PT (GRZYBOWSKI, 1991, p. 49-50).

Para ampliar o diálogo e deixá-lo mais visível na sociedade brasileira, o sindicato de Xapuri sob a liderança de Chico Mendes construiu o Conselho Nacional dos Seringueiros. O Conselho foi criado com a missão de buscar alternativas para a floresta amazônica e enfrentar o desmatamento (Martins, 1998, p 17) e principalmente, buscar o reconhecimento dos seringueiros como classe (GRZYBOWSKI, 1991, p. 26).

O passo inicial concreto para a criação do Conselho foi o Primeiro Encontro Nacional de Seringueiros em 1985 em Brasília. A capital brasileira foi escolhida por ser considerada na avaliação das lideranças do Encontro como o centro das decisões da nação e seria importante mostrar para as autoridades e demais setores da sociedade brasileira que a Amazônia não era uma floresta vazia, havia trabalhadores vivendo nela e dela (GRZYBOWSKI, 1991, p. 22).

O primeiro encontro foi fundamental na história do movimento dos povos da floresta. A adesão foi expressiva, pois além das lideranças de Xapuri, trabalhadores de Brasiléia, representantes de quase todos os municípios do Acre, dos estados da Amazônia, Amapá e Pará estavam presentes (Grzybowski, 1991, p. 27). Os principais resultados foram: a criação da diretoria provisória do Conselho Nacional dos Seringueiros e a proposta da criação da reserva extrativista da Amazônia. O objetivo da proposta da reserva extrativista era demonstrar que há alternativa sustentável para a Amazônia em relação à proposta de desenvolvimento de crescimento econômico à custa da devastação da floresta (GRZYBOWSKI, 1991, p. 23).

Outro ponto valorizado na autoemancipação do seringueiro era a construção de cooperativas para libertar os trabalhadores das condições impostas ao comércio dominado pelos fazendeiros. Mendes acreditava que a “cooperativa é uma forma nossa de lutar pela liberdade. Essa pauta foi conquistada com cinco anos de articulação, pois houve cooperativas anteriores controladas pelo governo, porém elas não vingaram, pois se tornaram mais um patrão do seringueiro. Para nós, a cooperativa deveria ser um instrumento do próprio seringueiro, uma conquista dele” (Martins, 1998, p. 85). A construção das cooperativas de produção e consumo foi desenvolvida na pauta econômica do Conselho.

A cooperativa de Agroextrativista envolve, além dos seringueiros, que organizavam e coordenavam a cooperativa, os pequenos agricultores com atuação inicialmente no Acre, porém a proposta era integrar toda Amazônia brasileira (Grzybowski, 1991, p. 41). A percepção de Chico Mendes sobre a experiência da cooperativa era que ela resolve o “problema econômico dos seringueiros, que ao longo dos anos ninguém resolveu” (GRZYBOWSKI, 1991, p. 55).

Chico Mendes, cristão da Libertação e da Floresta

Uma ação positiva do Conselho Nacional dos Seringueiros, liderado por Chico Mendes, foi ser espaço fundamental para o diálogo entre os seringueiros e indígenas e para a criação da União dos Povos da Floresta. O diálogo levou ao consenso entre os seringueiros e os indígenas que nenhum dos dois era o responsável pelo conflito entre eles, os verdadeiros geradores eram os seringalistas e os demais exploradores das riquezas amazônicas (Grzybowski, 1991, p. 26). Para Chico Mendes, “não há defesa da floresta sem os povos da floresta” (PORTO-GONÇAVEZ, 2009).

O método dividir para dominar foi amplamente usado pela classe dominante para manter os povos da floresta isolados e enfraquecidos. Em entrevista, Chico Mendes afirmou que a crença das diferenças entre seringueiros e os povos originários esteve presente na sua formação: “estão vivos na minha memória o preconceito e a hostilidade alimentados em relação aos índios da Amazônia: traiçoeiros, primitivos e preguiçosos” (MARTINS, 1998, p. 14).

Um depoimento muito interessante sobre a aliança dos Povos da Floresta pode ser expresso pelo depoimento de Osmarino Amâncio no Encontro Rio 92:

No começo, afirmou ele, “instigados pelos poderosos, acreditávamos que os índios eram nossos inimigos. Por sua vez, os índios, manipulados pelos mesmos poderosos, acreditavam que éramos seus inimigos. Com o tempo, fomos descobrindo que as nossas diferenças não deveriam ser jamais razão para que nos matássemos entre nós em favor dos interesses dos poderosos. Descobrimos que éramos todos ‘Povos da Floresta’ e que queríamos e queremos uma coisa só em torno da qual nos devemos unir; a floresta. Hoje”, concluiu, “somos uma unidade nas nossas diferenças” (FREIRE, 1992, p. 155 – 156).

A integração dos indígenas com os seringueiros chegou no nível da participação indígena nos encontros municipais dos seringueiros, nas comissões de organização do Conselho Nacional dos Seringueiros e nos empates (GRZYBOWSKI, 1991, p. 28).

