Por um feminismo anticapitalista: mulheres na linha de frente da resistência e da construção de uma alternativa
Tese das Mulheres do MES e independentes para o Encontro Nacional de Mulheres do PSOL.
1. Apresentação
Esta tese é um esforço concentrado das mulheres do Movimento Esquerda Socialista (MES) e independentes para reunir todo o acúmulo, ainda em processo de sistematização, de nossa concepção de feminismo. Trata-se de uma visão construída por meio de diversas iniciativas e debates, discussões que naturalmente se intensificaram desde que nos deparamos com uma nova onda feminista.
Em 2019, o MES completará 20 anos. A história da organização se confunde com a trajetória de inúmeras mulheres, militantes e revolucionárias, cujas ideias feministas — trazidas neste texto — foram semeadas ao longo dessas duas décadas e tomaram forma na construção do PSOL. Um marco importante desses anos de construção foi em 2014, durante a campanha de Luciana Genro, que, candidata à presidência, defendeu em rede nacional a legalização do aborto e as pautas históricas do movimento feminista, além do combate à transfobia.
Nossa visão sobre o movimento feminista multiplicou sua força nos inúmeros espaços do Setorial de Mulheres do partido — ferramenta que construímos desde a sua fundação. Tais ideias também se fortaleceram na atuação de nossas militantes em diversos movimentos, na luta da classe trabalhadora, nas grandes mobilizações, na resistência cotidiana, na condução de nossos mandatos, além de terem se enriquecido no debate teórico e na troca com intelectuais que buscam fazer do feminismo e do socialismo forças vivas na transformação da vida das mulheres e da sociedade.
Em um dado momento deste percurso, perdemos Marielle Franco, militante ativa das fileiras do PSOL, construtora empenhada de seu setorial de mulheres. É imprescindível e urgente a identificação de quem mandou matá-la e da motivação do crime, assim como a consequente responsabilização criminal do(s) mandante(s) da brutal execução da nossa companheira. É também imprescindível que nosso feminismo faça jus a seu legado.
Diante do que representa Marielle para a luta das mulheres hoje — e ante a nova fase da luta das mulheres em escala mundial, com forte expressão na América Latina e no Brasil —, identificamos a necessidade de dar um novo passo na definição e afirmação de nossas ideias.
Foi com esse objetivo que elaboramos este trabalho. Por meio de um retrospecto do que vimos pensando e debatendo nos últimos anos, ele significa um impulso para enfrentarmos os desafios presentes e futuros. Esperamos, assim, engendrar bases mais sólidas para o que consideramos ser nosso maior desafio: organizar a resistência a partir da luta das mulheres e construir para o país uma alternativa de poder à esquerda, socialista, conectada com a força do feminismo mundial. É sob essa perspectiva que apresentamos a presente contribuição.
2. Vivemos uma nova onda do feminismo no Brasil e no mundo
Nos últimos anos, observou-se em diversos países um crescimento significativo da luta das mulheres, que tomou as ruas, os lares, locais de trabalho e estudo, a mídia e os espaços de poder, endossando a hipótese de que vivemos uma nova onda do movimento feminista, que voltou a ser uma força política vital e relevante no mundo.
Desde 2011, uma série de episódios vem reforçando essa tese e evidenciando tanto uma maior adesão às ideias feministas quanto uma feminização dos protestos e mobilizações sociais: a Primavera Árabe (2010 a 2012), os Indignados da Espanha (2011), o Occupy Wall Street (2011), as Jornadas de Junho no Brasil (2013), entre outros. Desde então, grandes movimentos com recorte especificamente de gênero tiveram projeção internacional, a começar pela Marcha das Vadias no Canadá em 2011 e as massivas mobilizações na Índia em 2012 contra o estupro coletivo de uma jovem dentro de um ônibus. Atos massivos contra a cultura do estupro e violência contra a mulher, e pelo direito ao corpo e à sexualidade, passaram a se repetir em diversos países — geralmente utilizando as redes sociais como ferramenta de disseminação.
Na América Latina tivemos, em 2015, o movimento Ni Una Menos, fortalecendo a luta contra o feminicídio, bem como a luta pela legalização do aborto, que teve seu auge na Argentina em 2018. Precedida pelo exemplo das mulheres polonesas, que decretaram greve para protestar contra projeto de lei de banimento do aborto do país, a luta das argentinas sem dúvida foi um divisor de águas nas discussões e ações em torno dessa pauta em todo o mundo. Em um país de forte tradição católica (de onde inclusive o atual papa se origina), as mulheres conseguiram, usando seus pañuelos (lenços) verdes, a improvável aprovação, na Câmara dos Deputados, de um projeto de legalização do aborto. Ainda que este não tenha sido aprovado pelo Senado, a mobilização das argentinas impactou profundamente a opinião pública em relação ao tema, influenciando o movimento feminista mundial.
Nos Estados Unidos, em 2016, a eleição de Donald Trump, conhecido por suas inúmeras declarações misóginas e racistas, foi estopim para a convocação da Marcha das Mulheres, movimento que reuniu mais de um milhão de mulheres em Washington na posse presidencial, em 20 de janeiro de 2017, bem como em inúmeras outras cidades dos EUA e até de outros países. As eleições estadunidenses ocorridas dois anos depois refletiram este novo ascenso, por meio da conquista de cadeiras no Legislativo por muitas mulheres socialistas democráticas, sobretudos jovens, latinas e negras, a exemplo de Alexandra Ocasio-Cortez.
Esta indignação acumulada irrompeu nos atos do dia 8 de março, para quando foi convocada uma Greve Internacional das Mulheres com o slogan “Se nossas vidas não importam, produzam sem nós”. Neste ano, mais uma vez milhões de mulheres fizeram com que os atos de 8 de março transbordassem: Espanha, Chile e até Filipinas contaram com uma multidão de mulheres nas ruas no Dia Internacional da Mulher. Além disso, elas também têm sido destacada vanguarda política em uma nova etapa das revoluções árabes africanas1, que atingem atualmente Argélia e Sudão. Apesar das diferenças em relação ao Egito e à Tunísia, e mesmo entre si, esses dois países enfrentaram décadas de regimes autocráticos, que levaram a uma grande insatisfação popular, o que resultou na eclosão de uma forte mobilização contra o “sistema” — palavra de ordem das ruas.
Para essas mulheres, contudo, não basta conquistar uma participação parcial: diante da oportunidade de conseguir mais participação política, elas passaram a reivindicar a consolidação de seus direitos.
Na Argélia, além de não reconhecerem as eleições de fachada do velho regime, as mulheres incluíram em suas reivindicações a luta contra as leis que as subjugam aos homens. No Sudão, exigem a queda do governo militar, mas também o reconhecimento de seu papel de liderança — fundada em uma longa tradição das mulheres das classes populares — na revolta iniciada a partir da triplicação do preço do pão, em abril deste ano, em meio a uma grave crise econômica.
No Brasil, a Primavera Feminista de 2015 foi um marco para a afirmação da nova etapa do feminismo no país, tendo como estopim a proposta do então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, de restringir o acesso a contraceptivos de emergência. Foi a luta das brasileiras por direitos sexuais e reprodutivos, por fora das organizações feministas mais tradicionais ligadas ao governo petista, a voz mais contundente contra o odiado e poderoso político articulador do impeachment de 2015, que hoje está preso com apoio de boa parte da população.
Ainda em 2015, Brasília foi palco da maior Marcha das Mulheres Negras da história do país, reforçando também o início dessa nova onda de mobilizações feministas por aqui. Desde então, meninas adolescentes (de 12, 13 anos ou mais) passaram a ter o feminismo como uma bandeira própria, presente em sua vida cotidiana. Segundo pesquisa realizada pelo DataFolha, entre as conhecidas como millenials, 65% se identificam como feministas. Os últimos processos de luta das mulheres no Brasil, no entanto, demonstram que não são apenas as jovens que têm tomado para si a construção do feminismo, mas que há uma diversidade de perfis que acreditam na força das mulheres como via de conquistarmos melhores condições de vida. A busca pela igualdade entre os gêneros, o rechaço à condição de subjugação das mulheres e temas diversos da política nacional e local são assuntos que passaram a preocupar um número muito maior de mulheres.
Essa onda feminista, portanto, tem atingido todas as esferas da vida cotidiana e, felizmente, semeou frutos também nas casas de poder, pois o descontentamento de mulheres com a casta política que rege nosso país é flagrante. Durante as eleições em 2018, centenas de milhares de mulheres lideraram uma gigantesca manifestação contra Bolsonaro, na mobilização #EleNão. Naquele momento, elas já demonstravam que a política reacionária evidenciada nas aparições públicas e no programa de governo do então presidenciável seria ainda mais nociva para as mulheres.
Felizmente, apesar da eleição de Bolsonaro e seus asseclas, o número de mulheres eleitas para as Casas Legislativas mais do que dobrou em relação à legislatura anterior. Em um cenário tão preocupante, é extraordinário que a luta das mulheres tenha se fortalecido: o PSOL, por exemplo, elegeu uma bancada federal paritária, que conta hoje com Sâmia Bomfim (SP), Luiza Erundina (SP), Fernanda Melchionna (RS), Talíria Petrone (RJ) e Áurea Carolina (MG). Nos estados, inúmeras mulheres também ocuparam as Casas Legislativas, com destaque para Luciana Genro (RS) e Mônica Seixas, da Bancada Ativista (SP), além de tantas outras, como as três mulheres negras eleitas para a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro — Renata Souza, Mônica Francisco e Dani Monteiro, todas colaboradoras do mandato de Marielle Franco — ou, ainda, Erika Malunguinho, primeira deputada trans em São Paulo.
Diante disso, acreditamos que a possibilidade de derrotar a extrema direita passa necessariamente pelo fortalecimento da luta das mulheres, algo que tem sido expresso não só no Brasil, mas em todo o mundo. Nesse sentido, concordamos com a afirmação da socióloga Rosana Pinheiro-Machado, de que “a extrema direita venceu, mas as feministas também”, pois o reacionarismo ascendeu ao poder, mas o feminismo também se fortaleceu. Isto, no entanto, não significa que podemos subestimar a força de nosso adversário, mas que a construção de uma ampla resistência democrática à altura dos nossos desafios somente será possível se conseguirmos identificar e catalisar a enorme energia transformadora já reunida pela luta das mulheres até aqui.
3. Vivemos uma crise total da sociedade e da reprodução da vida, cuja causa fundamental é o capitalismo
A crise capitalista aberta há dez anos é um marco importante para compreendermos a emergência desse novo ciclo de mobilizações feministas pelo mundo. Com a crise, houve não só a quebra de um modelo econômico e de um padrão de dominação política, mas também, em contrapartida, a inauguração de um novo ciclo de lutas sociais, devido aos efeitos nefastos da contradição entre reprodução do capital2 e a reprodução social da vida3 produzida nesse período, que intensificou a acumulação capitalista pela via da espoliação dos bens e direitos da classe trabalhadora e dos recursos naturais.
A lógica do capital, de forma cada vez mais acelerada, passou a se apropriar de tudo aquilo que é público, comum ou coletivo (de direitos adquiridos a bens comuns assegurados), de modo a garantir sua reprodução. Assim, a manutenção e reprodução da vida foram colocadas em xeque, especialmente nas periferias, favelas e morros, áreas onde as maiores dificuldades da vida cotidiana se revelam, da falta de emprego à total ausência do Estado — que, muitas vezes, só se faz presente nas ações genocidas e racistas de suas forças policiais.
Nesse processo, a degradação ambiental também se aprofundou, provocando mudanças climáticas que causaram catástrofes, como o ciclone que devastou Moçambique e os inúmeros crimes ambientais decorrentes da exploração irracional dos recursos naturais, como nos casos de Brumadinho (MG), ocorrido neste ano, Barcarena (PA), em 2018, e Mariana (MG), em 2015.
O avanço ultraneoliberal vem atacando uma série de direitos historicamente conquistados, deteriorando rapidamente as condições de vida, agravado por um endurecimento do regime de dominação para intensificar a exploração da classe trabalhadora. Esse cenário crítico é bastante nítido no Brasil. Após a eleição de Jair Bolsonaro — que, sem dúvida, representou uma mudança na correlação de forças políticas em nosso país —, há maiores restrições às liberdades democráticas e melhores condições para aplicação de um ajuste econômico ainda mais severo contra o povo. Como se percebe, a principal função deste governo é viabilizar o arrocho sobre o povo — motivo pelo qual Planalto e Congresso Nacional seguem decididos a aprovar a Reforma da Previdência, por exemplo.
No entanto, os planos do governo são prejudicados pela balbúrdia instaurada entre os partidos da ordem, inclusive dentro do próprio PSL, e protagonizada por figuras importantes do primeiro escalão, como o próprio presidente. O ano começou com o afastamento do Secretário-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno; na sequência, o noticiário foi tomado pelo escândalo envolvendo Fabrício Queiroz — homem forte nas relações do clã Bolsonaro, braço direito de Flávio (senador e filho mais velho). Paira ainda no ar a questão do “laranjal do PSL”, esquema que atinge em cheio o Ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, sob suspeita de desvio de dinheiro das candidaturas femininas do partido. Além de seu aspecto ilegal e imoral, essa prática é um escárnio contra um direito conquistado por muita luta das mulheres.
Os números da economia corroboram com o sinal de alerta sobre essa profunda crise. O Brasil está novamente à beira da recessão. Projeções divulgadas pelo Boletim Focus, do Banco Central, apontam que o crescimento da economia deve ser de 1,49% neste ano, novamente rebaixando as previsões iniciais do governo.
Em março, o desemprego subiu para 12,7%, atingindo 13,4 milhões de brasileiros. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de subutilizados atingiu o recorde de 28,3 milhões de pessoas. Junto ao desemprego, aprofunda-se o congelamento de verbas para áreas sociais — fato revelado, por exemplo, numa crise sem paradigmas da educação pública. A fome e a violência também cresceram exponencialmente e as grandes cidades estão com um número cada vez maior de pessoas em situação de rua.
