Fogo no “inferno” verde: O capital desmascarado sufocando a Amazônia

A fumaça da combustão da fauna e flora é um problema grave e mostra que a bancada ruralista tem sede de sangue.

L. Johnson P. Portela 20 ago 2019, 20:35

No ano de 1927 Henry Ford adquiri terras no Vale do Rio Tapajós, para a produção em larga escala de látex, assim inicia-se o ciclo da borracha na Amazônia, mais um ciclo de devastação de povos tradicionais e do meio ambiente. O apogeu e queda do Fordismo dentro do que ficou conhecido popularmente como “o inferno verde”, pela imensidão da floresta densa e fechada, com árvores gigantes que davam um ar sombrio.

Relatos falam que na chegada dos norte-americanos houve um incêndio na cidade de Fordlândia que representou o começo da verdadeira ruina, na pesquisa histórica de Grandin (2010, p.24, 25) relata que: “talvez tenha sido o maior incêndio até hoje provocado pelo homem naquela parte da Amazônia, com folhas em chamas flutuando para a outra margem do rio en­quanto as cinzas enchiam o céu, transformando as nuvens da estação chuvosa numa névoa cor de sangue”.

A ação do Ford na região do Rio Tapajós mais especificamente, demonstrou que a Amazônia num olhar inocente e estereotipado parece sinônimo de infinidade da natureza, na prática capitalista como foi o ciclo da borracha a reflexão que deixa a todos é, quanto a floresta é sensível e seu desiquilíbrio afeta todo o micro e macro bioma.

O presente e o passado neste caso têm uma linha tênue, em Fordlãndia, a cidade criada dentro da floresta como polo dos planos, foi um local de experimentos de  uma planta chamada Glycine max, ou Soja, que na compreensão de Ford, poderia ser o futuro da alimentação, isso por volta de 1930 (Almeida, 2017; Grandin, 2010). Portanto, no Fordismo sem precisar de bola de cristal foi adivinhado o futuro da entrada neoliberal.

Nos últimos anos o ciclo econômico que vigora é o do agronegócio, que vêm assolando os céus pela fumaça da vida que queima pela expansão da monocultura, o verdadeiro inferno, não há como não fazer a analogia a famosa frade de Marx: “A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa” (2006).

A fumaça da combustão da fauna e flora é um problema grave que mostra que a bancada ruralista que ajudou a colocar no poder Bolsonaro tem sede de Sangue, doa a quem doer, assim como a fumaça tóxica do uso de agrotóxicos, que matam aos poucos as pessoas que vivem ao lado da plantação, assim como a morte de milhares de abelhas, tão importantes para a economia local e no equilíbrio ambiental.

No campo é marcado pela violência aos pequenos produtores rurais, pela pressão dos campos de produção da soja, isolando o agricultor familiar, até a venda de seu lote por uma bagatela, ou por violência  física e psicológica contra assentamentos da reforma agrária, sindicatos de trabalhadores rurais, movimentos que lutam por terra, não há discussão ou aviso prévio, tudo é resolvido a bala, como um faroeste, nunca visto em nenhum governo.

A Amazônia é a última fronteira econômica no mundo, os saques de seus recursos naturais (agronegócio, madeira, mineração, pecuária e hidrelétrica) são históricos e fazem parte da política de estado do governo brasileiro, até antes de Bolsonaro, isso é um fato irrefutável (LOUREIRO, 2002). O que se vê hoje é um governo sem máscara, que assassina a natureza e seus povos e ainda se vangloria de suas ações, na ideologia do desenvolvimento ou morte, negando dados científicos, ainda usando como argumento central usado por Ford, o mito que a Amazônia não tem fim.

Referências

ALMEIDA, I. S. C. Fordlândia: o capitalismo e colonialismo americano diante da amazônia brasileira. Jamaxi, Ufac, v.1, n.1, 2017.

GRANDIN, Greg. Fordlândia: Ascensão e queda da cidade esquecida de Henry Ford na selva. Rio de Janeiro. Rocco: 2010.

MARX, Karl. O Dezoito Brumário de Louis Bonaparte. São Paulo: Centauro, 2006.

LOUREIRO, Violeta R. Amazônia: uma história de perdas e danos, um futuro a (re)construir. Em: Revista Estudos Avançados,São Paulo, 16 (45), pp. 107-121, 2002.

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Camila Souza