A união dos Povos da Flores resultou no modelo das Reservas Extrativistas (Resex), inspirado na dinâmica existente nas Terras Indígenas. Para Angélica Mendes e Ângela Mendes (2023, p. 19), o conceito da criação das reservas habitadas por comunidades tradicionais é utilizado em muitos países, elas são “unidades de conservação de uso sustentável, que protegem tanto a biodiversidade quanto os modos de vida das comunidades tradicionais em territórios federais e de usufruto das pessoas que ali vivem”. Atualmente existem 92 unidades (entre Resex e Reservas de Desenvolvimento Sustentável) na Amazônia, contemplando uma área de 24.925.910 hectares e beneficiando 1.500.000 pessoas (Mendes; Mendes, 2023, 19).

Chico Mendes, ecossocialista

Chico Mendes tinha muito claro que a armadilha do desenvolvimento econômico gera riqueza apenas a uma pequena oligarquia, seja no campo ou nos grandes centros. Para ele, “queremos que a Amazônia seja preservada, mas também queremos que seja economicamente viável” (Martins, 1998, p. 92). Além disso, Chico alertava que o modelo das queimadas é insustentável: “O solo fica improdutivo. Por exemplo, em uma passagem onde eles desmatam 2 ou 3 mil ha, essa terra não tem potência para resistir, e em dois anos a terra seca” (MARTINS, 1998, p. 94).

A denúncia de Mendes do desmatamento crescente da floresta para o governo do Estado demonstrava que a economia ambiental integrada era mais lucrativa que a economia de exploração insustentável:

Naquela área desmatada, na safra passada, os seringueiros colheram 1.400 latas de castanha, uma grande produção. Desafiamos o fazendeiro daquela área e o próprio governador a computar a renda anual de 1ha de área transformada em pasto com a renda de 1ha da mesma área virgem. E eles não quiserem aceitar esse desafio porque nós iríamos provar que o lucro de 1ha de floresta daria 20 vezes mais valor anual do que os bois ali dentro (GRZYBOWSKI, 1991, p. 25).

A preocupação da classe opressora, dona do capital, é a busca do lucro sem a preocupação das consequências do desmatamento, desertificação ou impacto social das decisões dos investimentos, nesse sentido o conceito de diferença espacial de Bauman (1999, p. 16) ilustra muito bem: “quem for livre para fugir da localidade é livre para escapar das consequências. Esses são os espólios mais importantes da vitoriosa guerra espacial”. Exemplo da lógica insustentável do lucro imediato foi a invasão dos fazendeiros do sul na Amazônia no início da década de 70 com apoio fiscal da Sudam: as primeiras ações foram espalhar centenas de jagunços e expulsar os posseiros e índios queimando suas terras, a resistência de alguns posseiros custou óbitos de animais e pessoas (Martins, 1998, p.78). As 10 mil famílias expulsas do campo foram formar os cinturões de misérias nas cidades (Martins, 1998, p. 94). O processo de desmatamento provocado pelos donos do capital, como pela pecuária da década de 70, não considera o impacto social, não cumpre a promessa de retorno social do rendimento econômico e nem mantém a perenidade produtiva da floresta. Os números apresentados por Chico Mendes ilustram a percepção e necessidade de enfrentar o descompromisso socioambiental dos fazendeiros: “a borracha, com todo o desgaste que tem sofrido, ainda foi responsável por 45% da arrecadação do ICM, enquanto a pecuária chegou somente a 5%” (MARTINS, 1998, p. 94). Chico Mendes alertava que o discurso ecológico do governo não era comprometimento com propostas sustentáveis e sim, argumento para viabilizar financiamento de bancos internacionais e órgãos multinacionais. O passo seguinte foi denunciar, aos responsáveis pela aprovação de crédito, a contradição entre o discurso e a prática dos tomadores de empréstimos da Amazônia, pois o argumento de integração era na verdade transformada em desmatamento florestal e degradação social. Sua ação política conseguiu reverter o financiamento dos órgãos multilaterais à obra da BR-364 (Transamazônica) com a sua participação na reunião do BID em Miami em março de 1987. Em consequência da denúncia de Chico Mendes e pressão das organizações ambientais, o BID suspendeu os recursos destinados ao asfaltamento da estrada em abril de 1987 (MARTINS, 1998, p. 81).

A construção da sociedade sonhada por Chico Mendes tinha alguns adversários com poder: os seringalistas, madeireiros e agropecuaristas. O crescimento do movimento da classe trabalhadora no Acre provocou reação dos opressores, principalmente com o ingresso da União Democrática Ruralista, UDR, no Acre. A UDR tinha como prioridade combater a organização dos seringueiros em Xapuri, pois consideravam que o sindicato de Xapuri era o principal obstáculo no seu domínio da região do Acre (GRZYBOWSKI, 1991, p. 30).

