Mais do que nunca, nova constituição

A crise política atual é recorrente, somente resta apurar o passo e trabalhar por uma nova Constituição.

Tito Prado 22 set 2020, 18:37

Tudo está podre nas alturas, os poderes do Estado são administrados por políticos submetidos aos interesses da CONFIEP e as potências econômicas que saqueiam nossos recursos impedindo nosso desenvolvimento como país. A quase 200 anos de vida republicana seguimos sendo semicolônia e vítimas da globalização capitalista. Este governo, esgotado pela crise política e a ira popular contra a corrupção, avançou medidas contra a máfia fujiaprista encastelada no Congresso e trouxe o referendo que o povo usou para desfazer-se dessa maioria congressual que buscava perpetuar o dolo e a impunidade. Mas Vizcarra terminou na mesma lógica neoliberal e sendo outro operador mais dos grupos de poder econômico.

O tratamento da pandemia mostra como nunca, que são os ricos e poderosos os que impõem as leis. 60 bilhões foram aos bancos e grandes empresas enquanto se negam a outorgar uma renda básica e a cobrar um imposto sobre as grandes fortunas. O povo padece fome e morre por milhares enquanto a classe política tradicional não atina saída alguma que não seja esperar a imunidade de rebanho ou uma vacina salvadora que pode demorar vários meses ainda.

A crise política atual é recorrente, somente resta apurar o passo desde a esquerda e trabalhar intensamente por articular um grande bloco unitário com todas as forças políticas e sociais do campo popular para levantar uma potente alternativa que se proponha nos dotar de uma nova Constituição. Não há outra saída que refundar um novo Estado, uma nova República com um governo popular que ponha a vida por diante e ajuste aos de acima. Ou eles, os grandes capitalistas ou nós. Não há termo médio. A ideia de um governo “para todos” a predica em favor de um “capitalismo social” ou seja de um capitalismo humano é o caminho à adaptação a um sistema que não dá para mais. Nem sequer nos países desenvolvidos pode seguir sustentando-se uma economia baseada no lucro e a ganância inerente ao capitalismo. Mas claro, tudo começa com o primeiro passo que é nos dotar de um programa que se proponha as mudanças de fundo que a emergência demanda, começando por avançar para um sistema de saúde único, universal e gratuito.

A força de uma proposta de esquerda reside em que mostre um caminho radicalmente distinto, somente assim ganharemos a confiança dos setores médios. Esta crise política passará e virão outras, é um círculo vicioso, se alternam uns a outros e segue o mesmo regime e o mesmo modelo que nos ata ao atraso e a pobreza extrema. É uma crise que nos interpela pois demanda que estejamos à altura para oferecer uma saída de fundo que se sustenta na força organizada e mobilizada de nosso povo. Um povo que não deixa de lutar, agora mesmo no norte contra a entrega de nosso mar às petroleiras estrangeiras, os professores contra uma nova lei que busca entregar toda a educação a mãos privadas, no sul contra as tarifas abusivas dos serviços básicos e contra a banca usurária. É preciso confiar nessa força popular capaz de mover montanhas. Não somos alheios a essa vontade de mudança que recorre nossa América em meio de grandes perigos porque toda crise profunda estimula extremos autoritários inclusive em nosso meio.

Que o árvore não nos impeça ver o bosque. Que esta nova crise nas alturas sirva para mostrar que é preciso uma saída desde abaixo e com os de abaixo, com o povo e uma cidadania farta de tanta corrupção e entreguismo.

Reprodução do artigo publicado pelo Observatório Internacional da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco.


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