A quatro meses da eleição presidencial

A quatro meses da eleição presidencial

Vamos combater pelo voto em Lula contra Bolsonaro sem medir forças para que a mobilização assegure a derrota eleitoral do fascista no primeiro turno e sem depositar confiança de que Lula promoverá mudanças necessárias.

Israel Dutra 31 maio 2022, 19:40

Faltam cerca de quatro meses para a eleição de 2 de outubro, a principal oportunidade para derrotar Bolsonaro e abrir um novo ciclo político no país, livre do pesadelo que foi e é o governo genocida. Cada vez mais as atenções dos ativistas estão voltadas para essa disputa. A pesquisa eleitoral divulgada pela Datafolha na semana passada foi um fato novo na conjuntura: Lula está na liderança, com 48% das intenções de voto, contra 27% de Jair Bolsonaro.

O Brasil real está consumido por uma brutal crise social e pelas incertezas do cenário econômico. Nos últimos dias, o país chocou-se com os quase cem mortos pelas chuvas na grande Recife, com a brutal operação policial que vitimou 26 pessoas na Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro, e pelo assassinato de Genivaldo Santos por agentes da PRF. Trata-se de uma verdadeira política de morte em curso pela violência estatal e pelo crescimento do genocídio da juventude negra. O Brasil ingressa em uma nova fase da luta política em que será novamente necessária a ampliação da organização popular para impor suas demandas e fazer recuar o plano golpista de Bolsonaro.

O cenário eleitoral

A última pesquisa Datafolha mostra que Bolsonaro defronta-se com um forte limitador de sua popularidade: a economia. Lula, por sua vez, garantiu sua corrida ao “centro”, retirando candidaturas do PT para compor com setores da direita, como o PSD de Kassab e Kalil. Já Ciro aparece estagnado, perdendo prestígio com formadores de opinião, alguns anteriormente atraídos por seu “projeto”: o debate virtual com o humorista Gregório Duvivier foi vexatório para o candidato do PDT. Por fim, João Doria jogou a toalha, com o PSDB embarcando na candidatura da desconhecida Simone Tebet do MDB.

A pesquisa foi um acontecimento importante da pré-campanha. Pela primeira vez, apresenta-se a hipótese de Lula vencer já no primeiro turno. Isso coloca mais pressão sobre Ciro e também sobre os setores fisiológicos do MDB, ávidos por votos em dobrada com Lula. Mas o elemento mais importante é que se antecipa a escalada de confronto político já para o primeiro turno, trazendo um sentimento semelhante ao “vira-voto” de 2018 para os meses de agosto e setembro.

Para Bolsonaro, a situação é quase dramática; ele precisa, a um só tempo, manter a ofensiva em três frentes: garantir o centrão pujante em sua campanha, em termos orçamentários e de capacidade de mobilização eleitoral; também necessita coesionar sua base social com discurso mais radicalizado contra Lula e contra a própria legitimidade do pleito; por fim, tem de driblar as dificuldades econômicas, principal aspecto que joga para baixo sua popularidade.

A economia é o tema mais importante

Segundo a pesquisa Datafolha, a alta dos combustíveis e a inflação são as principais preocupações da população. Por isso, Bolsonaro precisaria acalmar o ambiente econômico, controlar a inflação e a subida dos preços, elemento decisivo para manter o nível de adesão de um terço do eleitorado a sua candidatura. Para isso, ele buscará reforçar o discurso de que quer preços baixos para os combustíveis, mas é “sabotado” por interesses ocultos. Por isso, é central a disputa em curso na Petrobrás.

O plano de Bolsonaro e Guedes é que Adolfo Sachsida consiga ser uma ponte com o mercado, ganhando tempo para evitar um colapso de abastecimento e dos preços do combustível antes das eleições e sinalizando com a privatização num próximo mandato. Mas a situação não é tão simples: as pressões dos acionistas e a variação de preços internacionais não serão detidas num passe de mágica. Apenas mitigar os efeitos da alta na bomba dos postos, através da redução de impostos, não resolverá os gargalos que determinam a inflação. A única saída possível seria terminar com a política de paridade de importação.

O segundo impasse na área da econômica envolve ajustes no orçamento para garantir um parco reajuste salarial do funcionalismo e também beneficiar com subsídios caminhoneiros e talvez trabalhadores de aplicativos. Para isso, Bolsonaro precisa cortar recursos de setores estratégicos, como saúde, educação e ciência e tecnologia, o que trará novas contradições e mobilizações. Com o anúncio de corte no orçamento das universidades, já se prepara uma mobilização nacional da educação para 9 de junho.

Nesse jogo de empurra-empurra, depois de idas e vindas, Paulo Guedes ganhou força e busca vincular seu destino ao de Bolsonaro como principal ministro às vésperas da campanha. 

Preparar-se para o combate: é preciso votar em Lula para derrotar Bolsonaro

A pesquisa Datafolha antecipa um “choque de estratégias” entre as duas candidaturas. De um lado, Bolsonaro reforçará o discurso e a preparação golpista. Por outro lado, a direção do PT apresenta-se desarmada, envolta num clima de “já ganhou”, sem alertar nem preparar a verdadeira guerra que se avizinha nas ruas, universidades, escolas, locais de trabalho e moradia. Os fascistas levantam a cabeça com provocações, como se viu recentemente em Campinas. Essas ações devem ser respondidas prontamente.

Por isso, nossa localização será uma combinação da luta política e reivindicativa com a luta eleitoral, em que será necessário preparar-se para enfrentar o fascismo. A campanha eleitoral já começou e deve combinar as atividades eleitorais da campanha propriamente dita com protestos e lutas em defesa das reivindicações. Em particular, a luta contra o genocídio da juventude negra, que se destaca uma vez mais depois do brutal assassinado de Genivaldo em Sergipe, e a luta das universidades contra os cortes devem ser enquadradas nessa perspectiva.

Nós do MES estaremos combatendo pelo voto em Lula contra Bolsonaro, não medindo forças para que a mobilização assegure a derrota eleitoral do fascista no primeiro turno e sem depositar confiança de que Lula promoverá mudanças necessárias. Estaremos na campanha e nas lutas com nosso programa, defendendo nossas bandeiras, a partir de um PSOL autêntico e independente, lutando para reeleger nossos mandatos parlamentares e apresentando candidaturas majoritárias onde temos cara própria do partido.


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