Apresentação da Revista Movimento n. 2
O segundo número da Revista Movimento foi publicado no terceiro trimestre de 2016.
Dando sequência ao esforço de elaboração e publicação iniciado em nosso primeiro número, lançamos a segunda edição de Movimento – Crítica, Teoria e Ação. Antes de tratar dos temas presentes nas páginas a seguir, é importante valorizar e agradecer a boa acolhida que nossa publicação recebeu, em particular no interior da militância de nossa corrente, o Movimento Esquerda Socialista, mas também em eventos de lançamento públicos por todo o país, reunindo apoiadores, intelectuais amigos e camaradas de outras organizações, do PSOL e de fora do partido, com quem pudemos abrir debates e lançar pontes para o diálogo e a construção futura. Pensamos que este é o principal objetivo da publicação e neste caminho queremos seguir.
Claro que ainda há muito a avançar: precisamos fazer a revista chegar a mais lugares, com melhor tiragem, mais círculos de debate e atividades públicas. Também achamos que nossos camaradas podem se apropriar ainda mais da publicação, propondo temas e tomando a iniciativa de refletir e elaborar. Nesse número, tal esforço já é visível.
Abrimos este segundo número com um artigo de fôlego de Pedro Fuentes sobre a mudança de etapa na América Latina, após o fim do ciclo conduzido pela direção lulista e do Foro de São Paulo, bem como do madurismo na Venezuela. Trata-se de uma discussão fundamental, um balanço do longo período anterior e uma reflexão necessária para armar nossa intervenção não apenas no Brasil, mas em todo o subcontinente latino-americano, destacando a importância da construção de um “terceiro campo” claramente demarcado da direita clássica atrelada ao imperialismo que ganha força e retorna ao governo em alguns países, bem como das direções do autoproclamado “progressismo” que foi a pique por suas próprias contradições e escolhas.
Na sequência, aparece a entrevista realizada com Bhaskar Sunkara, editor da Jacobin Magazine, a já influente revista que congrega o melhor do pensamento de esquerda e do ativismo estadunidenses, com alcance mundial e diálogo com intelectuais e dirigentes socialistas. Bhaskar falou sobre as oportunidades abertas pelo movimento ao redor da campanha de Bernie Sanders, ainda em andamento no momento da entrevista, além de mostrar sua relação com uma nova geração de jovens naquele país que se identificam como socialistas e realizam experiências em novos movimentos – como o “Black lives matter”, a luta pelo salário mínimo de 15 dólares por hora e o “Occupy Wall Street”. Uma entrevista útil para localizar as dificuldades e possibilidades abertas para a construção de uma alternativa de esquerda na principal potência capitalista, motivo mais do que suficiente para interessar toda a vanguarda mundial.
Nessa edição de inverno, às vésperas das eleições municipais de 2016, publicamos artigo de Camila Goulart e Israel Dutra, originalmente elaborado como subsídio a uma escola de quadros da regional gaúcha do MES, que tratou do papel dos socialistas nas eleições, de como os revolucionários devem lidar com o parlamento e dos desafios que se abrem para nossa corrente a partir da possibilidade concreta de vencer a eleição para a prefeitura de Porto Alegre com Luciana Genro. Aliás, Luciana escreve na sequência sobre sua recente experiência em Madri, onde pôde dialogar com Manuela Carmena, prefeita da cidade eleita por uma coalização com protagonismo de Podemos e parte do movimento de “prefeituras da mudança” que há no país. Luciana trata da necessidade de governar através da participação popular e de que o povo tenha canais de decisão para além do simples voto durante a eleição municipal: este é um dos eixos de sua campanha para compartilhar a mudança em Porto Alegre.
A companheira Samara Castro, advogada do PSOL do Rio, por sua vez, assina artigo sobre o retrocesso trazido pela “lei da mordaça” de Cunha, sancionada por Dilma, que visa à diminuição do espaço para a esquerda socialista num momento em que esta pode fortalecer-se diante da crise do regime. Samara detalha as mudanças em curso e as relaciona com os temas clássicos sobre a relação entre política revolucionária e democracia burguesa.
Em junho, as jornadas de 2013 completaram 3 anos sem que seus efeitos e determinações ainda possam ser vislumbrados com toda a clareza. Este evento, que é o principal marco da conjuntura atual do Brasil, segue tendo ecos. Por isso, publicamos excelente artigo da socióloga Giovanna Marcelino, militante do MES-SP, sobre o marxismo e as lutas setoriais, tema por si só relevante, mas que ganha ainda mais importância à luz da força que o movimento de mulheres conquistou no último período. Giovanna historiciza a ascensão do pensamento pós-moderno e a ofensiva contra o pensamento marxista nas últimas décadas. Uma aula que merece ser lida por todos os que tiverem este número de Movimento em suas mãos.
O companheiro Bernardo Corrêa, por sua vez, explora outro tema fundamental: a relação entre Junho e a luta dos trabalhadores, analisando dados sobre o número de greves desde então e entrando no debate sobre os significados das Jornadas de Junho para a classe trabalhadora brasileira.
Nesse segundo número de Movimento, mantemos a seção de documentos, em que resgatamos dois materiais de 2004 escritos durante os intensos meses de organização do que seria o PSOL após a expulsão dos “radicais” do PT. Um deles, em espanhol, é uma polêmica de Pedro Fuentes com o artigo Um vendaval oportunista corre o mundo, de Martín Hernandez, dirigente do PSTU e da LIT. O outro é um documento da Coordenação do MES sobre a estratégia que orientava a corrente na construção do novo partido: a necessidade de levantar uma oposição de esquerda ao PT que almejasse ter influência de massas. Republicar estes materiais de mais de dez anos tem grande valor num momento em que se apresenta à esquerda socialista brasileira com ainda mais força a necessidade de construir uma alternativa à esquerda diante da débâcle petista, após anos de governo com a grande burguesia e seus representantes políticos corruptos. O significado do impeachment de Dilma, através de um golpe parlamentar e palaciano, ainda será objeto de muito debate, mas a necessidade de dar passos em direção à reorganização da esquerda, à luz dessa experiência frustrada, já aparece com grande força, trazendo mudanças, reagrupamentos e reorientações entre os revolucionários. Acreditamos firmemente que nas elaborações da fundação do PSOL, ainda que bastante insuficientes para dar as respostas de que necessitamos hoje, há elementos fundamentais para seguirmos adiante.
Encerrando esta edição, na seção de teoria, está o artigo dos camaradas Maycon Bezerra e Juliano Niclevicz, docentes do IFRJ e da UFRJ respectivamente, que se debruçaram sobre as reflexões de Antonio Gramsci e de Herbert Marcuse sobre a educação. Este esforço, de diálogo aberto com autores clássicos do marxismo, merece ser saudado.
“E vamos de novo!”
Boa leitura!