Sem dúvida, a população negra é a mais vulnerável nesse cenário4. Pouco mais de 130 anos após a abolição, as ferramentas de dominação usadas contra a maioria do povo brasileiro seguem arraigadas em nossa sociedade também por meio do racismo estrutural, que determina que a mão de obra negra, por exemplo, tenha o valor mais baixo nas relações de trabalho. Essa herança, somada às condições atuais do capitalismo, tornam a crise social mais aguda.
Para os povos ribeirinhos, quilombolas e indígenas, a situação também é alarmante. Quando ainda era parlamentar, Bolsonaro demonstrou seu desprezo por esses grupos étnicos em diversas ocasiões, como ao afirmar que as terras para eles demarcadas guardavam riquezas que deveriam ser exploradas. Esse discurso viola a garantia de autonomia, gestão e posse de territórios dos povos originários. Não é coincidência, portanto, que, desde a vitória eleitoral de Bolsonaro, tenham aumentado os ataques violentos de madeireiros e pecuaristas contra esses povos, diversas lideranças tenham sido assassinadas e outras estejam sob crescente ameaça, muitas delas mulheres.
Há, entretanto, brechas para que se resista, tendo em vista as diversas contradições e frentes de batalha que Bolsonaro abriu em seu próprio quintal, mesmo quando o apelo da burguesia é o de que ele se concentre no objetivo econômico: especialmente nas últimas semanas, a disputa entre “olavistas” e militares no interior do governo tem se agravado, algo que não só revela a instabilidade política do andar de cima, mas que faz com que o presidente, pressionado por sua base social de direita, leve adiante medidas ainda mais reacionárias, como os ataques sistemáticos à educação e ao pensamento livre. A isso se soma a incapacidade do governo de dar uma saída efetiva para a crise econômica em curso no nosso país, criando uma panela de pressão. Além do desemprego, a carestia dos itens de primeira necessidade provocam maior insatisfação entre a base bolsonarista, situação detonada, por exemplo, com a nova ameaça de greve entre caminhoneiros.
Autoritário e incapaz, Bolsonaro evidencia a cada dia seu despreparo à frente da presidência, que felizmente já começa a ser percebido por parcelas importantes do povo brasileiro. Três meses depois de assumir o governo, ele já tinha os piores índices de aprovação de um presidente em primeiro mandato, o que certamente está vinculado à publicização dos esquemas tenebrosos que envolvem sua família, bem como aos impactos de sua agenda econômica — desemprego, diminuição do salário mínimo, Reforma da Previdência, cortes na educação e áreas sociais etc. —, que ataca grande parte de seu próprio eleitorado. Mas, para que o novo brote diante deste caos, é necessário adubar a história com muita resistência.
4. As mulheres são um sujeito político estratégico na atual crise capitalista
A demanda por respostas e saídas para a crise é permanente. Trata-se de uma tarefa de grande magnitude, já que a situação é regressiva e exige uma mudança profunda que não se realizará sem uma mobilização de massas que adquira força revolucionária. E, por ora, alternativas claras não se consolidaram e a classe trabalhadora em seu conjunto encontra dificuldades de promover uma resposta unitária, haja vista o nível de fragmentação e debilidade do movimento operário. O grande impasse da nova situação aberta pela crise de 2008 se encontra no fato de que sujeitos políticos e alternativas anticapitalistas de massa não emergem e depreendem automaticamente das contradições do capitalismo, apesar de estas terem se tornado mais evidentes e gritantes. Ainda que, especialmente desde 2011, parcelas importantes da população tenha se levantado de diferentes formas em resistência às injustiças sociais promovidas pelos governos e partidos da ordem, em geral, ainda não foi consolidada uma alternativa clara. Além disso, as diversas lutas sociais, econômicas e democráticas travadas pela classe nos últimos anos não necessariamente se conectam e se afirmam com clareza em um projeto de negação do sistema, algo reforçado pela experiência subjetiva e ideológica com o capitalismo contemporâneo após o declínio dos regimes do “socialismo-real” e da social-democracia, pautada pela fragmentação, pela perda da totalidade e de projetos ou narrativas coletivas de transformação social. E o problema é que, para que a luta do povo avance, é necessário que a contradição entre o objetivo (crise do capitalismo, do regime e dos partidos) e o subjetivo (consciência, sujeito político, organização) se resolva.
Felizmente, este não é um processo homogêneo ou imutável. Nos últimos anos, tivemos exemplos de resistências democráticas e populares, como as protagonizadas pela juventude e pelas mulheres. Nestes setores mais ativos e dinâmicos, o anticapitalismo tem encontrado considerável adesão. A maré feminista, em particular, abriu um processo intenso de politização, engajamento e radicalização das mulheres, além de, sem dúvida, representar uma das principais trincheiras de resistência aos governos de extrema direita e aos planos neoliberais, sendo um dos únicos movimentos sociais hoje com capacidade de articulação e coordenação internacional, envolvendo simultaneamente mulheres em diferentes países.
Como atestam as feministas marxistas, isso acontece porque, devido à divisão sexual do trabalho, as mulheres estão à frente de um papel central para a reprodução da vida e do capital: o de cumprir as atividades ligadas ao chamado trabalho reprodutivo. Ao desempenharem o trabalho (na maioria das vezes não remunerado) de preparar comida, lavar roupas, procriar e criar filhos, as mulheres são responsáveis pela reprodução da força de trabalho, central para o funcionamento do capitalismo. Pois, se os trabalhadores não se alimentam, não socializam e não gozam de saúde plena, não há trabalho.
Em O Capital, Marx mostrou de que maneira a força de trabalho sustenta o sistema de produção de mais-valia, tendo em vista que a acumulação de capital só é possível quando os trabalhadores, em busca de meios de vida, vendem sua capacidade de trabalho por um salário. O que está ausente em sua análise, no entanto, é a forma como essa “mercadoria especial” é produzida e reproduzida, ou ainda, como ela é trazida à luz e criada: na “família da classe trabalhadora”5. Mais especificamente, Marx não apontou que o trabalho de produzir trabalhadores — que envolve as atividades de procriação e criação — tem uma característica de gênero, justificada inicialmente pela capacidade biológica da mulher e reforçada por um processo educacional baseado por ideologias como o mito do “amor materno”, que relega mulheres a atividades ligadas à esfera doméstica. Assim, as mulheres no lar cumprem um papel decisivo na reprodução diária e geracional da força de trabalho que a sociedade capitalista precisa.
O problema atualmente colocado é justamente que esse tipo de atividade ligada à reprodução social é um dos mais afetados em momentos de crise. Como explicam as autoras do manifesto por um “feminismo para os 99%”:
“Na fase anterior do desenvolvimento capitalista, social-democrata (ou administrada pelo Estado), as classes trabalhadoras dos países ricos obtiveram algumas concessões do capital na forma de apoio estatal à reprodução social: pensões, seguro-desemprego, salário-família, educação pública gratuita e seguro-saúde (…). O capitalismo neoliberal, financeirizado, é algo completamente diferente. Longe de empoderar os Estados para estabilizar a reprodução social por meio de provisões públicas, ele autoriza o capital financeiro a disciplinar Estados e povos nos interesses imediatos dos investidores privados”.6
Nesse cenário, as mulheres se deparam com maiores dificuldades para empenhar o papel reprodutivo e de preservação da vida que lhe é socialmente designado, ao terem sua jornada de trabalho intensificada, seus salários achatados e direitos historicamente conquistados retraídos. Afinal, além do trabalho reprodutivo, as mulheres também cumprem papel fundamental no trabalho produtivo, já que são parcela importante do mercado de trabalho no Brasil. E esta combinação entre trabalho reprodutivo e produtivo que compõe a dupla e tripla jornadas de trabalho das mulheres faz com que elas trabalhem mais do que os homens — tarefa que, com a crise, se torna ainda mais árdua. E, à medida que isso acontece, torna-se mais latente a consciência das mulheres sobre sua condição de opressão, exploração e discriminação, bem como sua disposição para luta.
Vale destacar que a crise não atinge igualmente todas as mulheres, sendo as de classes subalternas, trabalhadoras, negras, imigrantes as que mais encontram dificuldades para garantir mínimas condições de vida. Isso é evidente no caso do trabalho doméstico, que possui forte caráter de classe e racial. No caso brasileiro, devido à herança colonial, são sobretudo as mulheres negras as responsáveis por desempenhar tal trabalho reprodutivo. Assim, a atividade do cuidado e responsabilidade sobre a vida é comum a todas as mulheres, mas incide com uma intensidade muito maior sobre as da classe trabalhadora e, especialmente, sobre as mulheres negras. Ao longo da história, tem sido esta uma das principais formas para sua inserção no mercado de trabalho no Brasil. Foi reservado à mulher negra o trabalho doméstico, além do trabalho manual sempre pouquíssimo prestigiado, no campo e na cidade. Coube a elas servir às famílias realizando tarefas que não cabiam às sinhás, como lidar com a sujeira7.
Assim, as mulheres negras sempre trabalharam fora de suas casas (inclusive fora de seus territórios), tendo uma jornada que incluía as casas dos patrões e as suas próprias. Diferente, portanto, das mulheres brancas. Para ambas, o trabalho reprodutivo nunca foi devidamente reconhecido e protegido pelo Estado, ainda que sobre as mulheres negras isso incida de forma ainda mais violenta. Um exemplo disso são as trabalhadoras domésticas, que só conquistaram a regulamentação do trabalho no ano de 2013. Exploradas desde a infância com a promessa de melhoria na condição de vida, subalternizadas pelo trabalho infantil doméstico, as mulheres negras servem às famílias desde tempos remotos e, infelizmente, foram elas que possibilitaram que outras mulheres estudassem e conquistassem trabalho fora de casa.
No entanto, o processo atual revela que o crescimento da “consciência feminina” e da disposição de luta das mulheres — em curso no Brasil e no mundo — pode assumir, por sua vez, cada vez mais, um sentido transformador, ativando uma subjetividade anticapitalista que consolide as mulheres como sujeito político fundamental na luta contra o sistema, tendo em vista que a crise da reprodução social tornou-se um aspecto fundamental da luta de classes. Pois, à medida que as mulheres buscam pôr fim ao papel social designado a elas (o de assegurar a manutenção da vida de seus entes e, quando possível, de sua comunidade), muitas delas acabam se chocando frontalmente com um sistema que lhes nega essas condições, algo que tem levado a uma progressiva tomada de consciência sobre a relação entre a opressão das mulheres e a lógica deste sistema capitalista.
Esta é a aposta de um feminismo que se reivindica anticapitalista, isto é, um feminismo que entende que a situação de opressão que vive hoje a maioria das mulheres — “pobres e da classe trabalhadora, das mulheres racializadas e das migrantes, das mulheres queer, das trans e das mulheres com deficiência” — está profundamente vinculada ao sistema social que produz esta opressão8. O que a atual conjuntura reforça, portanto, é a necessidade de reconsolidar, no interior da pluralidade de visões e vertentes que hoje compõe o movimento feminista, a importância da perspectiva anticapitalista para a luta pela emancipação da mulher — tal como apresentado pelo recente manifesto escrito por feministas nos Estados Unidos por meio da consigna do “feminismo para os 99%”. Nunca foi tão atual e necessário um feminismo que consiga aliar a luta das mulheres com a luta contra o sistema; que não separe a luta por igualdade de gênero e pela emancipação da mulher da necessidade de superar o racismo, a homofobia, a devastação da natureza e a exploração do trabalho; que tenha as mulheres como sujeitos estratégicos para mudar os rumos da sociedade. Ou seja, que parta da noção de que a luta das mulheres pode e deve mudar o mundo.
5. Da “consciência feminina” à “consciência socialista” — as mulheres como protagonistas na construção uma alternativa política
Conforme exposto, as mulheres (trabalhadoras, negras, migrantes) são hoje sujeitos estratégicos em potencial na luta contra o capitalismo. Não são uma classe em si mesma (como, em grande medida, consideram algumas correntes feministas), mas parcela considerável e fundamental da classe trabalhadora — correspondendo a metade da população, que é responsável por parir e cuidar da outra metade —, que tem sido atingida pela crise. Por conta de seu papel na manutenção da família, fruto da divisão sexual do trabalho, são elas, ao mesmo tempo, que se sentem mais responsáveis por lutar pela vida. Por isso, em diversas partes do mundo, são as mulheres que estão na linha de frente da resistência — seja nas mobilizações feministas ou nas greves, nos protestos, nas lutas das comunidades, nos bairros, nas lutas por territórios.
Por isso se faz tão necessário pensar estratégias para organizá-las — algo que é objeto de debate hoje no interior do movimento feminista internacional. Afinal, como devem se organizar as mulheres?
Grosso modo, o eclipse do imaginário socialista e o desencantamento com projetos de transformação social no final do século XX fizeram com que as ações e debates do movimento feminista, e de outros movimentos sociais, passassem a se referenciar menos nas concepções clássicas de emancipação social (luta de classes, exploração, revolução, partido) e mais em conceitos como de diferença e identidade cultural. Como coloca a filósofa e socióloga feminista Nancy Fraser, as lutas de natureza simbólica e cultural (ligadas às questões de gênero, raça, sexualidade, nacionalidade) tornaram-se uma “forma paradigmática de conflito político”:
“a identidade de grupo suplanta o interesse de classe como o meio principal de mobilização política. A dominação cultural suplanta a exploração como a injustiça fundamental. E o reconhecimento cultural toma o lugar da redistribuição socioeconômica como remédio para a injustiça e objetivo da luta política”.9
Ou seja, depois do fim do “socialismo real”, houve uma intensa politização das diferenças étnicas e culturais, ao passo que ocorreu uma acelerada despolitização da economia, cada vez menos contestada pelos movimentos sociais, de forma que “a busca pela igualdade social, que teria pautado as lutas políticas por quase 150 anos, estaria, assim, sendo substituída pela luta pelo reconhecimento das diferenças, central para os chamados ‘novos’ movimentos sociais”. Na prática, isso fez com que o desejo de pertencimento e de identidade a um movimento ou grupo se sobrepusesse a perspectivas totalizantes e à adesão a organizações políticas tradicionais, como os partidos, entendidos como obsoletos e inadequados para a organização da multiplicidade de sujeitos que configuram as lutas sociais contemporâneas, e que não se encaixam na definição clássica moderna de “proletariado”. Além disso, ao privilegiarem, em sua maioria, as questões de dominação em detrimento da questão de classe, substituíram estrategicamente o econômico pelo cultural e político, recolocando as raízes do problema das opressões não no nível do capitalismo, mas no âmbito individual, das instituições e do Estado, enfatizando formas locais, individualizadas e fragmentadas de resistência, em detrimento de perspectivas totalizantes de transformação social.