Em 22 de dezembro de 1988, Chico Mendes foi assassinado em sua casa (Grzybowski, 1991, p.7). O conflito agrário gerou e continua gerando mortes de lideranças rurais, ele foi o octogésimo quarto trabalhador assassinado em 1988, nesse ano, o total foi noventa e seis. No período de 1964 a 1985, foram 1.300 mortes de representantes dos oprimidos na área rural (Martins, 1998, p. 43). As mortes nos campos por conflito de terra e água continuam em um ritmo bárbaro: 136 mortes entre 2007 e 2011 (CPT, 2012, p. 15).

Entretanto, a morte de Chico Mendes e o posterior avanço da extrema direita no Brasil e em especial na Região Amazônica não impediu o avanço das esperanças e avanços dos oprimidos, da maioria, como afirmou Gumercindo Rodrigues, amigo de Chico Mendes, “aqueles que atiraram no Chico erraram o alvo, perderam o tiro. Aqueles que pensam que o mataram, na verdade, tornaram-no imortal” (RODRIGUES, 2020).

A real herança de Chico Mendes é o respeito e a relevância dos Povos da Floresta, pois sua luta em preservar a Floresta Amazônica não é pela sua própria sobrevivência, mas de toda a humanidade. Chico Mendes nos deixou o aprendizado da importância da articulação de diversas instituições e forças políticas na construção da autoemancipação da classe trabalhadora. O primeiro Encontro Nacional dos Seringueiros, marco na história dos povos da Amazônia, teve o apoio de diversos agentes como, por exemplo: Universidade Federal de Brasília, Comunidades Eclesiais de Base, INESC, OXFAM, CONTAG, Centro de Defesa dos Direitos Humanos e a assessoria da antropóloga Mary Allegretti, que foi importante na organização da ida de Chico Mendes aos Estados Unidos para denunciar que a obra financiada pelos organismos multilaterais agravava o desmatamento da Amazônia.

Chico Mendes não se limitou às intervenções locais, levou a voz dos povos da floresta nos grandes centros do Brasil e do planeta. Ele alertou a sociedade global sobre a destruição socioambiental dos projetos desenvolvimentistas do governo brasileiro, além de apresentar propostas concretas de geração de renda com respeito e preservação da Floresta Amazônica.

A utopia ecossocialista sonhada por Chico Mendes inspira a todos que buscam a construção de uma outra sociedade (Mendes, 2012):

Atenção jovem do futuro,

6 de setembro do ano de 2120, aniversário do primeiro centenário da revolução socialista mundial, que unificou todos os povos do planeta, num só ideal e num só pensamento de unidade socialista, e que pôs fim à todos os inimigos da nova sociedade.

Aqui ficam somente a lembrança de um triste passado de dor, sofrimento e morte.

Desculpem. Eu estava sonhando quando escrevi estes acontecimentos que eu mesmo não verei. Mas tenho o prazer de ter sonhado.

Para Ângela Mendes e Angélica Mendes (2023, p. 20), esta carta é uma convocação para que a sociedade, em especial a juventude, continue a sua luta, que para ele, não seria apenas ecológica, mas também social, isto é, uma chamada ecossocialista. Elas (Mendes; Mendes, 2023. p. 20) destacam como Chico Mendes antecipou sua herança, pois hoje “olhando a atuação da juventude na agenda climática e o avanço do debate social dentro dessa pauta, nós vemos o quanto Chico era visionário há quase 35 anos atrás”.

Essa utopia é um farol que ilumina o caminho dos ecossocialistas de todo planeta, pois como afirmou o próprio Chico Mendes, “No começo pensei que estivesse lutando para salvar seringueiras, depois pensei que estava lutando para salvar a Floresta Amazônica. Agora, percebo que estou lutando pela humanidade” (Mendes, 2023, p. 19). Essa opção política de Mendes “é um movimento exemplar, que continuará a inspirar novas lutas, não só no Brasil, mas em outros países e continentes” (FREI BETTO; LÖWY, 2011).

Referências Bibliográficas

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VENTURA, Zuenir. Chico Mendes: Crime e Castigo. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

1 Essa afirmação é atribuída a Chico Mendes em diversas publicações, porém não há registro dele a dizendo. Entretanto, certamente ele concordaria com ela, pois ela expressa sua práxis.

Chico Mendes, 80 anos de um ecossocialista

Arlindo Rodrigues

José Corrêa Leite

Introdução

Aqueles que atiraram no Chico erraram o alvo, perderam o tiro. Aqueles que pensam que o mataram, na verdade, tornaram-no imortal” (Gumercindo Rodrigues)

Este texto busca contribuir para que o 80º aniversário de nascimento de Chico Mendes seja mais um momento de reflexão sobre sua luta, seus sonhos e seu legado. Essa grande referência ecosocial brasileiro construiu uma história que é referência para a ecologia política mundial e em especial, o ecossocialismo global. Foi um dos primeiros brasileiros a associar luta social com responsabilidade ambiental, pois para ele, “ecologia sem luta de classe é jardinagem”1. Ele tinha a convicção de que era necessário preservar a Amazônia para todos os povos e que a autoemancipação dos seringueiros deveria ser construída a partir da sua integração aos demais povos da floresta e à própria Floresta Amazônia.

