Sergio Moro de ministro de Bolsonaro

O juiz de Curitiba resolveu aceitar o que segundo a imprensa será um superministério.

Roberto Robaina 1 nov 2018, 15:56

Tempos intensos, repletos de contradições. Um presidente com posições fascistas e defensor do regime militar, regime repressor e corrupto, acaba de ser eleito. Ligado durante anos a um dos partidos mais envolvidos nas denúncias da Lava Jato, o PP, e tendo se mostrado idiota muitas vezes, acaba de fazer uma jogada que fortalece a imagem de seu governo. Bolsonaro escolheu Sergio Moro para ministro da Justiça. O juiz de Curitiba resolveu aceitar o que segundo a imprensa será um superministério.

Com sua decisão Moro se revela como político. Aceita compor um governo da extrema direita. Confirma em alto e bom som as acusações que a direção do PT fazia a ele, de ter interesses políticos na prisão de Lula. Assim, fortalece, pelo menos para os petistas e simpatizantes do PT, o próprio discurso do partido. Manter esta prisão foi do interesse do sistema, sem dúvida. Por isso mesmo consideramos que a eleição sem Lula era fraude e sustentamos a ilegitimidade do novo governo, diferentemente até da cúpula do PT que deixou pelo caminho esta definição.

Mas a escolha de Moro irá abrir novas contradições que podem terminar enfraquecendo o governo. Na verdade, a escolha de Moro pode ser um sinal de fraqueza, não de força de Bolsonaro. Digo isso porque este governo reacionário é mais fraco na proporção inversa da força da resistência democrática. Isso é assim porque este governo é antidemocrático em primeiro lugar. E embora a imagem do governo se fortaleça com Moro de ministro, sua natureza de governo reacionário encabeçado por um presidente com posições fascistas, que pretende fazer uma guerra econômica contra o povo, não se altera em nada. Mas é um sinal da força, não da fraqueza da luta de resistência, que o superministro da justiça não possa ter sido entregue a alguns dos marginais políticos que acompanham Bolsonaro. Isso seria muito pior do ponto de vista da necessidade da luta democrática. E há no Brasil esta necessidade. Claro que o arbítrio pode ser levado adiante com a legislação vigente. A lei antiterrorista feita no governo Dilma que o diga. Mas a defesa de bandeiras democráticas da Constituição pode e deve ser feita para barrar ataques, como tentam agora contra a educação ao pressionarem por mordaça e censura nas escolas. Vai se abrir uma luta de exigência e um processo de experiência pelo menos em relação a dois temas: corrupção e combate aos assassinatos políticos. Sobre os crimes, a primeira questão que Sérgio Moro terá que responder ao país quem matou Marielle, quem mandou matar e por que. Eis uma demanda que nosso partido fará chegar ao novo ministro assim que assuma. Sobre corrupção, será bom cobrar de Sérgio Moro que se pronuncie sobre vários dos seus colegas, a começar pelo escolhido chefe da casa Civil, o deputado Ônix Lorenzoni, que confessou receber caixa dois na campanha eleitoral passada. Mas sobre isso muita água vai rolar ainda e não temos expectativa nenhuma no novo governo nem seu ministro leve adiante a luta contra corrupção. Quem viver verá. Seja como for, o que não se pode esperar é que o político direitista Sergio Moro se desligue do caso Lula. Por justiça não pode ser diferente já que fez até a confissão de que seu interesse na Lava Jato não era apenas fazer justiça. Tanto é assim que promoveu a seletividade, atacando só o PT e deixando seus futuros colegas de ministério leves e tranquilos.

Moro, ao fim e ao cabo, pode terminar sendo apenas um fusível queimado em seguida por este governo Bolsonaro/general Mourão, como parte desta traumática experiência política que o Brasil começa a atravessar. Afinal, um dos temas que a política de Bolsonaro não tem capacidade de resolver é precisamente a da segurança pública, até porque se a linha do assassinato dos bandidos fosse solução o Brasil já seria uma Dinamarca.


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