A atual onda feminista mostra caminhos para superar essa oposição entre “política de classe” e “política identitária” que tomou os conflitos de tipo “pós-socialistas” no final do século XX, pois, como bem apontam as autoras do manifesto por um “feminismo para os 99%”, a luta de classes hoje é, ao mesmo tempo, “feminista, internacionalista, ambientalista e antirracista”, de forma que o movimento feminista “deve unir forças com outros movimentos anticapitalistas mundo afora — movimentos ambientalista, antirracista, anti-imperialista e LGBTQ+, e sindicatos”10. Está cada vez mais evidente que, por si só, as múltiplas formas de resistência baseadas em grupos e identidades não conseguirão dar, sozinhas, respostas efetivas para os problemas, sendo necessária uma reunificação, que só uma visão antissistêmica pode oferecer.
Isso significa reconhecer não a oposição e incompatibilidade, mas a complementaridade dialética entre “políticas de classe” e “políticas de identidade”. Em termos teóricos, trata-se (na ótica do feminismo marxista) de integrar, em uma teoria unitária, as ferramentas da interseccionalidade e as análises sobre a reprodução social, dando um salto na compreensão sobre as relações de gênero, raça e classe e sua relação dialética com o todo capitalista. Ou seja, entender como as formas de opressão têm, na verdade, um caráter “diversificado-mas-unificado”, pois estão intrinsecamente integradas num determinado contexto social, que é a vida sob o sistema capitalista, entendido como uma totalidade articulada e contraditória de relações de exploração, dominação, alienação.11
Disso, deriva a defesa de um feminismo que não separa a luta por reconhecimento da luta por justiça econômica, e, consequentemente, uma estratégia política que não recai nem numa mera somatória de opressões, nem na defesa de hierarquização de uma única opressão, entendida como prioritária. O foco passa a ser enxergar, de maneira dialética e histórica, que gênero, raça e classe integram a reprodução de um todo social — o capitalismo — que, em sua forma concreta, é racializado, patriarcal e valora a vida e o trabalho das pessoas de acordo com suas diferenças.12 A partir desta compreensão fundamental, torna-se evidente a necessidade de lutar contra o sistema e de construir amplas alianças entre as lutas antirracista, feminista, sindical, ambientalista, numa visão “combinada e desigual”, que respeite as diferenças, conectando-as ao mesmo tempo à lógica social que as oprime de diferentes maneiras.
6. Unidade da diversidade para a construção de uma alternativa
Para nós, tal visão anticapitalista da luta feminista requer que as mulheres, além de organizadas em movimentos, também estejam engajadas na construção de ferramentas como o partido. Isto porque a forma partido, na perspectiva revolucionária, tanto permite a organização dos/as trabalhadores/as para a disputa de projeto e poder, quanto é uma “unidade da diversidade”, um guarda-chuva e mediador de diferentes experiências parciais e segmentos sociais que visam a superação do capitalismo, sendo capaz de acumular lições históricas e, portanto, propiciar uma visão totalizante e estratégica que muitas vezes falta aos imediatismos e espontaneísmos das ações de ativistas de movimentos. Como define o filósofo e dirigente da Quarta Internacional Daniel Bensaid, retomando Lenin, é precisamente “a forma partido que permite intervir sobre o campo político, agir sobre o possível, não sofrer passivamente os fluxos e refluxos da luta de classes”:
“O partido é, portanto, o elemento de continuidade nas flutuações da consciência coletiva. A história não é a de uma marcha triunfal de qualquer força tranqüila rumo ao desenlace garantido da história, mas um tecido de lutas, de crises e de fraturas. O partido não se limita a esclarecer um processo orgânico e natural de emancipação social. Ele é constituinte das correlações de forças, gerador de iniciativas, organizador da política, não no futuro simples, mas no condicional. Ele é, dizendo de outra maneira, um organizador dos diversos tempos, a condição de um pensamento estratégico que ultrapassa o horizonte imediato da tática política do dia a dia, do passo a passo, rigorosamente sem princípios”.
Aqui, novamente, não se trata de opor a organização em partidos ou movimentos mas, antes, a necessidade de ambos. Em realidade, na atual conjuntura — em que o sistema político e as superestruturas partidárias estão desacreditadas, ao reproduzirem a lógica da corrupção, do carreirismo e dos privilégios — a concepção que reivindicamos é justamente a de um “partido-movimento”. Um partido que se permita penetrar pelas características dos movimentos (por seu dinamismo e práticas coletivas de tomada de decisão, por exemplo), um partido em movimento (designado para a ação e em transformação contínua) e um partido que seja parte ativa dos movimentos (buscando influenciar as lutas sociais, sem controlá-las).
A construção de um partido-movimento, orientado por uma política de emancipação, é uma ferramenta poderosa para a luta feminista hoje. É a forma que permite a aliança e unificação de diferentes movimentos em torno de um projeto anticapitalista comum, com programa e visão estratégica. Cria a possibilidade de uma reconexão entre o movimento feminista e o dos trabalhadores, que foi perdida no final da segunda onda e é reanimada no atual contexto de crise, sobretudo a partir da construção das greves de mulheres, resgatando um feminismo que reivindica os métodos da classe (greves, marchas, bloqueios etc.), atuando na democratização e renovação do sindicalismo clássico. Ou, ainda, é o que pode fazer a consciência feminina avançar para uma consciência socialista, ao dar horizonte para a luta pela emancipação das mulheres, entendendo-se que elas só serão livres a partir de uma mudança tanto das relações sociais e de poder, quanto da forma como está organizado o mundo do trabalho, ou seja, que a resposta política para os problemas das mulheres passa pela construção e defesa de um novo tipo de sociedade.
7. Postular o PSOL como alternativa para as mulheres e para os 99% e seguir na linha de frente da resistência
Por tudo isso que vimos expondo até aqui, acreditamos que devemos continuar fortalecendo o PSOL. As mulheres já demonstraram ter força e disposição para resistir no Brasil, mas é preciso também apresentar e construir uma alternativa — que não apenas dê voz às mulheres, mas que também seja parte de um novo projeto de país — anticapitalista e anti-regime. A atmosfera social em que vivemos, especialmente desde 2008, fez reacender a atuação dos movimentos sociais e a busca por perspectivas antissistêmicas, em especial entre uma nova geração de ativistas. Precisamos apostar no potencial de tais mobilizações, para que elas avancem na construção de uma alternativa política de massas.
Por isso, como mulheres do partido, devemos buscar nos aliar aos demais movimentos de resistência, participando ativamente das batalhas contra a exploração do trabalho, da luta antirracista, anti-lgbtófica, anti-imperialista, ambientalista, contra a corrupção, entre outras. Nosso objetivo, além de construir essa ampla aliança para resistir aos mais graves ataques, deve ser também “dividir o bloco populista reacionário: separar as comunidades operárias das forças que promovem o militarismo, a xenofobia e o etnonacionalismo, que, se apresentando como defensores do ‘homem comum’, são criptoneoliberais”, como apontam as autoras do manifesto “Feminismo para os 99%”.
Nesse sentido, é fundamental que o PSOL assuma uma política para desdobrar essa tarefa. Muitos dos que votaram em Bolsonaro o fizeram sem concordar integralmente com seu programa. Não à toa, pesquisas têm mostrado que a maioria da população é contra a flexibilização do porte de armas, contra a reforma da previdência e contra o pacote de Sérgio Moro, por exemplo. Essa confusão está expressa pelo povo e entre as mulheres. Por isso, temos que separar os setores populares daqueles que são beneficiados pelo programa ultraliberal e conservador defendido pelo bloco de sustentação do governo. Mais do que ficarmos no #EuAvisei, é imperativo seguir com a criatividade do #ViraVoto, mostrando a verdadeira face de Bolsonaro e ganhando gente para nosso lado. Somente assim podemos derrotar esse projeto. O PSOL, por sua trajetória de coerência e combatividade, tem mais condições de dialogar com esse público.
Além disso, devemos seguir apostando no fortalecimento de figuras femininas, feministas e combativas, que propagandeiam nosso programa. Nós, do MES, fortalecemos essa política desde a campanha presidencial de 2014 e temos orgulho dos mandatos de Fernanda Melchionna, Sâmia Bomfim, Mônica Seixas, Luciana Genro e Fernanda Miranda, além de Vivi Reis, primeira suplente de deputado federal no Pará. Também reivindicamos a presença de mulheres dirigentes na linha de frente, seja no Juntas, na Rede Emancipa ou no Mover. Por isso, as mulheres do PSOL têm um papel decisivo na afirmação do partido como alternativa para os 99% no país.
Com efeito, diante da atual conjuntura, temos uma série de desafios. Por isso, gostaríamos, por fim, de destacar a centralidade de alguns deles para o movimento feminista e o PSOL:
a) Fortalecer o feminismo como vanguarda da resistência ao bolsonarismo e construir uma alternativa política que apresente uma perspectiva de transformação estratégica para o país.
A eleição da primeira mulher presidenta da República mostrou que gênero, por si, não é dado suficiente para se constituir como saída política. Por isso, ainda que, simbolicamente, a eleição de uma mulher para o cargo tenha sido um avanço para o Brasil, o governo de Dilma foi mais um capítulo no recuo nas pautas das mulheres, ao se priorizar o pacto da governabilidade com os conservadores. Para a população, e também para as mulheres, o projeto petista se esvaziou. Não à toa, setores das periferias de grandes cidades que, antes, haviam votado no PT, nas últimas eleições votaram em Bolsonaro. Vivemos um momento em que os partidos que foram protagonistas da política no Brasil desde a redemocratização estão desacreditados. Nesse sentido, o PT, que governou por 13 anos durante a Nova República, cumprindo boa parte do script político dos demais partidos da ordem, também se enfraqueceu com a crise política deste regime.
Nesta crise, que também é política — além de social —, o bolsonarismo se constituiu como alternativa. Além de negá-lo, é imperativo apresentar outra saída. O movimento feminista só será capaz de desdobrar seu papel como sujeito político se puder responder também às necessidades coletivas de reprodução social da vida, para além da defesa dos direitos individuais das mulheres. Ou seja, o movimento feminista — sem jamais abandonar a luta por igualdade de gênero — tem o desafio de impulsionar um amplo movimento de resistência democrático, que aglutine todos os setores contrários (personalidades, partidos e movimentos) ao governo Bolsonaro. E, ao mesmo tempo, forjar um feminismo antissistêmico, anti-regime e, portanto, anticapitalista. O “Feminismo para os 99%” convoca as mulheres, em todo mundo, para tomarem para si a tarefa da construção de uma alternativa política nesta conjuntura de crise. No Brasil, isso passa, necessariamente, em nossa opinião, por derrotar o bolsonarismo e, ao mesmo tempo, fortalecer o PSOL como projeto de poder alternativo.
b) Justiça para Marielle
Para derrotar aqueles que governam o Brasil, antes de tudo, é necessário fazer justiça a Marielle Franco — que era o absoluto oposto desse projeto político que ascendeu ao poder no país. Mulher negra, LGBT e oriunda de uma das maiores favelas do Rio (a Maré), diferente da maioria das mulheres com o mesmo perfil, conseguiu chegar à Câmara Municipal do Rio de Janeiro, sendo a mulher mais votada daquela eleição. Marielle era símbolo da Primavera Feminista, da necessidade de democratização da política, eco das vozes de 2013, força da revolta das mulheres e da juventude negra. Ela levou para os palácios o grito contra as chacinas e as injustiças sociais que impõem sofrimento a inúmeras mães e famílias brasileiras sobretudo nas periferias.
Tudo indica que ela foi assassinada por milícias do Rio de Janeiro, organizações criminosas cujos membros foram abrigados e ostensivamente agraciados pelo mandato de Flávio Bolsonaro. Somam-se a isso as relações de Flávio, e do próprio pai Jair, com Fabrício Queiroz, alvo de investigações por, dentre inúmeros rolos, relação com membros de organizações criminosas.
Para lhe fazer justiça, será necessário, em primeiro lugar, revelar a mando de quem e por qual motivo ela foi executada. É preciso trazer à tona os mandantes do crime, inclusive para que possamos saber com quem eles mantinham relação. Ao mesmo tempo, fazermos jus ao legado de Marielle significa sermos coerentes com tudo o que ela representava. Parte importante de seu legado cabe ao movimento feminista defender e concretizar.
c) Barrar o projeto da Reforma da Previdência
Como vimos, as políticas alavancadas pelo governo Bolsonaro atacam diretamente a vida das mulheres brasileiras, em especial as mulheres negras, pobres e indígenas, como é o caso da atual proposta de Reforma da Previdência.
Desde que passou a ser garantida pela Constituição, a Previdência Social tem sofrido tentativas de desmontes sequenciais — especialmente por representar uma das principais formas de distribuição de renda no país, contrariando os interesses dos grandes empresários. Estes querem acabar com o princípio da solidariedade, por meio do qual os mais ativos financiam a aposentadoria e outros benefícios dos que não conseguem trabalhar e ter uma renda própria. Isso é o que atualmente permite que idosos e pessoas em situação adoecida tenham renda e condições de vida. Ao proporem, em contrapartida, a capitalização da previdência — que substitui o sistema de coletividade pela construção individual de uma “poupança” — os poderosos interessados em lucrar com a reforma evidenciam que a vida e os interesses coletivos valem menos que os seus próprios interesses financeiros.