Sua principal ferramenta política era o diálogo e esse estava presente como orientador nos empates. Essa forma de resistência e intervenção social nos casos de ataques de milícias ruralistas às comunidades rurais do Acre envolvia toda população, nesse caso, as crianças, os idosos e as mulheres lideravam a linha de frente das ações, cuja intenção era evitar os tiros e a violência dos trabalhadores contratados contra os outros trabalhadores, seringueiros. A única arma da população nos empates era a força do convencimento das palavras e sentimentos.

Chico Mendes era de uma família de seringueiros, sua trajetória foi marcada pela herança das condições opressoras impostas pelos fazendeiros. Os seringueiros foram inseridos na floresta amazônica com a ilusão de vida melhor que a sofrida rotina do sertão nordestino, porém a realidade encontrada foi outra. As trabalhadoras e trabalhadores buscaram sua sobrevivência nos seringais da Amazônia na segunda metade do século XIX, a realidade abandonada por esse povo foi das longas estiagens e da gripe de 1877, causadora de mais de cem mil mortes (MARTINS, 1998, p. 13).

Porém, na sua busca de melhores condições de vida, essa população encontrou condições de trabalho em situação análoga à escravidão, em um cenário detalhado por Euclides da Cunha (2006) no início do século XX. Nessa crise humanitária, Chico Mendes soube sintetizar a sabedoria dos Povos da Floresta apontando para uma outra lógica de organização social e a difundindo para o planeta.

Chico Mendes, o despertar pela educação

Chico Mendes nasceu em 15 de dezembro de 1944, em Xapuri no Acre. Filho de Francisco Alves Mendes e de Maria Rita Mendes, ele iniciou seu trabalho como seringueiro aos nove anos e foi alfabetizado aos 20 anos (Grzybowski, 1991, p. 10). Ele soube apreender lições fundamentais para a sua trajetória, seja pela transmissão de conhecimento do seu professor Távola, seja pela sua vivência dos sucessos e fracassos nos movimentos sociais.

Uma lição fundamental para a trajetória de Mendes foi aprender a ler e ouvir notícias com o auxílio do exilado político, Euclides Fernando Távora. Euclides era oficial do exército quando participou da Coluna Prestes, por essa militância, foi preso e enviado para o presídio da ilha de Fernando de Noronha. Após ser solto por influência do seu tio Juarez Távola, ele seguiu para a Bolívia onde se engajou no Partido Comunista Boliviano, trabalhando com o movimento operário. Por consequência de sua militância, ele foi perseguido e obrigado a voltar à clandestinidade. Acabou se refugiando na selva perto da fronteira entre Brasil (Acre) e Bolívia e para sobreviver, aprendeu a fazer a borracha com os seringueiros (MARTINS, 1998, p. 87-88).

Os ensinamentos do “professor” Távola destacavam a relevância da militância sindical e a possibilidade da futura reestruturação dos sindicatos no Brasil, pois “apesar de derrotados, humilhados, massacrados, as raízes nunca se acabaram, elas sempre germinam; por mais atacadas que sejam, elas germinarão mais tarde” (Grzybowski, 1991, p.64). Assim, uma lição deixada por Távola foi que a militância no movimento sindical era fundamental, mesmo no caso de sindicatos chamados pelegos, porque o ingresso de militantes combativos estabelece as bases para espalhar as “sementes da liberdade” (GRZYBOWSKI, 1991, p. 64).

Não há muitas informações sobre Euclides Távola, pois ele queimava tudo que anotava e, em julho de 1965, foi à cidade para checar se seu emagrecimento era um processo de úlcera e nunca mais voltou (Martins, 1998, p. 88), contudo suas lições evoluíram na práxis de Chico Mendes. Em entrevista à CUT no 3º Congresso em 1988, Mendes lembrou de alguns ensinamentos de Euclides: “hoje os trabalhadores estão sendo rechaçados, mas por maior que seja o massacre sempre existirá uma semente que renascerá e aí você terá que entrar, mesmo que seja daqui a oito, dez anos” (MARTINS, 1998, p. 88).

Com o conhecimento adquirido nas suas aulas, Mendes descobriu que sua família e os demais seringueiros eram manipulados pelos comerciantes da fazenda: o valor da metade da produção de um ano de borracha pagava a conta na venda do seringalista e o lucro gerado seria a outra metade, porém, nas contas do seringalista, o trabalhador estava sempre devendo (Martins, 1998, P. 89). A lição foi que a eterna dívida do mercado do patrão era ferramenta de opressão, e a liberdade deveria ser construída com a ruptura do monopólio da venda aos seringalistas. A opção inicial foi o comércio com os marreteiros, pequenos comerciantes, para comprar mais barato pagando com borrachas (MARTINS, 1998, p. 89).

