A traição de Jaques Wagner e a asfixia política neoliberal

A traição de Jaques Wagner e a asfixia política neoliberal

Sobre a aprovação do chamado PL da Dosimetria

Júlio Pontes 18 dez 2025, 15:02

Ontem, por um placar de 48 a 25, o Senado Federal aprovou o chamado PL da Dosimetria, aprovado uma semana antes pela Câmara dos Deputados. Consolidou-se assim a maioria parlamentar em prol da redução das penas para os envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro, beneficiando-se, por exemplo, condenados como Jair Bolsonaro e os generais de quatro estrelas presos. A “anistia moderada” segue agora para o provável veto de Lula, como indicou a cúpula do governo.

Flávio Bolsonaro declarou a vitória parcial como um “primeiro degrau”, ou poderíamos dizer a primeira parcela para o autodeclarado “preço” de sua pré-candidatura presidencial. A vitória parcial do bolsonarismo traduziu-se também como um teste de forças contra os atos de domingo, cujo alcance nacional polarizou socialmente contra o Congresso Nacional e seus ataques ao povo – como, por exemplo, a anistia.

Mas, ainda na CCJ do Senado, pela qual tramitava o PL da Dosimetria, chamou atenção a denúncia feita pela Senador Renan Calheiros (MDB-AL). Renan acusou o líder do governo, Jaques Wagner (PT-BA), de negociar a aprovação da “anistia moderada” para que, no mesmo dia, fosse aprovada a redução dos benefícios fiscais e elevação tributária sobre bets e fintechs.

Jaques havia negociado com o presidente da CCJ, o seu conterrâneo oriundo do carlismo Otto Alencar (PSD-BA), que a emenda apresentada por Sérgio Moro (União Brasil-PR) fosse acolhida como de procedimento e não de mérito, abrindo assim o caminho para que a anistia fosse aprovada naquele dia ao invés de voltar para a Câmara dos Deputados – onde encontraria um Hugo Motta mais desgastado politicamente. Depois, ao microfone, Wagner assumiu o que fez, separando-se do governo liderado por ele no Senado, isto é, afirmando que fez um “voo solo” na negociação da anistia.

A imperdoável traição de Jaques Wagner, para o que o preço deveria ser mais do que deixar a liderança do governo, não é um raio em céu azul. Antes de tudo, Wagner é declaradamente sionista. Defendeu o “extermínio do Hamas” quando o regime sionista já havia assassinado mais de 80 mil palestinos, aliando-se a retórica neofascista de Netanyahu e de Trump – para quem, agora, sob pretexto de combate ao terrorismo, a Venezuela deve passar ao controle militar, econômico e político do imperialismo. Bastaria o “sionismo” de Jaques Wagner para reconhecer o lugar que decidiu ocupar na história e seu recente papel de sócio minoritário da extrema direita. Trata-se de repor à prática o critério da verdade.

Ainda que imperdoável, abandonado publicamente pelo próprio governo que lidera, além de exposto como traidor por ninguém mais ninguém menos que Renan Calheiros, Jaques Wagner buscou se defender. Como? Diante de uma derrota iminente, argumentou, o acordo estaria à serviço da aprovação da arrecadação sobre bets e fintechs. Os 20 bilhões estimados com a aprovação dessa medida seriam cruciais para “fechar” as contas do governo em 2026, subordinando-as a meta superavitária de 0,25% do PIB ou R$34,3 bilhões.

Essa asfixia política neoliberal, auto imposta pelo Arcabouço Fiscal, que supostamente exigiu de Jaques Wagner negociar a democracia por 20 bilhões, como definiu o jornalista Octavio Guedes, é a prova irrefutável de que não se combate verdadeiramente a extrema direita sem que se combata o neoliberalismo. Não faço referência a progressiva medida de taxação sobre bets e fintechs, mas ao seu pano de fundo, isto é, o neoliberalismo como posto de comando da política, seja qual for o governo de turno, seja qual for o princípio a ser renunciado.

O motivo agora seria nobre, mas nunca suficiente para sanha neoliberal. Depois virão os pisos constitucionais, como já aventado. Na sequência, mutila-se o BPC e, com ele, milhares de pobres. E assim vão se empilhando derrotas e a esquerda perdendo a capacidade de dizer seu nome, limitada a governar nos marcos do superávit e metas fiscais, operando manobras contra si mesma. O caso Wagner é um sintoma relativo, porque a medida econômica em questão é progressiva e a luta contra a anistia não é exclusivamente de esquerda, senão uma luta democrática. Ilustra, ainda assim, uma “esquerda” fundida à ordem neoliberal, para a qual trair a classe trabalhadora é um questão de “quando”.


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