As lições da Argentina
A grande manifestação de aposentados e torcidas organizadas contra Milei foi exemplo da unidade antifascista
Foto: Repressão policial contra manifestação em Buenos Aires. (PdI/Reprodução)
A Argentina foi foco do noticiário internacional. Uma manifestação multitudinária em defesa dos aposentados, que contou com uma participação importante das torcidas dos clubes de futebol, derivou numa forte repressão por parte do governo Milei. Foram mais de cem presos, centenas de feridos, incluindo o fotógrafo Pablo Grilo, que se encontra em estado grave, ainda sob risco de vida.
A tensão nas ruas é parte de um processo de crise do governo, que busca pela via da repressão impor ataques pesados contra o movimento de massas. Depois de certa estabilidade, Milei volta a ficar na defensiva, por conta da retomada das lutas e de um escândalo financeiro que abalou seu governo, conhecido como Criptogate (por envolver a difusão de um esquema de pirâmide de criptomoedas).
É fundamental acompanharmos o desenlace da polarização na Argentina, diante do recrudescimento da extrema direita no mundo, onde Trump ataca com força, reprimindo o movimento estudantil dentro dos Estados Unidos, no caso da prisão de Mahommed Kalil. Aqui no Brasil, Bolsonaro e sua corja tentam levantar a cabeça para driblar suas condenações e colocar seus apoiadores na rua no próximo domingo, 16/03, em Copacabana.
Milei quer um “enclave trumpista”
Milei é o verdadeiro “aprendiz” de Trump. Em meio a crise orgânica da política argentina, foi eleito combinando a crítica a “casta política” com seu plano “motosserra”, que tem como objetivo reposicionar a Argentina no mercado mundial, impondo novas condições que quebrem as conquistas do Argentinazo, imponham uma nova relação de forças no país e o transformem no laboratório de um ultraliberalismo selvagem.
Seu primeiro ano foi marcado por altos e baixos. Depois de um primeiro momento de resistência popular mais intensa, com duas greves gerais em seis meses e um ato gigantesco do dia da memória. Milei estabilizou o segundo semestre, ainda que com uma oposição massiva da luta nas universidades, conseguindo aprovar algumas medidas no parlamento, fiando-se na redução da inflação como bandeira central.
No último período, novamente as chagas da crise se abriram. Com o escândalo do Criptogate, onde Milei promoveu por suas contas oficiais no X uma criptomoeda que horas depois levaria ao prejuízo milhares de argentinos, numa verdadeira fraude, o governo voltou a encarar crise e desorientação. Dois atos importantes, em 1 de fevereiro e no 8 de março, levaram centenas de milhares às ruas, mostrando o vigor da oposição democrática.
A recente batalha campal na manifestação dos aposentados e das torcidas jogou mais lenha na fogueira. No congresso nacional, deputados do próprio campo governista trocaram socos e insultos. E a economia agoniza, apesar do marketing governista ao redor da baixa da inflação. Se espera o resultado das negociações com o FMI, para refazer o acordo que condiciona a política econômica do país. As centrais sindicais discutem uma nova greve geral para o começo de abril.
Instabilidade e luta de classes
A principal lição da Argentina é a de que apenas na luta de massas podemos enfrentar a extrema direita. A prostração e o medo são péssimos conselheiros para parar a ofensiva que Trump, Musk, Bolsonaro e Milei querem impor ao movimento de massas.
Acompanhar e coordenar a solidariedade internacional contra os neofascistas é decisivo para nossa própria luta no Brasil. Mais do que nunca, a questão internacional está vinculada.
Entramos num perigoso terreno de instabilidade. Sabemos que Trump quer lograr uma verdadeira “guerra” contra nossos direitos e que seus aprendizes mundo afora buscarão fazer o mesmo, com seu programa que já conhecemos. Contudo, a última palavra não foi dada. A crescente resistência popular na Argentina é um sintoma de que não será simples para a corja de bilionários consigam impor uma derrota efetiva para a classe trabalhadora e os povos do mundo.
Por conta disso, seguimos defendendo uma saída contra a extrema direita, articulando nossas relações internacionais, apoiando a luta do povo argentino, que sirva de exemplo para o conjunto do ativismo no Brasil.