O segundo marco na formação de Chico Mendes foi o convívio com sindicalistas, em especial o Wilson Pinheiro, sua avaliação dos sucessos e a desmobilização do sindicato após a morte do Pinheiro esteve presente nas ações posteriores de Mendes.

Aprender na militância

Wilson Pinheiro foi a primeira liderança na direção do sindicato de Brasiléia, Acre, cujo mandato foi no período de 1978 e 1979. Foi na sua coordenação que os empates foram generalizados por toda a região (GRZYBOWSKI, 1991, p. 18-21).

O empate é uma forma de manifestação ao mesmo tempo pacífica e de forte impacto. Sua ação é liderada pela direção do sindicato e composta por centenas de seringueiros com suas mulheres, crianças e velhos. Os empates são mobilizados a partir da denúncia de desmatamento, seu primeiro passo é a reunião das comunidades, principalmente as afetadas, em assembleia na mata para definir a liderança e o grupo que ficará na frente das foices e motosserras. As mulheres e crianças costumam sair na linha de frente com bandeira para evitar a recepção do grupo à tiros pelos “seguranças” e policiais a serviço dos fazendeiros. As armas dos empates são os discursos educativos alertando da importância da manutenção da floresta e as consequências de seu desmatamento para todos os peões responsáveis pelo cumprimento de ordens. A proposta do método é sensibilizar o peão, responsável pela ação do desmatamento, pois, para os seringueiros, apesar de ser o representante da ação opressora, o peão é um ser humano “simples, indefeso e inconsciente” (Martins, 1998, p. 26). O convencimento dos peões muitas vezes provocou a adesão dos próprios peões nos empates (GRZYBOWSKI, 1991, p. 38).

A fama e notoriedade de Wilson Pinheiro foram construídas com a mobilização e liderança de 300 seringueiros que, com apenas facões e enxadas, expulsaram de pistoleiros, armados com rifles, que estavam ameaçando os posseiros na Boca do Acre. Porém, essa vitória gerou o seu julgamento e condenação à morte pela “corte” dos fazendeiros. No dia 21 de julho de 1980, Wilson Pinheiro foi morto por dois pistoleiros na sede do sindicato de Brasiléia. Sua morte aumentou a situação de conflito na região: inconformados com a percepção da falta de ação da Justiça, os seringueiros fuzilaram um dos fazendeiros acusados de envolvimento na morte de Wilson, Nilo Sérgio. Entretanto a ação da “Justiça”, para a reação dos seringueiros, foi ágil: prendeu e torturou centenas de seringueiros. Com a morte de Wilson Pinheiro e a repressão do Estado, o movimento dos seringueiros na Brasiléia perdeu força (GRZYBOWSKI, 1991, p.19-20; GRZYBOWSKI, 1991, p. 42).

O sindicato de Xapuri assumiu a liderança dos movimentos dos seringueiros com a coordenação de Chico Mendes. Esse sindicato foi fundado em 1977 com aprendizado da experiência de Brasiléia, e sua organização buscou ampliar a participação dos trabalhadores. O modelo de diálogo do sindicato aplicava o aprendizado de Chico Mendes junto às comunidades de base, iniciado em 1973 (GRZYBOWSKI, 1991, p. 20-21).

Chico Mendes, por influência das propostas libertadoras dos padres, aderiu às Comunidades Eclesiais de Base, usufruindo do espaço de convívio e diálogo com os religiosos e fiéis comprometidos com a superação da pobreza e opressão. Essa relação permitiu que o Sindicato pudesse funcionar no terreno da Igreja (GRZYBOWSKI, 1991, p. 20-21).

Para aumentar e melhorar a participação de todos nos diálogos e decisões, o sindicato investiu na educação da população trabalhadora. A formação e estruturação de condições para geração de novas lideranças e uma ampla participação de todos foram preocupações importantes nas práxis de Chico Mendes. Essa educação foi uma ação para despertar a conscientização da população oprimida. Inicialmente foi criada a cartilha Poronga com apoio CEDI – Centro Ecumênico de Documentação e Informação e diversos grupos de universitários. A cartilha foi aplicada nos cursos, que eram ministrados por professores eleitos pela própria comunidade. Para Mendes: “Poronga é a luz que o seringueiro usa e coloca na cabeça para caminhar na selva” (MARTINS, 1998, p. 85).

Além do apoio das ONGs e do Ministério da Educação, o diferencial do projeto na construção das escolas foi a mobilização da população, os agentes do Ministério ficaram estarrecidos com o resultado obtido com reduzidos recursos, em relação ao alto montante de recursos enviado às prefeituras do Acre: as prefeituras entregaram menos que um terço do total de escolas (GRZYBOWSKI, 1991, p. 47).

