A volta da Doutrina Monroe

A volta da Doutrina Monroe

Diante da crise de legitimidade e o declínio econômico relativo, o imperialismo sob Trump busca estabelecer uma nova ordem mundial

Estados Unidos Hoje da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco

            Desde o início de seu segundo governo, Trump busca estabelecer uma nova ordem mundial. Nela, a ideia de America First (Estados Unidos em primeiro lugar) coexiste com a legitimação de outras zonas de influência imperialista, como a russa e a chinesa, com o enfraquecimento da aliança entre os Estados Unidos e a Europa Ocidental, e com o apoio a regimes políticos autoritários e iliberais ao redor do globo.              Evidentemente, a ordem que Trump quer suplantar nunca foi justa. A defesa do princípio “democrático” pelos Estados Unidos sempre serviu de anteparo cínico para sucessivas intervenções, agressões e crimes de guerra. Mas o imperialismo estadunidense encontra-se agora em crise de legitimidade e em declínio econômico relativo. Além disso, internamente, o humor da população reflete esse cenário, sob a forma de um descontentamento permanente. Essa percepção da crise e o sentimento de que alternativas são urgentes dão lastro ao discurso neofascista do presidente — embora, na outra face da moeda, também ampliem a audiência de ideias da esquerda socialista.

            A divulgação recente da Estratégia de Segurança Nacional do governo consolidou as coordenadas, ao mesmo tempo em que enfatizou um eixo até então menos discutido da política trumpista: a América Latina. Sob a hierarquia de interesses econômicos próprios — regra de ouro para conter a ascensão chinesa —, o imperialismo ianque resgata a Doutrina Monroe. Trata-se, mais uma vez, da ideia sintetizada pela fórmula “América para os americanos”, isto é, a tentativa dos Estados Unidos de tratar a América Latina como seu quintal.          

            Não seria necessário um documento oficial para demonstrar isso. Há meses, o governo Trump conduz ataques criminosos no mar do Caribe, sob o pretexto cínico do “combate ao tráfico de drogas”. O maior porta-aviões do mundo foi descolado para o entorno da Venezuela, e o governo dos Estados Unidos declarou bloqueio a petroleiros venezuelanos, inclusive saqueando um deles. Nesse país, governado pelo presidente autoritário Nicolás Maduro, Trump faz suas apostas mais altas, articulando interesses burgueses em torno do petróleo. Não por acaso, o Prêmio Nobel da Paz foi entregue a María Corina Machado, opositora golpista de Maduro, comprometida com a entrega das riquezas nacionais aos Estados Unidos. O jornal Financial Times mostrou que investidores estrangeiros estão comprando a dívida inadimplente da Venezuela, apostando no fim do atual governo.

            No Panamá, Trump ameaçou a retomada militar do Canal do Panamá — e colheu um acordo de capitulação do governo local. Em Honduras e na Argentina, por meios distintos, o presidente dos Estados Unidos interferiu em processos eleitorais internos. No Paraguai, anunciou um novo acordo de cooperação militar. Em El Salvador, atua em estreita articulação com o ditador Nayib Bukele, dando escala à repressão xenófoba e racista contra imigrantes. A partir do caso venezuelano, Trump ameaça Colômbia e Cuba. Já ao Brasil, impôs tarifas desmesuradas como instrumento de intimidação e chantagem, agora parcialmente revertidas, mas ao custo de uma contenção do discurso do governo Lula, até o momento pouco assertivo diante da situação na Venezuela. 

            A retomada da Doutrina Monroe deve gerar rechaço internacional e mobilização. Por mais óbvio que seja, é necessário afirmar que os Estados Unidos não têm, nem nunca tiveram, autoridade ou direito para interferir nos assuntos de países soberanos da América Latina.

            No próprio país, primeiros sinais de descontentamento surgiram semanas atrás, quando vieram a público declarações do secretário de Defesa, Peter Hegseth, ordenando “matem todos eles”, em referência aos sobreviventes de uma embarcação atacada no mar do Caribe. Hegseth passou a ser acusado de crime de guerra, e o governo Trump viu seu falso discurso “pacifista” e “isolacionista” colocado em xeque.

Qualquer ação oposicionista interna é relevante para denunciar os planos de pilhagem neocolonial de Trump e nenhuma tergiversação é aceitável no rechaço à agressão em curso na Venezuela.    

            No plano internacional, a I Conferência Internacional Antifascista Pela Soberania dos Povos, a ser realizada em março de 2026 em Porto Alegre (RS), promete apresentar uma resposta organizada à atual situação. É decisivo lembrar que não se trata da primeira vez que o imperialismo estadunidense busca controlar a América Latina valendo-se dos meios mais abjetos. Ainda assim, os povos latino-americanos jamais se submeteram. Pelo contrário, possuem uma rica história de lutas, revoltas e revoluções em defesa de sua soberania, dignidade e riquezas. O momento de novos levantes é agora.   


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