Cultura do estupro fomenta crimes sexuais, dizem deputadas do PSOL
Polícia Civil prendeu em flagrante anestesista filmado estuprando paciente durante o parto, em São João do Meriti (RJ)
Nas últimas semanas, o noticiário tem revelado situações atrozes pelas quais passam os direitos das mulheres brasileiras. De uma menina de 11 anos, vítima de estupro, impedida por juíza e promotora de realizar um aborto legal, à uma procuradora agredida por um colega no local de trabalho, passando por uma atriz jogada aos leões da mídia sensacionalista após dar para adoção um bebê fruto de violência sexual, parecia termos visto de tudo. Parecia.
Na madrugada desta segunda-feira (11), o anestesista Giovanni Quintella Bezerra foi preso em flagrante por estuprar uma paciente que passava por uma cesariana. O crime, contra a vítima inconsciente, foi filmado em uma sala de cirurgia do Hospital da Mulher, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. A câmera escondida do celular mostra o médico inserindo o pênis na boca da parturiente. O ato dura 10 minutos.
A gravação foi feita por corajosas profissionais que já suspeitavam que o médico exagerava na sedação para praticar atos ilícitos com pacientes dopadas durante cesarianas. Nessas cirurgias, a visão do paciente ao espaço cirúrgico é bloqueada por um lençol.
Além de violência obstétrica, o crime documentado se configura como estupro de vulnerável. Segundo levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), em 2021, houve um estupro a cada 10 minutos e um feminicídio a cada 7 horas no Brasil. Em 58% dos casos, a vítima tinha menos de 13 anos ou era incapaz de se defender.
Contra a cultura do estupro
Porém, nesse episódio de violência sexual destaca-se a ousadia de um profissional médico que comete um crime durante um trabalho, rodeado de colegas. A situação causou revolta na população. As deputadas federais do PSOL Fernanda Melchionna e Vivi Reis qualificaram o caso como “repugnante”.
“Difícil até falar sobre esse caso repugnante do anestesista Giovanni Bezerra que estuprou uma paciente em plena cesárea. Não existe nenhum lugar onde uma mulher esteja segura. É preciso responsabilizar o estuprador e assegurar a esta mulher, vítima de violência, todo apoio”, disse Vivi.
“É revoltante demais! Ele foi preso em flagrante. Mas é o suficiente? Nem durante o parto as mulheres estão seguras! Até quando?”, questionou Fernanda.
Deputada federal por São Paulo, Sâmia Bomfim salientou que, no Brasil, vigora uma “cultura do estupro”. O termo se refere a uma sistemática de pensamentos e comportamentos sociais que silenciam ou relativizam a violência contra a mulher. Um dos exemplos mais claros disso é a culpabilização da vítima, desatou a parlamentar:
“Nunca foi sobre as roupas que vestimos ou os locais que frequentamos. O problema sempre foi a cultura do estupro, que ataca nossa dignidade, violenta mulheres e crianças e assegura a boa parte dos homens a impunidade e o silêncio de outros homens. Temos muito pelo que lutar!”.
A Polícia Civil indiciou o anestesista Giovanni Quintella Bezerra por estupro de vulnerável. Se condenado, sua pena pode variar entre oito e 15 anos de prisão.