Para Chico Mendes, a educação era fundamental para a práxis transformadora, esse sentimento pode ser exemplificado pelo último conselho que ele deu a sua filha Elenira, que quando ele morresse, ela não deveria chorar na sua morte e sim estudar para continuar a sua luta: “Se seu pai morrer, você tem que ser forte, tem que estudar para continuar a luta dele” (VENTURA, 2003, p. 19).

Chico Mendes entendia que para avançar com as conquistas, o movimento deveria se estruturar em sindicatos e se inserir na política partidária. Em 1977, Mendes participou ativamente na fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri e se elegeu vereador pelo partido de oposição à ditadura militar, MDB (Martins, 1998, p.15). Posteriormente ele soube dialogar com as diversas siglas (PT, PCB, PC do B, PV, PDT e PSB). Sem perder o espaço de diálogo com os demais partidos, ele se filiou ao PT (GRZYBOWSKI, 1991, p. 49-50).

Para ampliar o diálogo e deixá-lo mais visível na sociedade brasileira, o sindicato de Xapuri sob a liderança de Chico Mendes construiu o Conselho Nacional dos Seringueiros. O Conselho foi criado com a missão de buscar alternativas para a floresta amazônica e enfrentar o desmatamento (Martins, 1998, p 17) e principalmente, buscar o reconhecimento dos seringueiros como classe (GRZYBOWSKI, 1991, p. 26).

O passo inicial concreto para a criação do Conselho foi o Primeiro Encontro Nacional de Seringueiros em 1985 em Brasília. A capital brasileira foi escolhida por ser considerada na avaliação das lideranças do Encontro como o centro das decisões da nação e seria importante mostrar para as autoridades e demais setores da sociedade brasileira que a Amazônia não era uma floresta vazia, havia trabalhadores vivendo nela e dela (GRZYBOWSKI, 1991, p. 22).

O primeiro encontro foi fundamental na história do movimento dos povos da floresta. A adesão foi expressiva, pois além das lideranças de Xapuri, trabalhadores de Brasiléia, representantes de quase todos os municípios do Acre, dos estados da Amazônia, Amapá e Pará estavam presentes (Grzybowski, 1991, p. 27). Os principais resultados foram: a criação da diretoria provisória do Conselho Nacional dos Seringueiros e a proposta da criação da reserva extrativista da Amazônia. O objetivo da proposta da reserva extrativista era demonstrar que há alternativa sustentável para a Amazônia em relação à proposta de desenvolvimento de crescimento econômico à custa da devastação da floresta (GRZYBOWSKI, 1991, p. 23).

Outro ponto valorizado na autoemancipação do seringueiro era a construção de cooperativas para libertar os trabalhadores das condições impostas ao comércio dominado pelos fazendeiros. Mendes acreditava que a “cooperativa é uma forma nossa de lutar pela liberdade. Essa pauta foi conquistada com cinco anos de articulação, pois houve cooperativas anteriores controladas pelo governo, porém elas não vingaram, pois se tornaram mais um patrão do seringueiro. Para nós, a cooperativa deveria ser um instrumento do próprio seringueiro, uma conquista dele” (Martins, 1998, p. 85). A construção das cooperativas de produção e consumo foi desenvolvida na pauta econômica do Conselho.

A cooperativa de Agroextrativista envolve, além dos seringueiros, que organizavam e coordenavam a cooperativa, os pequenos agricultores com atuação inicialmente no Acre, porém a proposta era integrar toda Amazônia brasileira (Grzybowski, 1991, p. 41). A percepção de Chico Mendes sobre a experiência da cooperativa era que ela resolve o “problema econômico dos seringueiros, que ao longo dos anos ninguém resolveu” (GRZYBOWSKI, 1991, p. 55).

Chico Mendes, cristão da Libertação e da Floresta

Uma ação positiva do Conselho Nacional dos Seringueiros, liderado por Chico Mendes, foi ser espaço fundamental para o diálogo entre os seringueiros e indígenas e para a criação da União dos Povos da Floresta. O diálogo levou ao consenso entre os seringueiros e os indígenas que nenhum dos dois era o responsável pelo conflito entre eles, os verdadeiros geradores eram os seringalistas e os demais exploradores das riquezas amazônicas (Grzybowski, 1991, p. 26). Para Chico Mendes, “não há defesa da floresta sem os povos da floresta” (PORTO-GONÇAVEZ, 2009).

O método dividir para dominar foi amplamente usado pela classe dominante para manter os povos da floresta isolados e enfraquecidos. Em entrevista, Chico Mendes afirmou que a crença das diferenças entre seringueiros e os povos originários esteve presente na sua formação: “estão vivos na minha memória o preconceito e a hostilidade alimentados em relação aos índios da Amazônia: traiçoeiros, primitivos e preguiçosos” (MARTINS, 1998, p. 14).