As mulheres encontram-se em situação especialmente desfavorável diante dessa proposta. Responsáveis por serviços não remunerados, como o cuidado da casa, dos filhos e da família, a dupla jornada de trabalho confere às mulheres desgastes físicos e psicológicos de forma acelerada. As mulheres negras, que ocupam em sua maioria empregos precarizados e em muitos casos cuidam não somente das suas, mas de outras famílias, sentem o envelhecimento de forma substancial. De acordo com essa perspectiva, são as mulheres negras e periféricas as principais atingidas com a aniquilação do sistema solidário da previdência: segundo o IBGE, homens e pessoas brancas estão à frente de mulheres e pessoas negras em relação ao rendimento mensal. Segundo pesquisa publicada pelo IBGE em 2018, brancos ganham em média 44% a mais que negros e homens 23,9% a mais do que mulheres. Além disso, a proposta de reforma do governo dinamitará totalmente as condições de vida das mulheres trans e travestis, que, em sua maioria, não conseguem concluir o ensino básico e são “invisibilizadas” em empregos precarizados como telemarketing ou na prostituição. Ou seja, ao capitalizar a previdência, o que se estabelece, na prática, é a sentença de morte a milhares de mulheres abandonadas, então, pelo Estado.
Em um país como o nosso — no qual nunca houve equiparação de direitos trabalhistas, levando-se em consideração gênero, classe e raça —, a Reforma da Previdência significa um cruel aprofundamento das desigualdades existentes. As mulheres terão que trabalhar mais do que já fazem hoje para se aposentar, ainda mais se levarmos em conta a dupla (ou tripla) jornada de trabalho, desconsiderada por essa reforma que propõe a equiparação da idade mínima entre homens e mulheres para aposentadoria. As motivações para tanto revelam o caráter misógino dessa proposta, na medida em que reforça a ideia de que o trabalho doméstico — ao qual as mulheres dedicam o dobro de tempo que os homens, segundo dados do IBGE — deve ser uma obrigação e responsabilidade delas. Vale destacar que os avanços em relação à valorização e concessão de direitos trabalhistas às empregadas domésticas — a cuja regulamentação Bolsonaro se opôs — representam, nesse sentido, um marco vitorioso, ao reconhecê-las enquanto profissionais e trabalhadoras.
Além disso, a Reforma da Previdência diminui o valor da aposentadoria de mulheres aposentadas por invalidez e torna quase impossível a aposentadoria de mulheres do campo — mulheres, inclusive, que sofrem com a classificação “automática” dos residentes em áreas rurais (latifundiários, em maioria) no grupo para o qual o acesso a armas de fogo deve ser ampliado. Relegam, assim, essas mulheres a uma condição de invisibilidade, mortes e feminicídio, o que somente evidencia que suas vidas não passam de moedas baratas para esse governo.
A guerra também foi decretada contra as professoras. Seu protagonismo, tanto nas greves que aconteceram em 2018 (como o Sampaprev em São Paulo), quanto na disputa contra a censura nas escolas, mostram um caminho importante de luta — caminhos que amedrontam os poderosos. Para essas mulheres, foi estabelecida uma idade mínima de 30 anos de contribuição — mais um ataque brutal à educação e às educadoras, em uma realidade na qual a profissão docente é extremamente desvalorizada e envolve uma série de dificuldades, com 66% das professoras e professores já tendo precisado se afastar do trabalho por questões de saúde, de acordo com pesquisa realizada pela Associação Nova Escola em 2018.
Com a promessa de R$ 40 milhões em emendas para cada deputado que votar a favor da reforma, mesmo tendo em vista que 51% da população se opõem à proposta, segundo pesquisa do Datafolha, o governo demonstra forte empenho em aprová-la a qualquer custo. Seu caráter misógino a localiza enquanto peça chave no enfraquecimento das mulheres trabalhadoras, e, por isso, é imperativo que a luta contra a Reforma da Previdência seja um centro da disputa do movimento de mulheres no Brasil e que se construa uma ampla e democrática trincheira de resistência, capaz de agregar os diversos setores dispostos a barrar esse enorme retrocesso para a vida do povo.
d) Lutar pela vida
O governo Bolsonaro tem como uma política deliberada o ataque às mulheres, seja de forma direta — com medidas que acentuam a vulnerabilidade das mulheres em relação à violência — ou pela omissão em relação às demandas latentes que ceifam vidas diariamente, como o combate ao feminicídio.
Somente nos dois primeiros meses de 2019, 344 casos de feminicídio foram oficialmente registrados no Brasil, com uma média de aproximadamente 6 casos por dia, no quinto país onde mais se mata mulheres no mundo. Diariamente dezenas de casos de agressões e assassinatos de mulheres estampam os noticiários. Alguns, como o caso de Tatiane Spitzner13 e da travesti Quelly da Silva14 (reforçando o alto índice de mortes de mulheres trans no nosso país, o que mais mata LGBTIs no mundo15) ganham repercussão nacional e demonstram a urgência em estabelecer políticas públicas que freiem essas estatísticas.
Caso houvesse a mínima preocupação em relação a essa condição gritante, tanto o Ministério da Justiça quanto o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos apresentariam medidas de caráter prioritário para reverter esse quadro vergonhoso. Em contrapartida — acometida de uma aparente cegueira intencional —, as referências à condição da mulher por parte da Ministra da Família, Mulher e Direitos Humanos, Damares Alves, perpassam por afirmar que o papel da mulher na família é o de submissão ao homem, ideia que serve como justificativa para a maioria dos casos de feminicídio, costumeiramente motivados por ciúmes e pela ideia de propriedade do corpo feminino. Já Bolsonaro, ao convidar o mundo a conhecer as mulheres brasileiras e estimular o turismo sexual, legitima as práticas de violência, estupro e assassinato — que vêm sendo combatidas arduamente pelo movimento feminista há décadas. Seu discurso de ódio, no limite, incentiva a perseguição ou ainda a liquidação de um suposto inimigo.
Além de naturalizar esse cenário de violência, o governo Bolsonaro, de forma grotesca, toma como peça principal de seu projeto político a apologia ao armamento. A proposta apresentada por seu Ministro da Justiça, Sérgio Moro, que flexibiliza a legislação para posse de armas, secundariza e ignora os dados do Ministério da Saúde de 2017 — que indicam que, dos 4.787 óbitos de mulheres por agressão, 2.577 ocorreram por meio de armas de fogo, o que corresponde a mais de 50% dos casos. Além disso, seu pacote “anticrime”, ao conceder permissão às forças policiais para matar em caso de “escusável medo, surpresa ou violenta emoção”, aumenta e legitima a letalidade de agentes do Estado. A indefinição do em torno do que seria uma “violenta emoção”, por exemplo, abre brecha para a subjetividade absoluta, o que também significa autorizar diversos casos de feminicídio. Vale lembrar que, sob essa ótica, diversas condenações por feminicídio poderiam ser revistas, o que representaria um retrocesso absurdo no que diz respeito às vitórias do movimento de mulheres.
E esta licença para matar nas mãos do Estado tem alvo principal: a juventude negra e periférica. A cada 23 minutos, um jovem negro é morto no Brasil. Essa realidade impacta as mulheres, negras e periféricas em maioria, de forma substancial em seus núcleos e lares, ao serem condicionadas ao pior dos sofrimentos, com a execução sumária de seus familiares. Bruna da Silva, mãe de Marcos Vinícius (morto a caminho da escola, na Maré, durante operação policial), e Luciana Nogueira, esposa de Evaldo dos Santos (contra o qual militares do Exército dispararam 80 tiros em Guadalupe), bem como as Mães de Manguinhos, são alguns dos exemplos de mulheres que se levantaram frente a isso, entre tantas outras que são o verdadeiro “motor da resistência” contra a violência de Estado que vitima tantos jovens negros cotidianamente, sobretudo nas favelas.
Ni una a menos. Esta breve expressão norteou a luta das mulheres contra o feminicídio, em defesa da vida, e traduziu o sentimento contido no levante feminista que tomou as ruas da América Latina desde 2015. Transbordando barreiras continentais, se espalhou pelo mundo como um grito de esperança e de fortalecimento do movimento de mulheres. É primordial, portanto, que o movimento de mulheres tome como prioridade a defesa da vida e que uma forte e muitíssimo ampla rede de ação e proteção seja estabelecida. Por nem uma a menos, para que nem uma mulher seja deixada para trás.
e) Nossos corpos, nossas regras
A luta pelo controle dos corpos femininos é central na atual onda do feminismo, além de um fenômeno que acompanha o surgimento do capitalismo.
Como relata a professora Silvia Federici, “as mudanças que a chegada do capitalismo introduziu na posição social das mulheres”16 confinou-as ao trabalho reprodutivo, que passou a ser uma atividade depreciada, não produtora de valor, secundária em relação ao trabalho produtivo. E para garantir tal confinamento, foi preciso quebrar o controle das mulheres sobre seus corpos e sobre a reprodução. Isso foi feito principalmente por meio da política de “caça às bruxas”, que demonizou o controle da natalidade e a sexualidade não reprodutiva vigente na Idade Média, e implementou penas mais severas ao aborto, à contracepção e ao infanticídio. Nesse processo, as parteiras foram marginalizadas, pois era necessária uma vigilância estrita às mulheres durante a gravidez. Assim, os médicos homens passaram a tomar conta dos partos, expulsando o grupo de mulheres que se reunia em torna da futura mãe e tirando das mulheres o controle sobre este momento.
Bell Hooks (pseudônimo da teórica feminista Gloria Jean Watkins) ainda destaca que as mulheres negras foram o principal alvo entre aquelas assassinadas como bruxas na sociedade colonial americana. Tais mulheres eram taxadas como aberrações primitivas descontroladas, a perfeita encarnação de um erotismo desenfreado. A caça às bruxas exerceu, desse modo, um papel decisivo na construção da nova função social das mulheres e da degradação de sua identidade social. Foi negado às mulheres o controle sobre seus corpos, a maternidade foi transformada em uma obrigação e a reprodução tornou-se o lugar de confinamento das mulheres. Isto coloca a sexualidade e a procriação como pontos fundamentais na história da opressão feminina.
Disso decorre a importância de continuarmos na luta pela descriminalização do aborto, pelo amplo acesso aos métodos contraceptivos, na denúncia e combate à violência obstétrica, pela desmistificação da maternidade enquanto o mais importante lugar de realização das mulheres, pela divisão igualitária do trabalho doméstico, além da luta por creches, restaurantes e lavanderias populares.
f) Pela demarcação das terras indígenas e pelo reconhecimento dos territórios quilombolas
As mulheres indígenas e quilombolas também estão na linha de frente da luta em defesa da vida e dos direitos das mulheres. Foram protagonistas de um dos primeiros enfrentamentos a esse governo, logo no dia 31 de janeiro, contra a retirada de direitos dos povos indígenas. Marcharam pela demarcação de seus territórios, mobilizaram-se pela volta da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) para o Ministério da Justiça e ao redor da campanha #nenhumagotaamais — pelo fim do genocídio dos povos indígenas. Na luta contra a municipalização da saúde indígena e no Acampamento Terra Livre de 2019 demonstraram igualmente sua força.
São as guardiãs da floresta. Lutam para que os “não indígenas” compreendam que natureza e rios preservados são um benefício para todo o planeta, não somente para os povos que neles habitam. Além disso, hoje se mobilizam para que seus direitos, garantidos na Constituição Federal, sejam respeitados por esse (des)governo.
É preciso reparar as incontáveis agressões que os povos indígenas vêm sofrendo em 519 anos de genocídio e usurpação de sua cultura e direitos. Por isso, nosso feminismo também deve fortalecer as mulheres indígenas, que são protagonistas e seguem lutando por suas vidas, por sua cultura, em defesa da sua territorialidade e por um modo de vida em harmonia com meio ambiente. As vidas das mulheres indígenas importam e sua luta é pela demarcação de suas terras e por nenhuma gota a mais de sangue indígena derramado.
As comunidades quilombolas também resistem. Na maior parte de seus territórios, as autoridades tradicionais são hegemonicamente mulheres, sob a liderança das matriarcas (anciãs, pretas velhas). São parteiras, benzedeiras, curandeiras, caixeiras, mães de santo, guardiãs dos saberes dos ciclos da natureza e dos poderes de cura de plantas medicinais. E as mulheres quilombolas também enfrentam a tentativa de destruição de seus territórios por parte de mineradoras e do agronegócio. No Maranhão, por exemplo, há forte resistência, inclusive com prisão de mulheres acusadas de cortar as cercas dos latifundiários. As mulheres são a maioria dos casos de lideranças quilombolas perseguidas e ameaçadas de morte. Por isso, também defendemos o território quilombola e a vida daquelas e daqueles que nele habitam!
g) Nossa arma é a educação
Hoje, os bancos das escolas e universidades são ocupados predominantemente por mulheres. Além disso, a docência é uma profissão majoritariamente feminina, o que evidencia como a luta por educação constitui um aspecto central do movimento de mulheres e da luta por igualdade de gênero.
Nos últimos anos, grandes lutas foram travadas por trabalhadoras da educação. Um exemplo é o das professoras que foram às ruas em São Paulo contra o governo Dória, protagonizando uma mobilização que resultou no adiamento da votação do SampaPrev. Elas também lideraram as greves da educação de 2017 contra a Reforma Trabalhista e Reforma da Previdência, culminando no grande ato de 30 de junho em Brasília.
Com o mesmo espírito de combatividade, as estudantes secundaristas foram as principais lideranças das ocupações de escolas de 2016 contra a Reforma do Ensino Médio, somando à luta em defesa da educação a discussão sobre o protagonismo político das garotas com o mote “lute como uma menina” e a violência de gênero. Vestidas de vermelho, ousaram ao enfrentar seus professores para denunciar o assédio. Nas universidades, onde o espaço das mulheres tem sido conquistado e reconhecido, também houve ocupações e lutas protagonizadas pelas meninas no último período. Um fenômeno importante decorrente desse processo foi o crescimento no número de coletivos de mulheres em universidades, sendo o feminismo hoje uma das principais forças agregadoras para aquelas que acreditam na necessidade de uma transformação social no mundo.
