Retrospectiva Internacional 2025: o momento da luta antifascista e anti-imperialista
Uma retrospectiva do ano de 2025 indicando a resistência frente aos ataques da extrema direita e do imperialismo
Em meio as mais recentes agressões imperialistas contra a Venezuela, retomamos essa retrospectiva do ano de 2025 feita pela Comissão Internacional do MES-PSOL relembrando os principais processos de luta e resistência do ano que termina.
O ano foi marcado pela ação imperialista organizada desde o governo de extrema direita de Trump nos EUA, atacando a soberania de países de todos os continentes com sua guerras tarifárias e tendo o genocídio do povo palestino como ápice de sua política de morte. Os assassinatos em larga escala e a destruição da Faixa de Gaza demonstraram o espírito do neofascismo em sanha destruidora, reproduzindo nos dias de hoje as mesmas políticas e métodos do nazifascismo histórico.
Mas também houve resistência. Os levantamentos populares das juventudes de várias partes do mundo contra o neoliberalismo e a austeridade fiscal atingiram e derrubaram governos corruptos, da mesma forma que o movimento climático se consolidou e entrou ainda mais no centro das estratégias para um futuro anticapitalista.
Para o MES-PSOL, 2025 foi também o ano que marcou nosso ingresso pleno na seção brasileira da IV Internacional, a principal articulação internacional do trotskismo e cujo Manifesto Ecossocialista representa hoje o principal programa político para a transição ecossocialista.
Estados Unidos: ofensiva de Trump e a resistência crescente
Em seu segundo governo, Donald Trump aplica uma tentativa permanente de mudança autoritária de regime político nos EUA, ativamente atacando os direitos civis e reprimindo a enorme comunidade imigrante do país como forma aprofundar o medo e o controle social no país. As cenas de prisões de imigrantes, separações de famílias e deportações – sempre combinadas com um discurso xenófobo e supremacista branco, são hoje exemplares de uma sociedade estadounidense construída fundamentalmente por povos originários e imigrantes.
As guerras tarifárias tiveram esse mesmo sentido no âmbito internacional, atacando interesses nacionais especialmente no Sul Global através de um protecionismo extremo que buscou submeter economias mais frágeis em prol de um novo projeto imperialista cada vez mais próximo da simples pilhagem colonial de séculos passados.
E nesse fim de ano vemos a radicalização desta postura contra a América Latina através na nova Doutrina Monroe, o Corolário Trump, a recente política imperialista de “segurança” divulgada pelo governo dos EUA, que se expressa hoje diretamente nas agressões e ameaças contra a soberania da Venezuela, como desenvolvemos em tantas publicações e que nos obriga a estar alertas em unidade de ação contra o imperialismo.
Por outro lado, este processo também não aconteceu sem greves e resistência e hoje encontramos o movimento socialista dos EUA em seu auge, cuja eleição de Zohran Mamdani como prefeito de Nova York é o maior símbolo, se apresentando também nas eleições de diversos outros socialistas pelo país. Da mesma forma, os protestos No Kings, nos quais multidões tomaram as cidades norte-americanas contra Trump e tiveram destaque de figuras como Bernie Sanders e Alexandria Ocasio-Cortez na convocação, também deram o tom de uma resistência viva e dinâmica do povo estadounidense contra Trump.
Palestina, a luta do nosso tempo
Diretamente ligado à política imperial da extrema direita, o genocídio palestino foi a catástrofe que marcou 2025. A máquina sistemática de limpeza étnica promovida pelo estado sionista com todo apoio do Ocidente demonstrou que as barreiras éticas universalmente propagandeadas pela “civilização ocidental” se tornam obsoletas perante o imperialismo neofascista.
As dezenas de milhares de mortes de civis, assim como os centenas de milhares de feridos e milhões de deslocados em Gaza não aconteceram de forma camuflada em meio a uma guerra de narrativas, como nos casos clássicos de extermínio. Ao contrário, foram registradas sistematicamente por celulares e nomeadas por um governo sionista que declara abertamente suas intenções de colonização e limpeza étnica contra os palestinos.
Mas tal situação de agressão imperialista também engendrou a sua própria contradição: o movimento internacional em solidariedade à Palestina atingiu patamares históricos, mobilizando milhões por todo o planeta (especialmente na juventude) e desmascarando abertamente o sionismo. A massiva greve geral na Itália foi o grande exemplo deste movimento internacional, assim como grande repressão contra o apoio à Palestina especialmente na Europa, onde governos como os do Reino Unido e Alemanha encaram tal solidariedade como “apoio ao terrorismo”, também provou os evidentes limites democráticos dos países europeus.
Nesta luta, a Global Sumud Flotilla foi uma significativa ação internacionalista, reunindo centenas de ativistas pela Palestina em dezenas de embarcações para furar o bloqueio naval criminoso contra Gaza. Nesse processo, liderado por Greta Thunberg e pelo brasileiro Thiago Ávila, nós do MES-PSOL estivemos presentes com três militantes: a vereadora de Campinas/SP Mariana Conti, a presidente do PSOL-RS Gabi Tolotti e nosso membro da Comissão Internacional Nico Calabrese. Sequestrados e presos nas prisões israelenses, nossa delegação esteve junto a tanto outros brasileiros nessa ação e voltou ao Brasil ainda mais engajada na denúncia dos crimes do estado de Israel.
