O debate sobre a mobilização dos “coletes amarelos” na esquerda anticapitalista francesa

Publicamos as primeiras manifestações do NPA e do Ensemble, organizações anticapitalistas francesas, sobre as mobilizações e bloqueios de estradas e avenidas em 17 de novembro.

Revista Movimento 20 nov 2018, 16:03

Publicamos a seguir as primeiras manifestações do NPA e do Ensemble, organizações anticapitalistas francesas, sobre as mobilizações e bloqueios de estradas e avenidas em 17 de novembro realizados por motoristas contra o aumento dos combustíveis promovido pelo governo de Emmanuel Macron. A tradução é de Fabiana Lontra.


Após 17 de novembro, ampliar a indignação contra Macron e o governo dos ricos

NPA – Fonte: https://www.npa2009.org/agir/politique/apres-le-17-novembre-contre-le-president-des-riches-federer-nos-coleres

É impossível negar, até mesmo o governo reconhece: hoje, encontravam-se cerca de 300
mil coletes amarelos nas estradas e nas ruas, e havia mais de 2 mil bloqueios e
manifestações. Ainda que a direita e a extrema-direita quisessem ser as porta-vozes
dessa indignação, que Macron se aproveitasse para provocar o pujadismo e tentasse
calar protestos em alguns lugares a golpes de cassetete e gás lacrimogêneo, a realidade é
bem concreta: foi sobre uma política de classe, uma política ao serviço dos ricos a
denúncia de hoje.
A indignação expressa hoje é a das classes populares, de homens e mulheres
obrigados(as) a utilizar seus veículos para ir trabalhar, acessar serviços públicos ou
fazer seus trajetos. O aumento dos impostos não os fará mudar seus meios de transporte,
mas diminuirá ainda mais seu poder de compra. É por isso também que os coletes
amarelos combinam em sua indignação o aumento do combustível e da CSG
[contribuição social geral], a diminuição das pensões, os múltiplos ataques orquestrados
por Macron há mais de um ano.
Hoje, Macron paga pelo desprezo demonstrado para as classes populares, uma
tributação que aumenta os impostos altíssimos pagos pelos mais pobres, mas isenta os
mais ricos e os capitalistas através do CICE [crédito de imposto pela competitividade e
emprego], do flat tax [imposto de taxa única] e da supressão do ISF [imposto sobre
fortunas].
O pretexto da luta contra o aquecimento global é uma farsa sinistra: esse governo, assim
como os anteriores, empurra as classes populares pra fora das grandes cidades e áreas
urbanas por meio de auguéis exorbitantes e salários baixos, liquida os conjuntos
habitacionais subsidiados, obriga-as a percorrer dezenas de quilômetros para encontrar
hospitais e escolas. Ao mesmo tempo, um terço das vias férreas foi extinto e os dossiês
do governo preveem 8000 quilômetros de fechamentos. O transporte ferroviário e
combinado (rodoferroviário) foi liquidado por decisões governamentais. Uma grande
parte do território não usufrui de transportes públicos.
Nos dias que virão, será necessário mobilizar os movimentos sociais, sindicatos,
associações e partidos políticos para que eles deem seguimento a essa indignação,
iniciando mobilizações pelo poder de compra, por um aumento geral de salários e
pensões, pela supressão de medidas fiscais que atacam as classes populares, contra a
política de Macron em benefício do Medef [Movimento de empresas da França] e dos mais ricos. O NPA tomará iniciativas com esse propósito nos próximos dias.


E no dia 17, o que fazer?

Ensemble – Fonte: https://www.ensemble-fdg.org/content/et-le-17-que-fait

Uma única questão atravessa a sociedade há quase um mês: o bloqueio das estradas no próximo 17 de novembro; e nada sobre o assunto no site nacional do Ensemble, fora algumas posições de blogueiros locais (como o coletivo de blogueiros do distrito 29).
No distrito de Vaucluse, aconteceram diversas reuniões nessas últimas semanas, mesmo nos últimos dias; exceto o PCF [Partido Comunista Francês], que prepara seu congresso nacional, e a CGT 84 [sindicato de Vaucluse], que lançou um comunicado diferenciando-se dos autores do chamado para o dia 17, o conjunto das outras forças políticas foi, pouco a pouco, evoluindo de uma recusa inicial a uma participação quase incontestável, de uma maneira ou outra, nesse dia.

No entanto, as coisas parecem claras aqui; um coordenador distrital, marcado politicamente, Christophe Chalençon, ex-candidato nas eleições legislativas de 2017 pela bandeira do movimento Génération Citoyens – partido de Jean-Marie Cavada –, que chamou votos para Macron no segundo turno das eleições presidenciais de 2017, ferreiro artesão de uns 50 anos, membro da Câmara de Artes e Ofícios, que ataca os partidos e fala de uma « oligarquia » na cúpula do estado sem, no entanto, questionar as instituições da 5ª República!

Sim, mas vejam só: talvez em parte devido (ou graças) à La France Insoumise, os representantes eleitos da extrema-direita, embora presentes em absolutamente todos os lugares nas comunas locais, relutam em assumir a liderança do movimento: caberá a nós analisar por que a extrema-direita é tão cautelosa nesse momento.

A jogada, se foi preparada há bastante tempo, é bem feita: sem dúvida, os artesãos,
comerciantes e agricultores vão se mobilizar localmente no dia 17. Hoje, a três dias do 17, a aposta de lançar-se à sorte e participar no dia de uma maneira ou outra supera a atitude de esperar pra ver (exceto no caso do PCF, como já destacamos). Mas o fato de nenhum debate do CN aparecer em nosso site nacional mostra quanto a paralisia política nos espreita neste período crucial.


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