A situação da educação pública no Brasil já era bastante alarmante, diante dos seguidos ataques e de um projeto de precarização. A aprovação do Teto de Gastos, conhecida como PEC do Fim do Mundo, impôs um enorme contingenciamento aos parcos recursos já existentes para a área. Outras reivindicações históricas também nunca saíram do papel, como a implementação efetiva da Educação Escolar Quilombola. No entanto, os absurdos cortes recentemente anunciados para o ensino e a pesquisa, bem como os ataques aos professores do ensino básico com projetos como o “Escola Sem Partido”17 são ações estruturadas nesse pacote de disputa ideológica dos rumos da educação no país. Além disso, o Brasil é o terceiro maior mercado da educação mundial e, dessa forma, território fértil para o desmonte da educação pública, ao permitir a mercantilização do conhecimento em larga escala.
O problema é que Bolsonaro, em sua cruzada ideológica, aprofunda o desmonte da educação pública e coloca trabalhadores/as da educação e estudantes como principais inimigos do governo. A escolha da educação como alvo está relacionada com a necessidade do governo de atacar os espaços de maior polarização da sociedade, tendo em vista que as escolas e as universidades sempre foram espaços de resistência e de concentração de contradições — e, portanto, alvo propício de um desgoverno que tem interesse em interditar o pensamento crítico.
Por todas essas experiências compartilhadas, devemos fortalecer a luta das estudantes e educadoras. As mulheres da educação novamente estão nas ruas com o “Levante dos Livros”, movimento em curso contra os cortes de mais de 30% dos recursos destinados à educação. Os atos ocorridos recentemente foram fortes e potentes — ações que evidenciam uma disposição de combate a todos esses ataques.
h) Unir a luta das mulheres mundialmente
A solidariedade entre as mulheres e sua rejeição ao padrão de vida dominante têm sido um denominador comum das lutas sociais, que adquiriram escala mundial. Nesse cenário, uma articulação internacional das mulheres surge como uma possibilidade.
Em março deste ano, nossas deputadas do PSOL assinaram, junto a diversas mulheres pelo mundo, um manifesto que conclamava a necessidade de uma Internacional Feminista, sinalizando neste documento a importância de se articular em âmbito mundial um “feminismo para os 99%”. Uma forma de materializar e amadurecer um programa anticapitalista, encabeçado pelas mulheres, a partir da construção dessa articulação internacional.
Respeitando os tempos de cada movimento e preservando um método profundamente democrático, é muito importante que essa ideia seja debatida pelas feministas e que demos passos no sentido de sua realização. Há a necessidade de construirmos em nível mundial uma coalizão de movimentos, redes, coletivos, pessoas e organizações para impulsionar campanhas e fortalecer ações comuns em defesa das mulheres e dos interesses das e dos 99%. Atualmente, o movimento de mulheres é vanguarda na luta contra a extrema direita, mas faltam espaços em que possamos pensar de forma mais aprofundada nossas estratégias. Além disso, com a popularização do feminismo, há mais disputa sobre qual é a concepção de feminismo que devemos seguir. O neoliberalismo ainda busca dialogar com esse avanço, por meio do empoderamento individual. O “feminismo para os 99%” busca fazer essa disputa, mostrando que o feminismo deve ser anticapitalista.
A partir da necessidade da solidariedade mundial entre as mulheres, uma frente internacional feminista poderia dar este combate em melhores condições. Se a lógica que subjuga e explora as mulheres é internacional, a luta contra ela também deve ser. Feministas do mundo, unimo-nos!
8. Por um Setorial de Mulheres do PSOL democrático, antiburocrático, protagonista das lutas e da política partidária
O movimento de mulheres promoveu um terremoto político na esquerda no último período e isso também se refletiu no PSOL. Elegemos uma combativa bancada feminista nas últimas eleições. Algumas estiveram entre as mais votadas em seus estados e cidades. Essa bancada mostrou sua combatividade, nas Câmaras Municipais, Assembleias Legislativas e, agora, no Congresso Nacional. A força das mulheres do PSOL chegou inclusive ao STF, por meio da articulação com o ANIS em defesa da ADPF pela descriminalização do aborto. Este foi um movimento jurídico histórico para a luta feminista.
Mas, durante esse período de fortalecimento da luta das mulheres, o impulsionamento de pautas feministas por parte da direção do nosso partido foi muito aquém de seu potencial e do que a conjuntura nos exigia. Desde a fundação do PSOL, seu setorial de mulheres foi sempre atuante e um dos setores mais dinâmicos da vida partidária. Porém, nos últimos cinco anos, ele praticamente não existiu. Desde a sua divisão, fruto de manobras burocráticas que buscaram constituir uma falsa maioria para ele, o setorial de mulheres não cumpriu papel relevante diante dos desafios impostos pela conjuntura nacional e mundial. É urgente mudar o curso dessa história.
Por isso, o Encontro de Mulheres do PSOL de 2019 será um marco para conectar as mulheres do partido com as lutas em curso. Também deverá armar o setorial para protagonizar as principais discussões políticas do partido e canalizar para as fileiras psolistas o espírito de combatividade que contagia as mulheres. Necessitamos de um Setorial Nacional de Mulheres do PSOL que seja dinâmico, democrático e antiburocrático.
Para isso, é preciso fortalecer e ampliar seus fóruns de mulheres, assegurando a realização de organismos de base e também regularidade para suas instâncias de direção — tanto em âmbito local quanto nacional. É importante, inclusive, apostarmos em um calendário de formação política para nossas militantes. É urgente fortalecer mecanismos de resolução sobre casos de violência às mulheres dentro do partido. E também nos prepararmos com antecedência para o calendário eleitoral. Os avanços da primavera das mulheres são irreversíveis. É necessário que a política de mulheres seja prioridade no nosso partido. A Primavera Feminista deve ocupar cada vez mais o PSOL!
1 Trabalhamos com a ideia de processos de revolução democrática, em virtude da queda de regimes autocráticos, que abriram caminho para uma dualidade de poder que é, em potencial, uma possibilidade de revoluções sociais profundas. Entretanto, esta hipótese também pode ser revertida em favor de forças reacionárias, a exemplo do ocorrido na Tunísia e Egito. Concordamos com Gilbert Achcar sobre serem estes processos ainda em aberto, conforme discutido nos textos: Tunisia e Egito: uma revolução democrática e permanente percorre os países árabes e Dossiê “Rebeliões na Argélia e Sudão”.
2 Para maior profundidade do conceito, consultar Para uma crítica das crises do capitalismo, de Nancy Fraser.
3 “Em poucas palavras, refere-se às atividades e o trabalho que implica a reprodução biológica, quotidiana e geracional, da força de trabalho. Mas sejamos claros: reproduzir a força de trabalho significa reproduzir as pessoas e a vida. Isto não se limita à mera subsistência ou às necessidades de sobrevivência, mas também à satisfação de necessidades mais complexas e à reprodução de capacidades que contribuem para converter a força de trabalho nessa mercadoria especial que se pode vender no mercado capitalista. Estamos, portanto, falando da socialização das crianças, da educação, mas também da saúde e dos serviços sociais”. Arruzza, Cinzia. O feminismo dos 99% é uma alternativa anticapitalista ao feminismo liberal. Carta Maior, 20 de agosto de 2018.
4 A Lei Áurea não garantiu escolarização, território e trabalho para os negros até então escravizados. Sem direitos, os ex-escravizados foram forçados a se submeter às relações mais precárias de trabalho, sem qualquer possibilidade de ascensão. Após a abolição formal da escravidão, institucionalizou-se uma política de extermínio dos povos negros, baseada na criminalização (em que práticas, cultos e rituais foram proscritos à clandestinidade), em prisões sob qualquer pretexto (mendicância, vadiagem, capoeiragem, malandragem, curandeirismo), bem como no incentivo à imigração de brancos, justificado pela hegemonia de um pensamento racista, pretensamente “científico”, que identificava os descendentes de africanos como “raça inferior”. Com a imigração branca, os povos descendentes de africanos foram expulsos de seus territórios na zona rural e se estabeleceram nas periferias dos núcleos urbanos das maiores cidades do país, reconstruindo mais uma vez novas territorialidades negras. Assim, a condição do negro era diferente da dos trabalhadores imigrantes, a quem, mesmo com duras jornadas de trabalho e condições precárias, era garantido o direito à posse de terra e melhores postos de trabalho.
5 Vogel, L. Marxism and Women Opression: Toward a Unitary Theory. Boston: Brill, 2013.
6 Arruzza, C.; Bhattacharya, T; Fraser, N. Feminismo para os 99%: um manifesto. São Paulo: Boitempo, 2019, p. 114-115.
7 E, quando não eram submetidas ao trabalho escravo nas fazendas, eram obrigadas a conviver com recorrentes estupros dentro das casas grandes.
8 Arruzza; Bhattacharya; Fraser, Feminismo para os 99%, p. 41.
9 Fraser, N. Da redistribuição ao reconhecimento? Dilemas da justiça numa era “pós-socialista”. Cadernos de campo, v. 15, n. 14-15, 2006. Nas palavras de Arruzza, “A separação do movimento operário e dos movimentos sociais foi acompanhada pela obliteração de qualquer crítica das relações de produção, que foram substituídas pelas relações de poder e dominação na esteira das tendências pós-modernas, particularmente inspiradas nas ideias de Foucault. Consequentemente, elas tendiam a concentrar exclusivamente nas instituições que garantem e mantém o sistema de papeis sexuais – matrimônio, a família, prostituição e heteronormatividade” (Arruzza, Cinzia. Dangerous Liaisons: the marriages and divorces of Marxism and Feminism. Wales: Merlin Press, 2013, p. 107).
10 Arruzza; Bhattacharya; Fraser, Feminismo para os 99%, p. 34 e 93.
11 Ferguson, S. Feminismo interseccional e da reprodução social: rumo a uma ontologia integrativa. Cadernos CEMARX, n. 10, 2017, p. 15.
12 Ou, para usar os termos de Nancy Fraser, isso corresponderia a reestabelecer uma relação entre demandas baseadas na “redistribuição” e aquelas baseadas em “reconhecimento”, ou seja, o duplo viés — econômico e cultural — das opressões. A opressão das mulheres, por exemplo, envolve tanto o trabalho produtivo e reprodutivo por elas desempenhado, quanto as discriminações e formas de violência às quais elas estão submetidas. Assim, a emancipação das mulheres exigiria dois tipos de resposta: justiça redistributiva e por reconhecimento.
13 Agredida e assassinada em seu prédio, enquanto as câmeras de segurança registraram todos os acontecimentos.
14 Assassinada em janeiro deste ano ao ter seu coração arrancado pelo assassino, que justificou a barbárie por ela “ser o demônio”.
15 De janeiro a março de 2019, foram 23 mulheres trans e travestis assassinadas no Brasil, mantendo o país em primeiro lugar no ranking de assassinatos: 1) Brasil segue no primeiro lugar do ranking de assassinatos de transexuais; 2) Monitoramento de assassinatos trans – Março de 2019.
16 Federici, S. Calibã e a bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo: Elefante, 2018, p. 118.
17 Que cria um fantasma da doutrinação comunista nas escolas e incentiva jovens inclusive a filmarem professores em seu ofício, como foi o caso recente de jovem filiada ao PSL, que divulgou um vídeo gravando a aula de uma professora.