Um depoimento muito interessante sobre a aliança dos Povos da Floresta pode ser expresso pelo depoimento de Osmarino Amâncio no Encontro Rio 92:

No começo, afirmou ele, “instigados pelos poderosos, acreditávamos que os índios eram nossos inimigos. Por sua vez, os índios, manipulados pelos mesmos poderosos, acreditavam que éramos seus inimigos. Com o tempo, fomos descobrindo que as nossas diferenças não deveriam ser jamais razão para que nos matássemos entre nós em favor dos interesses dos poderosos. Descobrimos que éramos todos ‘Povos da Floresta’ e que queríamos e queremos uma coisa só em torno da qual nos devemos unir; a floresta. Hoje”, concluiu, “somos uma unidade nas nossas diferenças” (FREIRE, 1992, p. 155 – 156).

A integração dos indígenas com os seringueiros chegou no nível da participação indígena nos encontros municipais dos seringueiros, nas comissões de organização do Conselho Nacional dos Seringueiros e nos empates (GRZYBOWSKI, 1991, p. 28).

A união dos Povos da Flores resultou no modelo das Reservas Extrativistas (Resex), inspirado na dinâmica existente nas Terras Indígenas. Para Angélica Mendes e Ângela Mendes (2023, p. 19), o conceito da criação das reservas habitadas por comunidades tradicionais é utilizado em muitos países, elas são “unidades de conservação de uso sustentável, que protegem tanto a biodiversidade quanto os modos de vida das comunidades tradicionais em territórios federais e de usufruto das pessoas que ali vivem”. Atualmente existem 92 unidades (entre Resex e Reservas de Desenvolvimento Sustentável) na Amazônia, contemplando uma área de 24.925.910 hectares e beneficiando 1.500.000 pessoas (Mendes; Mendes, 2023, 19).

Chico Mendes, ecossocialista

Chico Mendes tinha muito claro que a armadilha do desenvolvimento econômico gera riqueza apenas a uma pequena oligarquia, seja no campo ou nos grandes centros. Para ele, “queremos que a Amazônia seja preservada, mas também queremos que seja economicamente viável” (Martins, 1998, p. 92). Além disso, Chico alertava que o modelo das queimadas é insustentável: “O solo fica improdutivo. Por exemplo, em uma passagem onde eles desmatam 2 ou 3 mil ha, essa terra não tem potência para resistir, e em dois anos a terra seca” (MARTINS, 1998, p. 94).

A denúncia de Mendes do desmatamento crescente da floresta para o governo do Estado demonstrava que a economia ambiental integrada era mais lucrativa que a economia de exploração insustentável:

Naquela área desmatada, na safra passada, os seringueiros colheram 1.400 latas de castanha, uma grande produção. Desafiamos o fazendeiro daquela área e o próprio governador a computar a renda anual de 1ha de área transformada em pasto com a renda de 1ha da mesma área virgem. E eles não quiserem aceitar esse desafio porque nós iríamos provar que o lucro de 1ha de floresta daria 20 vezes mais valor anual do que os bois ali dentro (GRZYBOWSKI, 1991, p. 25).

A preocupação da classe opressora, dona do capital, é a busca do lucro sem a preocupação das consequências do desmatamento, desertificação ou impacto social das decisões dos investimentos, nesse sentido o conceito de diferença espacial de Bauman (1999, p. 16) ilustra muito bem: “quem for livre para fugir da localidade é livre para escapar das consequências. Esses são os espólios mais importantes da vitoriosa guerra espacial”. Exemplo da lógica insustentável do lucro imediato foi a invasão dos fazendeiros do sul na Amazônia no início da década de 70 com apoio fiscal da Sudam: as primeiras ações foram espalhar centenas de jagunços e expulsar os posseiros e índios queimando suas terras, a resistência de alguns posseiros custou óbitos de animais e pessoas (Martins, 1998, p.78). As 10 mil famílias expulsas do campo foram formar os cinturões de misérias nas cidades (Martins, 1998, p. 94). O processo de desmatamento provocado pelos donos do capital, como pela pecuária da década de 70, não considera o impacto social, não cumpre a promessa de retorno social do rendimento econômico e nem mantém a perenidade produtiva da floresta. Os números apresentados por Chico Mendes ilustram a percepção e necessidade de enfrentar o descompromisso socioambiental dos fazendeiros: “a borracha, com todo o desgaste que tem sofrido, ainda foi responsável por 45% da arrecadação do ICM, enquanto a pecuária chegou somente a 5%” (MARTINS, 1998, p. 94). Chico Mendes alertava que o discurso ecológico do governo não era comprometimento com propostas sustentáveis e sim, argumento para viabilizar financiamento de bancos internacionais e órgãos multinacionais. O passo seguinte foi denunciar, aos responsáveis pela aprovação de crédito, a contradição entre o discurso e a prática dos tomadores de empréstimos da Amazônia, pois o argumento de integração era na verdade transformada em desmatamento florestal e degradação social. Sua ação política conseguiu reverter o financiamento dos órgãos multilaterais à obra da BR-364 (Transamazônica) com a sua participação na reunião do BID em Miami em março de 1987. Em consequência da denúncia de Chico Mendes e pressão das organizações ambientais, o BID suspendeu os recursos destinados ao asfaltamento da estrada em abril de 1987 (MARTINS, 1998, p. 81).

