Deputadas pedem abertura de CPMI do Banco Master
Fernanda Melchionna e Heloísa Helena articulam comissão para investigar fraudes financeiras, prejuízos a fundos de previdência e possíveis omissões de órgãos reguladores
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
As deputadas Heloísa Helena (Rede-RJ) e Fernanda Melchionna (PSOL-RS) protocolaram, no último fim de semana, o pedido de abertura de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar o escândalo do Banco Master, um caso que envolve indícios graves de irregularidades financeiras, possíveis crimes contra investidores e suspeitas de conivência institucional. As parlamentares seguem coletando assinaturas durante o recesso para garantir que a comissão seja instalada logo na retomada dos trabalhos, em fevereiro.
A proposta da CPMI nasce da avaliação de que o caso do Banco Master não se resume a falhas administrativas isoladas, mas revela uma estrutura complexa de operações suspeitas, com impactos diretos sobre pequenos investidores, fundos de previdência e o interesse público. Segundo Fernanda Melchionna, há “problemas na gestão financeira, concessão de crédito, operações suspeitas, possível descumprimento das normas do sistema financeiro nacional e eventuais prejuízos aos consumidores”. A deputada afirmou ainda que a iniciativa faz parte do dever constitucional do Parlamento:
“Seguiremos firmes na fiscalização e no combate à corrupção”.
Heloísa Helena, por sua vez, adotou um tom duro ao defender a investigação e criticar a complacência histórica com grandes estruturas financeiras.
“As denúncias criam uma rede monstruosa de promiscuidades diversas… É nossa obrigação investigar. Cabe aqui a máxima do sertão: quem for podre, que se quebre”, afirmou. Em outra manifestação, a deputada ressaltou que “a fiscalização sempre implica enfrentamento a estruturas poderosas, por isso tantas vezes é deixada de lado pela covardia ou pela ética seletiva”.
Entre os principais focos da CPMI estão os prejuízos a mais de uma dezena de fundos de previdência de servidores estaduais, que teriam sido expostos a operações de alto risco ligadas ao Banco Master. Também entram no radar da comissão as possíveis omissões de órgãos reguladores, como o Banco Central e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), responsáveis por fiscalizar o sistema financeiro nacional, além da identificação de agentes públicos e privados que possam ter facilitado ou se beneficiado das operações investigadas.
O caso levanta questionamentos sobre blindagem patrimonial, lavagem de dinheiro e uso de instrumentos financeiros complexos para mascarar riscos, práticas que, segundo especialistas, vêm se tornando recorrentes em escândalos do sistema financeiro brasileiro. Parlamentares que defendem a CPMI avaliam que a investigação pode se tornar um “fio da meada” para expor um padrão mais amplo de crimes financeiros, com semelhanças a outros escândalos recentes envolvendo prejuízos bilionários e baixa responsabilização dos envolvidos.
Para que a CPMI saia do papel, o requerimento precisa reunir o número mínimo de assinaturas de deputados e senadores. Sem isso, a investigação não avança. Por essa razão, Melchionna e Heloísa Helena intensificaram a articulação política mesmo durante o recesso, numa corrida contra o tempo para evitar que o caso seja abafado antes mesmo de ser apurado.
Se instalada, a CPMI terá 120 dias para investigar os controladores do Banco Master, prazo que pode ser prorrogado por mais 60 dias. Para as deputadas, o objetivo é claro: romper a tradição de impunidade no andar de cima do sistema financeiro e demonstrar que o Parlamento não pode ser cúmplice do silêncio diante de fraudes que drenam recursos públicos e destroem economias de trabalhadores e servidores.
Em um país marcado pela tolerância histórica com crimes financeiros, a CPMI do Banco Master surge como um teste concreto da disposição política de enfrentar interesses poderosos em nome da transparência e da justiça social.