Primeiras assinaturas
- Luciana Genro – Candidata a Presidente em 2014 e Dep. Estadual / RS
- Sâmia Bomfim – Deputada Federal PSOL / SP
- Fernanda Melchionna – Dep. Federal / RS
- Monica Seixas – Co-Deputada Estadual da Bancada Ativista / SP
- Fernanda Miranda – Ver. Pelotas / RS
- Vivi Reis – primeira suplente de Dep. Federal / PA
- Rosana Pinheiro Machado – Antropóloga e professora da UFSM / RS
- Daniela Mussi – editora da Revista Outubro e coordenadora da Universidade Emancipa / SP
- Mariana Riscali – Executiva Nacional do PSOL / SP
- Nathalie Drumond – Direção Nacional do PSOL / DF
- Camila Goulart – Presidente PSOL / RS
- Paula Kaufmann – Comissão Nacional de Mulheres do PSOL / SP
- Zeneide Lima – Executiva Nacional do PSOL / RJ
- Sara Azevedo – Oposição Sind-Ute, Emancipa e Vice Presidente PSOL BH / MG
- Giulia Tadini, secretária-geral do PSOL / DF
- Evelin Minowa – Executiva Estadual do PSOL / SP
- Silvia Guerreiro Giese – Tesoureira do PSOL Belém / PA
- Camila Souza – Juntos / RJ
- Roberta Mello – presidente PSOL Pelotas / RS
- Ester Ramos – presidente PSOL Cachoeirinha / RS
- Andrea Werner – segunda suplente de Dep. Federal /SP
- Chirley Pankará – Co-Deputada Estadual da Bancada Ativista / SP
- Erika Hilton – Co-Deputada Estadual da Bancada Ativista / SP
- Tatiane Ribeiro – coordenação nacional da Rede Emancipa / RN
- Maria Antônia Teixeira Dias – Executiva Estadual Psol/MA, Presidenta Do Diretorio Municipal Do Psol De Santa Rita/MA, Quilombo Cariongo – MA
- Juliana Selbach – Tesoureira PSOL / MG
- Ana Claudia Borguin – Sindicato dos Metroviários / SP
- Carla Zanella – Emancipa Mulher / RS
- Marília Iglesias – direção da Associação dos Servidores do Hospital Pronto Socorro / RS
- Nina Becker – Rede Emancipa e Mover Educação / RS
- Lúcia Sant Anna – conselheira tutelar / RS
- Raquel Matos – publicitária, executiva estadual do PSOL / RS
- Stephanie Venske Estrella – Juntas / RS
- Tamires Arantes – diretório estadual PSOL / SP
- Taline Chaves – Coordenação Nacional Emancipa / SP
- Naiara do Rosário – coordenação nacional Emancipa / SP
- Gabriela Ferro – diretora da UNE / SP
- Annie Hsiou – Associação de Docentes da USP / SP
- Carolina Ucha – Diretório Municipal PSOL SP / SP
- Julia Machini – Juntas / SP
- Maria Rocha – Conselheira Presidente do CRESS / PA
- Ruth Helena Cristo Almeida – Professora Doutora da Universidade Federal Rural da Amazônia / PA
- Tatianne Picanço – ex candidata a co-governadora do Pará em 2018 / PA
- Heloise Rocha – Presidente do PSOL Santarém e coordenadora geral do SINTEPP Belterra
- Renata Moara – União dos Estudantes de Santarém / PA
- Naide Pacheco – Diretório do PSOL de Marabá / PA
- Simone Romero – Comunicadores pela Democracia / PA
- Tarsila Amoras – Coordenadora Geral do CACS-UFPA / PA
- Gessica Castro – DCE UFPA conselheira do CONSUN e do Quimlombo Juridico / PA
- Maira Cordeiro– Coordenadora da Rede Emancipa Belém / PA
- Francieli Sarturi – Coordenadora da Rede Emancipa Santarém / PA
- Luana Kumaruara – Conselho Indígena Tapajós Arapiuns / PA
- Débora Miranda – Coordenadora Estadual do Sintepp / PA
- Jusimara Lima Soares (Hiloua) – Assessora da Associação de Bancarios do Banco da Amazônia / PA
- Lívia Noronha – Professora Colaboradora da UFPA / PA
- Natasha Freire Machado – Política para Mulheres / PA
- Vanuza Melo Souza – Movimento Nossa Terra (MNT) / RN
- Maria Aparecida Dantas – SINTEST / RN
- Jane Suely Calafange Damasceno – coordenadora geral SINTEST / RN
- Camila Barbosa – Juntas / RN
- Vanderlea Aguiar – coordenação do Emancipa / RJ
- Telma Luzemi – Sepe / RJ
- Fabiana Amorim – Juntas / RJ
- Linnesh Ramos – coordenação Emancipa / RJ
- Silvana Louzada – coordenação Emancipa / RJ
- Kelly Sanny de Jesus Morais, Juntas / DF
- Ayla Viçosa, Juntas / DF
- Caroline Coelho Vilar, Juntas / DF
- Nayara Cortes, coordenadora da Rede Emancipa / DF
- Raquel Cecília Vieira dos Santos, coordenadora da Rede Emancipa / DF
- Jamile Guerra Messias Sales, coordenadora da Rede Emancipa / DF
- Taya Carneiro – União Libertária de Travestis e Mulheres Transexuais / DF
- Sara Soares – Juntas e Diretório Estadual PSOL / MG
- Vanessa Vianna de Quadros – Juntas e Diretório Estadual / MG
- Mayara Hellen Lemes Rossato – Juntas e Diretório Estadual PSOL / MG
- Regina Helena – Professora FAFICH – UFMG / MG
- Amanda Marques Dornelles – Juntas / AC
- Larissa Pires – Juntas / AM
- Ana Beatriz Silva Araújo – Juntas / CE
- Ana Maraya Silva Melo – Juntas / CE
- Shayná de Crato – Juntas / CE
- Simone Eloy Terena – movimento indígena / MS
- Antônia Mendes Oliveira – Quilombo São Bento / MA
- Antônia Nilzete Muniz Carvalho – Presidenta Do Quilombo Fé Em Deus / MA
- Erly Teixeira Dias – Quilombo Cariongo / MA
- Maria Domingas De Oliveira – Associação Do Bairro Mangal Escuro / MA
- Maria Ivanildes Miranda – Associação Do Bairro Da Torre / MA
- Nielsa Muniz De Sena – Quilombo São João / MA
- Ivalda Bonfim de Gusmão – PSOL / AL
- Bianca Gans Lovato – Juntas / PR
- Fernanda Lopes De Camargo – Emancipa / PR
- Rhayane Lourenço – Emancipa / PR
- Carolina Ramos Heleno – Juntas / BA
- Sandra Regina Alves Teixeira, Conselheira Estadual dos Direitos das Mulheres e Fórum de Enfrentamento de Violência contra a Mulher – Ananindeua/PA
- Iraneide Dos Santos Pinto, Coordenadora do Sintepp da Regional Oeste
- Izabel De Almeida Sales, Coordenadora Geral da Regional Oeste
- Débora Santos Miranda, Coordenadora Estadual do Sintepp
Bahia
- Naiara Epifanio Da Silva
Ceará
- Carla Miriã Alves Teixeira
- Joana Darc Oliveira Gomes
- Lorena Santos Farias
Distrito Federal
- Alessandra Viana Da Conceicao Santos
- Amanda Demberg Carvalho De Oliveira
- Amanda Miranda Braga
- Ana Caroline Santos Oliveira Dos Reis
- Ana Luiza Carvalho De Souza Santos
- Andressa Miranda Marques Silva
- Anedina Rocha Miranda
- Angel Rayssa Ribeiro De Souza
- Barbara D’arc Rainho Almeida
- Bianca Cordeiro Carvalho De Oliveira
- Brenda Rayane Mendes Custodio
- Camila Melim Silva
- Catarina Pereira De Souza
- Cosma Rodrigues De Oliveira
- Cristina Rocha De Oliveira
- Danielle De Souza Sampaio
- Dea Nivea Lopes De Sousa
- Denise Gonçalves
- Dulcia Neves Pereira
- Ema Regina Greber Carneiro
- Erika Cristina Ribeiro Da Silva
- Fernanda Márcia Alves Sampaio, Militante Independente Do Setorial De Mulheres Do Psol-df
- Flavia De Oliveira Gomes
- Francyelle Pereira Da Cruz
- Gabriela Paula Soares Teixeira
- Gabriela Ziegler Saraiva
- Helida Susana Brito De Oliveira
- Hiaanca Ferreira Silva
- Ingrid Oliveira Soares
- Isabela De Oliveira Castro
- Isabela Scarambone Leal
- Isamara Ferreira Dos Santos
- Ivone Vidal Lisa, Bancária E Militante Independente Do Setorial De Mulheres Do Psol-df
- Janaina Pereira Farias
- Jane Nunes De Carvalho
- Janieire Batista Ferreira Alves
- Jaqueline Teresa Aguiar
- Jenifer Campos Trindade
- Jhelica Andrade Silva
- Juliana Alves Da Gama
- Karina Goncalves Dos Santos
- Karla Da Guia Costa Dos Santos
- Katia Regina De Oliveira Sousa
- Laila Lorrane Moreira Da Silva
- Laura Alves Dos Santos
- Laura Sales Gorman
- Leiliane Dos Anjos Dos Santos
- Lilian Rocha Soares
- Loren Lyne Rodrigues De Souza
- Luana Ferreira Do Nascimento Santos
- Luciana Silva Ribeiro
- Maria Beatriz De Oliveira Rocha
- Maria Da Penha Felippe Barrozo
- Maria Da Saude Rodrigues Ferreira
- Maria Lucia De Bulhões Pedreira Arieira
- Maria Luiza Pereira Brito
- Maria Virgínia Pantuzzo De Carvalho
- Mariana Andrade Bonfim, Militante Do Juntas
- Marina Lima Miranda
- Mayara Brito De Oliveira
- Mercia Fabiana Regis Dias Carvalho
- Milena Regis Dias Carvalho
- Nagila Vieira Da Silva
- Natalia Souza Batista
- Nilana Regis Dias Carvalho
- Paloma Alves Da Silva
- Paula Maia Gilardoni
- Quezia Queren Araujo Marinho
- Raiane Soares Silva
- Regina Da Silva Felipe Costa
- Rosana De Cássia Alves Da Silva
- Rosangela Da Conceicao Amorim
- Sara De Castro Almeida
- Suely Medeiros Ramos
- Tatiane Rocha De Oliveira
- Teresa Maria Da Conceicao Amorim
- Thais Kelly Rodrigues Martins Moreira
- Valeria Pereira De Souza
- Vitoria Araujo De Almeida
Maranhão
- Adriana Lopes Da Costa
- Ana Eugênia Araújo Do Carmo
- Ana Paula Soares Pedrosa
- Antônia Iranilde Costa Ferreira
- Célida Maria Lima Braga
- Daniela Santana Dos Santos Alves
- Deusimar Gomes Do Nascimento
- Eliete Macedo Soared
- Erivone Regina Sousa
- Francisca Mendes Oliveira – Quilombo São Bento
- Gardenia Da Cruz Silva
- Jaiane Da Silva Teixeira – Quilombo Cariongo
- Julia Katia Borgneth Petrus
- Karine Teixeira Dias – Quilombo Cariongo
- Katia Regina Sousa
- Larissa Teixeira Dias – Quilombo Cariongo
- Marcilene Liana Guajajara
- Maria Bertolina Costa Ferreira
- Maria Conceição Da Silva Costa
- Maria De Jesus Guimarães Ferreira
- Maria De Nazaré Muniz
- Patricia Maiane Rosa Alves
- Rebeca Laís De Jesus Costa
- Rosa Marques
- Rosena Guimarães Ferreira
- Rosilene Guajajara De Sousa
- Sandra Maria Rosa Cutrim – Quilombo São João
- Sebastiana Pereira Da Silva
- Sueli Teixeira Dias – Quilombo Cariongo
- Thamirys Margaritta Silva Rosa
- Wevine Sarah Maia Ribeiro
- Zorailde Batista Paiva
Mato Grosso do Sul
- Francielle Louise Bueno Melo De Carvalho Malinowski
Minas Gerais
- Adriana Da Cruz Diniz
- Adriana Diniz
- Andréa Marques Benetti / Conselheira Tutelar
- Bruna Dos Santos Silva
- Camila Klein De Oliveira
- Carol Alcântara – Oposição Sindute
- Carolina Paulino Alcântara
- Clara Farias
- Cláudia Eliana Da Silva
- Dayana Sena
- Débora Miranda De Oliveira
- Érica De Souza Coletti
- Gabriela Bertollo / Juntas
- Gabriela De Assis Thiebaut
- Gabriella Thiebaut / Juntas
- Giovanna Oliveira Marqueti
- Hianna Sette
- Iolanda Barbosa
- Ione Leonel
- Isabella Campos Freitas D’avila
- Isabelle Oliveira
- Jéssica Costa – Juntas
- Jéssica Isabella Prado Costa
- Larissa Araújo – Juntas / Emancipa
- Larissa Helena De Araújo
- Laura Muller Sagrilo
- Leandra Gaspar
- Letícia Lourenço Rosa
- Lorena Ferreira Alves
- Maria Eduarda Moreira Martins Vieira
- Mariana Arantes / Juntas
- Marina Almeida Brandão
- Raiane Moraes Santos
- Raissa Baeta
- Roberta Gonçalves Zanon
- Roberta Zanon
- Xymene Trindade Fernandes
Pará
- Adiele Nataly Alves Lopes
- Ádria Fabíola Pinheiro De Sousa
- Alessandra Assis
- Alessandra Oliveira
- Ana Karoliny De Almeida Silva
- Ana Luisa Brabo Soares
- Ana Luiza Barbosa Cordeiro
- Ananda Pauliane Monteiro Nascimento
- Annanda Cordeiro Pereira
- Arlene Da Conceição Picanço Da Silva
- Bárbara Abucater
- Barbara De Kassia Lima Abucater
- Bárbara Dias
- Bianca De Góes
- Brenda Letícia De Souza Silva
- Camila Dos Santos Ferreira
- Camila Fernanda Rodrigues Romeiro
- Carla Carolina Santos Da Fonseca
- Carla Daniella Teixeira Girard
- Carla Elloane Brito De Oliveira
- Carla Farias
- Carolina Fauzea De Sousa Dos Santos
- Carolina Messeder Zahluth
- Carolina Ventura Silva
- Ciane Coelho Garcia
- Clarissa Andrade
- Conceição De Maria Almeida Soares Cruz
- Cristiana Amorim De Andrade
- Cristina Lima Monteiro