A construção da sociedade sonhada por Chico Mendes tinha alguns adversários com poder: os seringalistas, madeireiros e agropecuaristas. O crescimento do movimento da classe trabalhadora no Acre provocou reação dos opressores, principalmente com o ingresso da União Democrática Ruralista, UDR, no Acre. A UDR tinha como prioridade combater a organização dos seringueiros em Xapuri, pois consideravam que o sindicato de Xapuri era o principal obstáculo no seu domínio da região do Acre (GRZYBOWSKI, 1991, p. 30).

Em 22 de dezembro de 1988, Chico Mendes foi assassinado em sua casa (Grzybowski, 1991, p.7). O conflito agrário gerou e continua gerando mortes de lideranças rurais, ele foi o octogésimo quarto trabalhador assassinado em 1988, nesse ano, o total foi noventa e seis. No período de 1964 a 1985, foram 1.300 mortes de representantes dos oprimidos na área rural (Martins, 1998, p. 43). As mortes nos campos por conflito de terra e água continuam em um ritmo bárbaro: 136 mortes entre 2007 e 2011 (CPT, 2012, p. 15).

Entretanto, a morte de Chico Mendes e o posterior avanço da extrema direita no Brasil e em especial na Região Amazônica não impediu o avanço das esperanças e avanços dos oprimidos, da maioria, como afirmou Gumercindo Rodrigues, amigo de Chico Mendes, “aqueles que atiraram no Chico erraram o alvo, perderam o tiro. Aqueles que pensam que o mataram, na verdade, tornaram-no imortal” (RODRIGUES, 2020).

A real herança de Chico Mendes é o respeito e a relevância dos Povos da Floresta, pois sua luta em preservar a Floresta Amazônica não é pela sua própria sobrevivência, mas de toda a humanidade. Chico Mendes nos deixou o aprendizado da importância da articulação de diversas instituições e forças políticas na construção da autoemancipação da classe trabalhadora. O primeiro Encontro Nacional dos Seringueiros, marco na história dos povos da Amazônia, teve o apoio de diversos agentes como, por exemplo: Universidade Federal de Brasília, Comunidades Eclesiais de Base, INESC, OXFAM, CONTAG, Centro de Defesa dos Direitos Humanos e a assessoria da antropóloga Mary Allegretti, que foi importante na organização da ida de Chico Mendes aos Estados Unidos para denunciar que a obra financiada pelos organismos multilaterais agravava o desmatamento da Amazônia.

Chico Mendes não se limitou às intervenções locais, levou a voz dos povos da floresta nos grandes centros do Brasil e do planeta. Ele alertou a sociedade global sobre a destruição socioambiental dos projetos desenvolvimentistas do governo brasileiro, além de apresentar propostas concretas de geração de renda com respeito e preservação da Floresta Amazônica.

A utopia ecossocialista sonhada por Chico Mendes inspira a todos que buscam a construção de uma outra sociedade (Mendes, 2012):

Atenção jovem do futuro,

6 de setembro do ano de 2120, aniversário do primeiro centenário da revolução socialista mundial, que unificou todos os povos do planeta, num só ideal e num só pensamento de unidade socialista, e que pôs fim à todos os inimigos da nova sociedade.

Aqui ficam somente a lembrança de um triste passado de dor, sofrimento e morte.

Desculpem. Eu estava sonhando quando escrevi estes acontecimentos que eu mesmo não verei. Mas tenho o prazer de ter sonhado.

Para Ângela Mendes e Angélica Mendes (2023, p. 20), esta carta é uma convocação para que a sociedade, em especial a juventude, continue a sua luta, que para ele, não seria apenas ecológica, mas também social, isto é, uma chamada ecossocialista. Elas (Mendes; Mendes, 2023. p. 20) destacam como Chico Mendes antecipou sua herança, pois hoje “olhando a atuação da juventude na agenda climática e o avanço do debate social dentro dessa pauta, nós vemos o quanto Chico era visionário há quase 35 anos atrás”.

Essa utopia é um farol que ilumina o caminho dos ecossocialistas de todo planeta, pois como afirmou o próprio Chico Mendes, “No começo pensei que estivesse lutando para salvar seringueiras, depois pensei que estava lutando para salvar a Floresta Amazônica. Agora, percebo que estou lutando pela humanidade” (Mendes, 2023, p. 19). Essa opção política de Mendes “é um movimento exemplar, que continuará a inspirar novas lutas, não só no Brasil, mas em outros países e continentes” (FREI BETTO; LÖWY, 2011).

Nota

  1. Essa afirmação é atribuída a Chico Mendes em diversas publicações, porém não há registro dele a dizendo. Entretanto, certamente ele concordaria com ela, pois ela expressa sua práxis.
    ↩︎

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