América Latina sitiada
Em nosso continente, o Corolário Trump representa a sistematização desta nova política imperialista, cujas ações diplomáticas e militares acossam de diferentes formas seus países. Enquanto as ações diretas contra a Venezuela estão na ordem do dia, a influência do imperialismo nas vitórias das direitas e extremas direitas em países como Argentina, Chile e Bolívia, assim como a exceção golpista no Peru, se aproveitam das contradições de governo ditos “progressistas” para impor uma nova agenda, mas avançam em patamares cada vez maiores de rapina e colonialismo, aprofundando o extrativismo predatório em benefício exclusivamente das grandes empresas e seus estados de origem.
Por outro lado, governos que buscaram resistir em algum nível, especialmente o governo colombiano de Gustavo Petro, demonstraram também possibilidades de confrontação contra iniciativas que buscam fortalecer o caráter da América Latina enquanto “quintal” dos EUA, sempre controlando política e economicamente o continente.
Nesse momento, urge a unidade ao redor da defesa da Venezuela. As recentes agressões militares e a iminência de um ataque mais concreto exigem a unidade anti-imperialista mesmo em face dos enormes erros e contradições do governo Maduro.
A crise europeia
Na Europa, a crise orgânica se apresenta de forma cada vez mais evidente, seja no crescimento da extrema direita por todo o continente nos últimos anos, seja também incapacidade de respostas dadas pelas instituições da União Europeia e seu europeísmo neoliberal cada vez mais capitulador às posições neofascistas, especialmente no tema da imigração.
Os crescentes resultados eleitorais da extrema direita em países como França, Alemanha, Reino Unido e Portugal se combinaram com um processo de implantação da austeridade fiscal em diversos países pelos partidos tradicionais – inclusive ditos “progressistas” – e sua capitulação frente à questões essenciais, como a imigração, o acesso e qualidade dos direitos sociais, entre tantos outros.
Nesse contexto, a agressão russa contra a Ucrânia continua com apoio cada vez menor ao lado agredido. Lutando bravamente em uma guerra por sua autodeterminação nacional, o povo ucraniano é vítima da espoliação imperialista através de sua dívida crescente e do roubo de seus recursos naturais enquanto Trump e a extrema direita europeia atuam ativamente em prol dos interesses grão-russos do governo de extrema direita de Putin.
Nesse contexto, também surgem resistências. Se o ano de 2024 assistiu o aparecimento da Nova Frente Popular na França, em 2025 vimos o surgimento do Your Party no Reino Unido, rompendo os Trabalhistas para construir um novo partido de esquerda que possa fazer frente ao crescimento dos fascistas do Reform e indicar um programa para a classe trabalhadora nestes países.
O ecossocialismo como tarefa urgente
2025 também foi um ano marcado pela centralidade do debate ambiental entre os movimentos sociais. Com os impactos das mudanças climáticas cada vez mais evidentes em todas as partes do planeta, nas quais as recentes enchentes e deslizamentos em diversos países da Ásia foram a consequência mais recente, movimentos sociais e políticos de todo o planeta tem incorporado cada vez mais a perspectiva ecossocialista como alternativa programática à destruição do capital.
Na COP 30, realizada no Brasil sob grandes expectativas e uma enorme frustração sobre seus resultados, tais movimento movimentos sociais – tendo os indígenas do Baixo Tapajós à frente e o coletivo Juntos como um dos principais aliados – deram exemplo de luta na ocupação da zona mais restrita do evento, indicando também a demagogia do governo brasileiro no tema: defendendo a exploração de petróleo na Amazônia, a privatização de rios na mesma região e a financeirização das florestas através do TFFF. No mesmo sentido, o Encontro Ecossocialista Latino-Americano e Caribenho e a Marcha Global pelo Clima representou um importante momento de convergência dos movimentos sociais perante boa parte destas pautas centrais.
Juventudes do mundo seguem nas ruas
E as contradições da crise capitalista fizeram ecoar movimentos de resistência por todo o globo, protagonizadas pela juventude e com pautas muito concretas contra a mercantilização da vida, a corrupção e demais sintomas de um momento histórico do capitalismo decadente. A chamada Geração Z foi às ruas com seus próprios símbolos e interesses, marcando também um novo momento histórico de mobilização em diversos países.
Gigantescas manifestações de jovens com pautas anticapitalistas tomaram as ruas de vários países especialmente da África e da Ásia nos últimos anos. Nas experiências africanas, dos enormes levantes da juventude em países como o Quênia e a Nigéria até as revoltas que explodiram em Moçambique, Madagascar e Marrocos, a pauta econômica ocupou papel central. Na Ásia, a heróica luta da juventude de Bangladesh contra a ditadura de Sheik Hasina, as mobilizações no Nepal e em outros países da região também demostraram o mesmo sentido. Também apontamos contradições locais destes processos, especialmente como no México, mas que não ofuscam o conteúdo real destas mobilizações.
A Conferência Internacional Antifascista é nosso horizonte para 2026
Para o começo do próximo ano, a grande tarefa coloca aos internacionalistas do Brasil é a construção da Conferência Internacional Antifascista pela Soberania dos Povos, que acontecerá de 26 a 29 de março de 2026 em Porto Alegre.
Contando com um Comitê Internacional composto por dezenas de organizações de todos os continentes, a Conferência Antifascista foi convocada desde Porto Alegre pelos partidos PSOL, PT e PCdoB, movimentos sociais como o MST e diversos sindicatos, sendo o próximo espaço internacional de debate e conspiração para nossas urgentes ações em comum frente à ascensão da extrema direita imperialista.
Para enfrentar os desafios colocados ao longo deste ano e indicar um futuro de unidade concreta para derrotar o fascismo, vamos todos e todas à Porto Alegre! Esta é nossa primeira tarefa para o ano que começa!