- Damilly Yared Leite
- Daniele Stefanie Monteiro Gomes
- Darlene Oliveira De Sousa Braga
- Débora Sousa Pereira
- Dielly De Castro Silva
- Dione Maria Lima Monteiro
- Diully Siqueira Monteiro
- Doristela Damasceno Paranatinga
- Eduarda Canuto Carvalho
- Eliene Do Socorro Souza De Castro
- Elizabeth Santos Da Silva
- Elza Maria Santos Da Silva
- Emily Cristy De Souza Assis
- Fernanda Ferreira Soares
- Francileuza Medeiros De Souza
- Francirlene Santos Queiroz
- Gabriela Gonçalves Cabral
- Gabriela Nazaré De Brito
- Gabryela Lobato
- Georgyana Nancy De Alencar Silveira
- Gessica Da Silva Miranda
- Giovanna Maria Dos Santos Moura De Oliveira
- Gleycy Kelly Santiago Morais
- Helem Jamile Dos Anjos Santos
- Ingrid De Souza Sarubbi
- Ingrid Lira Almeida
- Ingrid Paranatinga
- Ingrid Silva Dos Santos
- Isabela Koreny Cota Santana
- Isadora Oliveira De Carvalho
- Izabel C De C Mendes
- Jacineide De Souza Vinente
- Jennyfer Kethere Da Silva Alcântara
- Jéssica Adriane Ferreira De Sousa
- Jéssica Mayara Morais Pereira
- Jéssica Modinne De Souza E Silva
- Jessica Silva França Nascimento
- Joselene Rocha Da Silva
- Joyce Kellen Holanda Sarmento
- Juliana Silva De Moraes
- Juliane Lima Silva
- Julien Thalita Rocha Dos Santos
- Jullianne Lima Da Silva
- Karla Ferreira
- Karla Regiane Ferreira Da Silva
- Keila Silva
- Kislane Da Silva Rodrigues De Sousa
- Kisslane Rodrigues
- Laiza Inez Maciel Trindade
- Larisse Edilena Bastos Lima Da Silva
- Laurena Do Socorro Andrade Dias
- Lívia Maria Araújo Noronha De Oliveira
- Lorena Melo
- Lorena Montenegro
- Luana Da Silva Cardoso
- Luanna Celi Figueira Da Silva
- Luciene Ramos Dos Santos
- Lucilene Araujo De Moraes
- Luiza Messeder Zahluth
- Mara Augusta Silva Damasceno
- Maria Cláudia Demetrio Gaia
- Maria Da Consolação Pamplona Lima
- Maria De Jesus Viana Sarubbi
- Maria José Da Costa
- Maria Thereza De Sá Mendes
- Mariana Ferreira Moura
- Marilene Andreza Guerreiro De Souza
- Marilsa Lina Martins Alves
- Mary Caroline Santos Ribeiro
- Melissa Carolina Brito De Andrade
- Naelly Bianca Alves De Góes
- Naiana Palheta Moraes
- Naira Do Socorro Ferreira Silva
- Nana Patrícia Lisboa De Andrade
- Natalia Dos Santos Freitas
- Natália Medeiros
- Nataline Di Paula Alves Gomes
- Nina Daia Carvalho Dos Santos
- Nivea Maria Picanço Da Silva
- Olivia Varela Maia
- Rafaely Sarraf Rezegue
- Raiana Siqueira Mendes
- Ranelly Barreto
- Rudilea Ramos Cavalcante Da Silva
- Sâme Mota Parafita
- Simone Rodrigues Da Costa
- Stephanie Cortez
- Tassiane Coutinho De Oliveira
- Telmaelita Rocha Dos Santos
- Thaiana Amorim Meireles
- Thamires Cristina Damasceno Da Costa
- Victória Maria Rosa Mouzinho
- Weany Jacqueline Costa Da Conceição
- Yasmin Ainá Martins Barbosa Loureiro
Paraíba
- Ariane Alves Da Silva
Paraná
- Jhenypher Lisboa De Paula
- Joana Angélica Silva
- Ana Maria De Carvalho
- Cláudia Regina Mallmann
- Edicleia Vieira
- Evelyne Pereira
- France Ferrari Camargo Dos Santos
- Giana De Marco Vianna Da Silva
- Gislaine Indejejczak
- Gislene Do Rocio Pires Carvalho
- Marcia Regina Batista Rosset
- Maria Osséia Dos Santos Dias
- Mayara Balestro
Pernambuco
- Jhenypher Lisboa De Paula
- Joana Angélica Silva
Rio de Janeiro
- Adriana Herz Domingues
- Adriana Santos Moura
- Adryelli Firmino Da Silva
- Alice Brenda Camillo Nascimento Da Silva
- Alice Maciel Domingues
- Ana Clara Conte
- Ana Lídia Pires De Assis Pinto
- Ana Luiza Cavalcanti Ferreira
- Ana Paula De Castro Dos Santos
- Ana Paula Viana
- Andreia Meireles Souza
- Andreia Meirelles De Souza
- Andressa Silva De Lemos
- Angelica Neves Dos Santos
- Anna Clara De Almeida Conte
- Barbara Emrich Henriques
- Cacilda Patricio Teixeira
- Camila Carvalho Feitosa
- Camila De Souza Rocha Canêdo
- Carla Cristina Guimarães
- Carla Nogueira Marques
- Cecília Perez Monteiro
- Celia Mar Ribeiro Ramos Gonzaga
- Clara Campos Martins
- Claudete Neves
- Cristhiane De Albuquerque Malungo
- Cristiane Malungo
- Cristina Da Silva Monteiro
- Daniela Fragoso Kraemer Moraes
- Elileia Castilho
- Elizabeth Dos Santos Tavares Fontes
- Erika Da Silva Pereira
- Esther Dias
- Fabiana Queiroz – Maricá
- Fabiana Vinhola De Amorim
- Fernanda de Paraty
- Fernanda Fioravanti
- Fernanda Luiza Dos Santos – Paraty
- Fernanda Piccolo Huggentobler
- Fernanda Silva Ramalho
- Gabriela Campos Silva
- Gabriela Ximenes Freire
- Georgia Lima
- Georgya Gusmão
- Giselle De Oliveira Santos
- Heloisa Ribeiro Machado
- Janaina Maia Borges
- Jessica Pinheiro Vidal
- Júlia Barcelos
- Júlia De Freitas Lage
- Júlia Lage
- Kathleen Angel Magina Lima
- Larissa De Oliveira Santos
- Lariza Aparecida Da Silva Rodrigues
- Leda Teixeira
- Leslei De Cassia Andrade Rezende – Paraiba Do Sul
- Letícia Izidoro Teixeira De Santana
- Liandra Peregrina Da Silva Mesquita
- Lourrane Cardoso Dos Santos
- Lúcia Beatriz Da Silva Alves
- Luciana Guedes Pecoraro
- Luiza Sansão
- Mara Coutinho
- Marcela Nascimento Luciano De Oliveira
- Márcia Lima Santos
- Maria Elizabeth Barbosa
- Maria Fernanda Costa Martins Rodrigues Da Cunha
- Marília Bittencourt Bovolenta
- Mérope Augusta Salvador Messias
- Micheli Delgado
- Mirle Menezes
- Mirna Maia Freire
- Mykaella Leal Alves Machado Morais
- Naiana Dos Santos Menezes
- Natalia Alves
- Nattaly De Souza Meneses
- Nayana Dos Santos Menezes
- Noemi Rute De Souza Conceição
- Patricia Felix De Lima Padula
- Paula De Melo Meneghetti
- Paula Mendonça Coutinho
- Pricila De Barros
- Pricila Fernandes De Oliveira
- Priscila Ferreira Loureiro Pires
- Renata Gama – Rio De Janeiro
- Renata Tavares Fontes
- Roberta Ferreira Nascimento
- Rose Silveira
- Samara Castro Rio De Janeiro
- Tatiana Vasconcelos Aguiar
- Tereza Cristina Ferreira Da Silva
- Thaila Gabriela Dos Santos
- Thais Guimarães De Oliveira
- Valéria Da Rocha Pedro
- Veronica De Melo Meneghetti
- Vitoria Marques Pereira
- Vivian Carvalho
- Viviane Gomes De Araújo Silva
- Yasmin Barroso De Souza
Rio Grande do Norte
- Adriana Bertoldo
- Adriana De Souza
- Adriana Simone Vitor De Lima
- Adriana Valéria Da Silva
- Aellen Peixoto Santiago
- Alessandra Patrícia Lima De Araújo
- Alessandra Pessoa Dos Santos
- Ana Carla Da Silva
- Ana Carla De Sousa
- Ana Claudia F Da Silva
- Ana Cristina De Lima
- Ana Karla Pontes De Souza
- Ana Lígia Ferreira Morais
- Andreia Paulista Dos Santos
- Andrelina Rocha Da Silva
- Andryelly Kallynny De Brito Martins
- Angela Maria De Abreu
- Catarina Alice Dos Santos
- Cinthia Erivânia Da Rocha
- Cleidiane Santana Barreto
- Cristiana Maria Da Silva
- Dalcilene Cabral De Souza
- Deise Mara Peixoto Santiago
- Edivania Cosme De Oliveira
- Edna Maria Da Silva Martins
- Eliane Henrique Da Silva
- Elisandra Ferreira Da Silva Santana
- Elisangela Souza De Almeida
- Else Costa
- Emanuelle Lourenço Do Nascimento
- Fabiana Ferreira Do Nascimento
- Fabiana Pereira De Araújo
- Francimary Saraiva Xavier
- Gessilvana Paulino Dos Santos Vieira
- Gilbertania Maria Da Silva Araujo
- Gilvanete De Lima Fernandes Ferreira
- Gorete Da Silva Henrique
- Helloísa Karoline De Lima Silva
- Ingrid Emanuela Da Silva
- Iracema Adalgiza Da Silva
- Isabel Cristina Costa De Assis
- Ivone Calafange Damasceno
- Jacqueline Ponciano Da Silva
- Jane Cleide Ferreira Dos Santos
- Janecleide Ferreira Dos Santos
- Janeide Felix De A Silva
- Janicleide Rocha De Araíjo
- Jaqueline Guedes De Moura
- Jennifer Yasmen Cardoso De Macedo
- Joana D’ark Cordeiro Da Silva
- Jonessa Maíra Dos Santos Silva
- Josilda Paixão A Silva
- Josileide Mesquita Da Silva
- Juliana Graziella Barbosa Da Rocha
- Katia Luciene De Pontes Cruz Silva
- Katia Rejane Lima De Moura
- Katiane Soares Marinho
- Katiuscia Araujo De Medeiros
- Kislanny Barbosa Da Silva
- Leila Solange Tavares
- Leliane Souza Da Silva
- Leticia Silva Chagas
- Lidiane Cosme De Oliveira Silva
- Lucia Elias Do Nascimento Faria
- Luciclecia Oliveira Rodrigues
- Lucineide Medeiros
- Ludimaria Oliveira Rodrigues
- Ludmila Oliveira Rogrigues
- Marcia Maria Pereira Nunes De Arruda
- Maria Alice Fernandes Da Silva Sales
- Maria Ana Paula Da Silva
- Maria Aparecida Felix Rodrigues De Sena
- Maria Da Conceição De Oliveira
- Maria Das Vitórias Da Costa
- Maria De Fatima Gomes Da Cruaz
- Maria Do Ceu Dos Santos Silva
- Maria Do Socorro De Brito
- Maria Do Socorro Do Nascimento
- Maria Isabel Pinheiro De Oliveira
- Maria Jose Henrique Bertoldo
- Maria Joseane Felix Da Silva
- Maria Lucia Do Nascimento Araujo
- Maria Margarete Lima De Araújo
- Maria Salete Gomes Da Silva
- Maria Sibele Henrique Dos Santos
- Maria Solange De Lima
- Marileide Batista
- Marineide Adelia De Brito
- Marleide Santana Cunha
- Michela Gonçalves De Moura
- Michelle Patrícia Paulista Da Rocha
- Monica Gomes Da Silva
- Nilvia Silva Chagas
- Priscila Araújo Américo
- Priscila Thacila Fernandes
- Rejane Cornelio Dantas
- Romeica Cristina M Gondim
- Rosangela Maria Dos Santos
- Rosângela Talita Galdino
- Rosielba Pereira Da Costa
- Rosineide De França
- Ruana Raiza Da Silva
- Ruberleide Araújo De Farias Silva
- Sabina Cabral Vieira Pires
- Sara De Oliveira Silva
- Severina Tomaz Januario
- Simone Maria De Oliveira
- Stephanie Lara Melo Da Nóbrega Morais
- Stephany Samila Paulino Dos Santos
- Suelen Vanessa De Morais
- Suellen Aline Teixeira Dos Santos
- Suerda Da Silva Ribeiro
- Suzane Roessler
- Thaline Farias De Souza
- Ursula Tathiana Oliveira De Medeiros
- Vanusia Maria Da Silva
- Verusa Da Silva Duarte
- Zunaide Bezerra
Rio Grande do Sul
- Adriana De Fátima Da Fontoura
- Adriana Vergara
- Adriane Cordeiro Silveira
- Adrienne Peixoto Cardoso
- Agnes Cunha
- Alana Espinosa Correa Nunes
- Alice Silveira – Setorial De Mulheres Do Psol
- Aline De Souza Dias
- Aline Tatiane Domingos Da Silva
- Ana Caroline Jardim
- Ana Caroline Oliveira Severino
- Ana Íris Pinto Miranda
- Ana Letícia Machado Barreto
- Ana Michel
- Ana Miranda
- Ana Paula De Souza Dos Santos
- Andréia Beatriz Peixoto Cardoso
- Andresa Dos Santos Falcão
- Andressa Godoy Moreira
- Ariany Fontoura Dos Reis
- Áurea Jussara Da Silva Costa
- Bárbara Daniele Lang
- Bianca Dos Santos Vieira
- Bruna Martins De Campos
- Bruna Monique
- Bruna Ramos De Oliveira
- Camila Josiane Dos Santos Pereira
- Carina Kunze Rosa
- Carla Gazzo
- Carla Zanella Souza
- Carmem Clenir Menezes Silveira
- Carmem Dotto Soares De Soares
- Carmem Lucia De Paula
- Carmen Borba De Aguiar
- Carmen Lúcia De Quadros
- Cassia Fernanda Siqueira Dos Santos
- Cassiane Paixão – Professora Furg
- Ceni Rodrigues – Servidora Ufpel
- Ceres Torres – Aposentada Ufpel
- Cibele Gil – Estudante Ufpel
- Cintia Soares
- Clarissa Sommer Alves
- Claudia Favaro
- Cláudia Ferraz – Estudante Ufpel
- Claudia Stella Rodrigues Santana De Resende
- Cristiane Machado Marques
- Cristina Altman – Setorial De Mulheres Do Psol
- Cristina Azevedo Gonçalves
- Dafne Cardoso
- Daiane Lopes Soares
- Daiane Silva Souza Oliveira
- Dalva Rodrigues
- Daniela Brizolara – Gt Cultura
- Daniela Mediondo – Municipária
