Não existe Planeta B: a onda de calor e o futuro do planeta
A diretora de Meio Ambiente da UNE, Renata Moara, reflete sobre a onda de calor que atinge o país
Foto: Wikimedia Commons
Via UNE
Nos últimos meses temos acompanhado de perto as consequências das mudanças climáticas. Onde seria inverno tivemos recorde de temperaturas elevadas, diversos estados viveram momentos críticos de fortes chuvas e destruição, como foi no Rio Grande do Sul, a seca no cerrado nunca esteve tão forte, o Amazonas também passa por uma seca que afeta principalmente os ribeirinhos. E nessa semana estamos passando pela maior onda de calor dos últimos anos, chegando até 5°C a mais do mesmo período do ano passado, esse calor durante esse período do ano é totalmente atípico e se explica, também, pelas mudanças climáticas globais.
Há décadas que o debate ambiental feito pelos movimentos indígena, social, ambiental, alertam para um colapso global causados pela ganância humana e exploração do planeta, marcas registradas do capitalismo. Ailton Krenak, ambientalista e líder indígena dos Krenak, escreve em seu livro “Ideias para adiar o fim do mundo” que:
“Fomos nos alienando desse organismo de que somos parte, a Terra, e passamos a pensar que ele é uma coisa e nós, outra: A Terra e a humanidade. Eu não percebo onde tem alguma coisa que não seja natureza. Tudo é natureza. O cosmos é natureza. Tudo em que eu consigo pensar é natureza.”
Krenak mostra como a ideia de superioridade humana é trágica para todo o planeta, não há humanidade sem a natureza. Essa prerrogativa é ancestral, os povos indígenas há séculos nos ensinam que o respeito à mãe Terra é o que salvará nossas vidas. Contudo, o que vivemos hoje é um aceleramento do fim do mundo. O desmatamento, a mineração, garimpo ilegal, o avanço da soja, principalmente nos estados do Centro-Oeste, e no Pará, são causadores da ebulição global que vivemos, não à toa, Belém (PA) se tornará a segunda cidade mais quente do mundo ate 2050.
O Planeta pede socorro. Nós pedimos socorro. A exploração desenfreada dos recursos humanos e não humanos já mostrou o seu fracasso, e quem sofre diretamente com as consequências do capitalismo predatório são aqueles que historicamente vivem à margem dos direitos fundamentais. É a população mais pobre que sofre com o calor extremo, em casa, nas escolas públicas em sua maioria sucateadas, nos ônibus lotados, é necessário debater também o racismo ambiental que atravessa a população periférica nas cidades do Brasil.
Davi Kopenawa Xamã e líder Yanomami nos alerta em “A queda do Céu” que o “Povo da Mercadoria” é uma ameaça para a permanência da floresta e a sobrevivência dos povos.
Não é exagero dizer que a onda de calor vivida essa semana é apenas o começo daquilo que pode vir a ser o colapso ambiental da humanidade. Não há mais como adiar e nem secundarizar a urgência da centralidade das lutas ambientais. A demarcação das terras indígenas é imprescindível nessa luta, a luta por justiça climática, e principalmente o rompimento com o modus operandi de destruição do planeta, o capitalismo. Construir o ecossocialismo aliado com os saberes ancestrais é a única alternativa para a sobrevivência da Terra. As visões de mundo Yanomami já nos diziam: a destruição das florestas acabará não apenas com ela, mas com todos nós.