- Daniela Randgel De Souza
- Danielle Cardoso Do Rosário
- Deise Edith Silva Souza
- Deise Klimeck De Lemos
- Denise Da Rosa Penteado
- Diessica Cardoso Rosário
- Eduarda Cristiane Lang
- Eldara Ramos Esquia
- Eliane Da Silva
- Eliane De Carmo Angeli
- Elisabete Pereira Lopes
- Ellen Borba – Municipária
- Eni Gabriel Da Rosa
- Ester Jaques Fernandes
- Eva Leodonira Dos Santos
- Eva Oliveira – Comerciária
- Évelin Rosa Ferreira
- Fabiana Lontra
- Fabiane Friesrich De Lima
- Fabiane Tejada – Professora Da Ufpel
- Fernanda Antunes – Gt Saúde
- Fernanda Leguissa Garrido
- Fernanda Pinto Miranda
- Franciele Souza Costa
- Gabriela Abi Valle
- Gabriela Bittencourt Da Silva
- Gabriela Lagranha De Souza
- Gabriela Martins Machado
- Gabriela Muniz Figueiredo
- Gabrieli Costa De Oliveira
- Gabrielle Da Silva Tolotti
- Gecilda Teresinha Pereira Davilla
- Geni De Matos Paranhos
- Gledis Silva Menezes
- Grazieli Madeira Vieira
- Hallana Da Rosa Vitória
- Handiara Oliveira Dos Santos
- Hayline Da Rosa Vitória
- Helen Fernanda Lang
- Helgair Kretschmer Aguirre
- Iara Catarina Soares Machado
- Iara Fatima Cavalheiro Da Silva
- Iasmim Moraes Da Rosa
- Ida Virginia Silva Menezes
- Iná Dorneles Machado
- Ingrid Teresinha Fraga Da Silva
- Ione Francina Da Rosa Jacques Leonel
- Ionice Terezinha Dos Santos Dalagnese
- Isabel Cristina Lang
- Isabel Vieira
- Isabela Rochedo – Estudante Ufpel
- Isabelle Ottoni
- Ivi Quadros
- Jacqueline Tuerlinckx Deiques
- Janaína Calu – Ufpel
- Janice Antunes Flores
- Janice Lopes Schiar
- Jasiele Cardoso
- Jenifer Da Silva Dias
- Jéssica Farias Pedrozo Dornellas
- Jéssica Rocha – Comerciária
- Jucelia Pinto Bruna Falcão Nunes
- Julia Bordignon
- Julia D’avila Borges
- Julia Silvana Ferreira Chaves
- Juliana Camargo Dutra Vergara
- Juliana Cristina De Souza
- Juliana Da Fontoura Cardoso
- Juliana Vergara – Núcleo Jurídico Do Psol
- Jurema Louzada Alves
- Karen Cristina Hartmann Ricoldi
- Karina Luiza Dos Santos De Paula
- Kimberly Do Canto Winter Dos Santos
- Krísley Vargas
- Lahis Vargas Brandão
- Lara Almeida Barboza
- Leonor Eugenia Soares Ferreira
- Letícia Prado Da Silva
- Letícia Rosseto
- Letícia Xavier – Municipária
- Letyanne Cristine Machado Barreto
- Liamara Denise Ubessi
- Líbia Maria Serpa Aquino
- Lidiane Schreiber Moehlecke
- Lígia Maria Silva Souza
- Lisandra Siqueira Morais
- Lisete Teresa Bueno
- Lorrane Carvalho – Estudante Ufpel
- Lourdes Rodrigues
- Luana Machado Barreto
- Luci Terezinha Da Silva Silveira
- Lucia Andrea Noronha
- Lucia Janete Carvalho Dos Santos
- Luciana Rocha
- Luciana Silva De Souza
- Luciane Fagundes Rodrigues
- Lucielly Feijó Dos Santos
- Lucila Barros De Mello
- Luíza Eduarda Dos Santos
- Luíza Marques – Estudante Ufpel
- Luiza Morais Marques
- Luíza Tessele – Estudante Ufpel
- Manoela Alves Da Rosa
- Manuela Werbericj
- Marcia Bitencourt
- Marcia Da Silva Bairros
- Marcia Leiria
- Mari Da Silva Bairros
- Maria Angélica Mello Machado
- Maria Da Conceição Da Silva
- Maria Da Glória Tavares De Souza
- Maria De Fátima Cardos
- Maria Do Socorro Dos Santos Bittencourt
- Maria Heloísa Da Rosa
- Maria Inacia Do Nascimento Mateus
- Maria Inez Gelatti
- Maria Lúcia Sant Anna
- Maria Lucília Pereira Da Silva
- Maria Luiza
- Maria Luiza Rodrigues Villaverde
- Maria Salete Angeli Machado
- Maria Teresa Piúma Dos Santos
- Mariana Da Silva Brufatto
- Mariana Junqueira Vargas
- Mariele Afonso Domingues
- Marilene Chaves
- Marilia Dos Santos Iglesias Trindade
- Marília Gonçalves Guimarães
- Marina Borba Peligrinoti
- Marisa Ferreira Henriques
- Marise Feijó Da Silva
- Marivone Folle Da Silva
- Marlene Porto – Comerciária
- Marliane Ferreira Dos Santos
- Marta Teresinha Pereira De Lucena
- Melina Medeiros Teixeira
- Michele Beatriz Da Silva Cavalheiro
- Monique Jardim Pinheiro – Psol Canguçu
- Monique Schimith De Moraes
- Morgana Nunes Virgili
- Nair Teresinha Cognago Rodrigues
- Nathália Bittencurt
- Nathália Muniz Perez
- Natielly Paveglio
- Neida Lemos Lopes
- Neiva Matos Moreno
- Nelci Teresinha Germano Becker
- Nicoli Peroza Ramos
- Nina Becker
- Nita Terezinha Benini
- Paola Penteado Chagas
- Paola Rodrigues
- Paula Lidiane De Castro Machado
- Paula Silva De Souza
- Priscila Da Silva Vaz
- Rafela Silva
- Railda Almeida De Jesus
- Raquel Matos Silva
- Raquel Viana Garcez
- Rejane Pacheco
- Renata Carrero Cardoso
- Renata Duarte – Estudante Ufpel
- Renata Maciel Dutra
- Rita De Cássia Pereira Da Silva Mauch
- Rita De Cássia Reis Dos Santos – Setorial De Mulheres Do Psol
- Rita Mauch – Setorial De Mulheres Do Psol
- Rita Oliveira – Comerciária
- Roberta Antunes Machado
- Rosa Maria Lopes Da Costa
- Rosângela Vidal Farinha Guimarães
- Rosemari Da Silva Bastianello
- Roseneia Lopes Carvalho
- Sabrina Alves Da Rosa
- Sabrina Teresinha Tomaz Silva
- Samanta Borba – Setorial De Mulheres Do Psol
- Sandra Regina Melchionna E Silva
- Sibele Magnus Cardoso
- Silvana De Oliveira
- Silvana De Oliveira
- Silvana Freitas Teixeira
- Simone Magalhães – Municipária
- Simone Silva Da Silva
- Sônia Borba De Aguiar
- Sônia Ciarlo
- Stephanie Venske Estrella
- Tabita Hardt De Ávila
- Tais Borges Da Silva
- Taísa Chaves Carvalho – Professora Das Redes Estadual E Municipal De Passo Fundo
- Tamires Paveglio
- Tanuze Portes Da Silva
- Tássia Lopes Dos Santos
- Tatiane Lopes – Setorial De Mulheres Do Psol
- Taynah Ignacio Pinto
- Tereza Alves Da Rosa
- Thamires Suelen Dos Santos
- Thayene Pereira Garcia
- Valéria Rosa Da Silva
- Valtina Becker Ribeiro
- Vanessa Jaques Fernandes
- Vera Cristina Silva Paveglio
- Vera Fontoura
- Vera Mayorca Alves – Professora Estadual
- Vera Pinheiro
- Veranice Luciana Fiorentin
- Verônica Gonçalves De Gonçalves
- Victória Maciel Farias
- Vilma Pedroso Matuziak
- Vilma Rosane Arrial
- Vitória Duarte Rosa
- Vivian Vallejos Nunes
- Zélia Marilene Borges Gomes
- Zélia Trevisan Fogaça
São Paulo
- Adria Akemi Osato Meira
- Ágatha Maria Avino Da Silva
- Alessandra De Lima Felix
- Aline Sampaio Rodrigues Schmidt
- Allany Thayze Ferreira Dos Santos
- Amália Oliveira Carvalho
- Amanda Cristina Dos Santos Lopes
- Amanda Mantovani
- Ana Laura Cardoso Oliveira
- Ana Carolina Aguiar Anjos Da Silva
- Ana Carolina Nahorny Bernardes
- Ana Clara Fernandes De Souza
- Ana Claudia De Aguiar Lopez
- Ana Cristina Grein Marra
- Ana Laura Cardoso Oliveira
- Ana Lucia Sichieri
- Ana Paula Moreira
- Andressa Pereira Moraes
- Andreza Marques De Oliveira
- Aneska De Souza Silva
- Angelica Casselli
- Annie Schmaltz Hsiou
- Ariane Cristina Machado
- Ariella Luiza Rodrigues Silva
- Barbara E Silva Scatolin
- Beatriz Alves Ensinas
- Beatriz Carvalho Da Silva
- Beatriz Gallardo Calderon
- Beatriz Silva De Andrade
- Bianca Aparecida De Souza
- Bianca França Cintra Baptista
- Bianca Izabele De Souza Florentino
- Bruna Chamas Biondi
- Bruna Quinsan
- Camila Camareli Andrade
- Camila Lopes Barbosa
- Camila Santana Mota De Castro
- Carina Corrêa De Lima
- Caroline Azevedo
- Celia Fernanda Sampaio Raimundo
- Chirley Maria De Souza Almeida Santos
- Cibele Barbalho Assensio
- Clara Baeder De Paula Pinto
- Daniele Siqueira Santos
- Danuta Rodrigues
- Dayana Coelho Souza
- Debora Minigildo
- Edie Maria Fernandes
- Eliaris Raira De Godoy Alvares
- Eliete Nascimento Arifa
- Ellen Tais Santana
- Emelly Godinho Martins
- Esthefania Roberta De Oliveira
- Fabiani Padovani
- Fabricia Pinho De Moraes
- Flavia Brancalion
- Fransuely De Jesus Saraiva
- Gabriela Cristina Cavalcante
- Gabriela Pavarin
- Gabriela Soares Schmidt
- Gabriela Soldera Ferro
- Giovanna Ferreira Oliveira
- Giovanna Henrique Marcelino
- Gisele Cristina Santos Da Silva
- Gisele Cristina Santos Machado
- Helen Cristine Cardoso De Sa
- Hortencia Costa Da Sipva
- Ingrid Reis Magalhaes Sotini
- Isabel Laurito
- Isabela Kojin Peres
- Isabeli Karine Martins Castelaneli
- Isabella Dos Santos Moraes Netto
- Janaina Pessoa Chagas De Souza
- Jaqueline De Oliveira Celestino
- Jéssica Beatriz De Souza Santos
- Jessica Daiana De Oliveira
- Jessica Pontes
- Jhenifer Harmbacher
- Joyce Godinho Da Silva Martins
- Julia Andrade Maia
- Julia Machini De Miranda
- Julia Sprioli
- Juliana Giaj Levra de Jesus
- Karen Cecilio Takahara Marcelino
- Karina Silva Gomes De Farias
- Karyna Alves Ferreira
- Laís Torres
- Lais Vitoria Felisberto Rosa
- Laisla Beatriz Neves
- Larissa Cegagno Santos
- Larissa Sara De Gire Queiroz De Moura
- Laura Maria Duarte Oliveira
- Layla Bianca Da Silva Miranda
- Letícia Campanati Povoleri
- Letícia Maria Manckel Santos
- Leticia Moreira Benevides
- Letícia Sanches Dos Santos Alvarenga
- Lívia Francielli Nogueira Santos
- Luana De Paula Santos
- Luana Dos Santos Alves Silva
- Luciane Franciele Falsoni
- Luiza Gonzalez
- Madalena Silva Santos
- Maia Goncalves Fortes
- Maíra Tavares Mendes
- Maisa Ferro
- Maiza Ventura
- Marcela Batista Durante
- Marcella Mila Ramalho Pacheli Pereira
- Maria Aldenir Mendes Cardoso
- Maria Clara Mendes
- Maria De Fátima Agatão Garcia
- Maria Eduarda Amaral Ferreira
- Maria Eduarda Gregorio
- Maria Estela Silva Andrade
- Maria Helena Paiva Magalhães Carvalhaes
- Maria Lucia Soares De Andrade
- Marina Batalini Macedo
- Marina Bozzetto
- Mayara Fortin
- Michele Ferraz Da Silva
- Michelle Duarte Ferreira
- Mila Mayara Pereira Tavares
- Monica Cristina Seixas Bonfim
- Nadia Aparecida Trevizoli De Carvalho
- Naiara Schranck Do Rosario
- Natacha Rodrigues Marques
- Natalia Campari De Souza Luz
- Natalia Caroline Peccin Goncalves
- Natalia Cristina Antunes Gabriel
- Natalia Pressuto Pennachioni
- Natalia Ventura De Souza
- Natasha Almeida Macedo
- Nicole Grande Saenz Martinez
- Pâmela Cícera Gomes
- Pamela Roque Paz
- Patricia Mendonça S Vieira
- Patricia Monticelli
- Paula Andrea Dos Santos
- Poliana Fernandes De Oliveira Camargo
- Priscila Da Silva Migotto
- Priscila Santana
- Priscilla Bernardes Aires Pedosa
- Renata Almeida Vieira
- Renata Ribeiro
- Rillary Apolinário Martins Firmino
- Rosana Anunciada Alves
- Rosana Bignami
- Rosemary Dias Longhini
- Samanta Balbino Rezende
- Selene Campiteli De Azevedo
- Silmara Mendes Campos
- Stefany Cigagna
- Tamires De Sousa Arantes
- Tamiris Yuri Sakamoto
- Thaís Campos Silva
- Thais Peixoto
- Thais Rodrigues Bueno Da Silva
- Thayane Mariane Da Silva Cunha
- Thayna Gomes Modesto
- Vanessa Alves Da Silva
- Vera Lucia Hummel Arantes
- Verônica Fernandes Feliciano Murúa
- Violeta Cenzi Ribeiro
- Vitoria Benevenuto
- Vitoria Galete Gomes
- Viviane Campezate Diniz
Sergipe
- Lucileide Ribeiro Militão
- Maiara Quaranta Lobão Linhares
- Terezinha Angélica Prado Louzada
- Ana Cardinal De Souza Conceição
- Anamélia Da Silveira Arariba
- Elizabete Maria Da Silva Cordeiro Pereira
- Emanuelle Leâes Alves
- Emilly Melo Amoras
- Erica Lourenço Mares
- Fabiana Araújo Nogueira
- Geiza Raline Felinto Fagundes
- Irani Lurdes Weis
- Liliane Batista Barros
- Luiza Do Couto E Silva Pinheiro
- Maria Mirelle De Sousa Gomes
- Vanessa Luana Schmitt