O regresso de Trump
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O regresso de Trump

A nova situação exigirá unir os movimentos antiimperialistas e a esquerda estadounidense na resistência contra a ameaça reacionária

Israel Dutra 21 jan 2025, 11:11

Foto: Posse de Donald Trump (FMT/Reprodução)

Na segunda-feira, 20 de Janeiro, Trump tomou posse, retornando à Casa Branca, no principal fato político da situação internacional. Uma mudança importante.

Os Estados Unidos atravessam uma situação singular. Além da posse de Trump, os incêndios sobre Los Angeles são acontecimentos avassaladores. No mesmo período que a extrema direita retorna à liderança do país, uma tragédia climática se impõe. São quase 50 mortos, cenas impactantes de um incêndio que dizimou casas e bairros inteiros no coração de Los Angeles.

Temos uma ilustração da situação internacional: a ofensiva da extrema direita; uma ampliação da polarização e do caos geopolítico; tudo isso sob a tela da mais grave crise ecológica da humanidade.

A “ilustre” delegação brasileira conta com Michelle Bolsonaro e uma trupe de deputados do PL, como Eduardo Bolsonaro, Carla Zambelli e outros.

Assim toma posse Trump.

Trumpismo 2.0

O segundo mandato de Trump traz dois aspectos centrais: uma consolidação mais ofensiva da extrema direita – controlará as casas legislativas, tem apoio público de setores mais pesados da burguesia (sobretudo da indústria de tecnologia e das redes) e está mais articulado internacionalmente; de outra parte, enfrentará um mundo mais caótico e conflitivo, para qual sua postura pode inclusive agudizar contradições.

Na geopolítica, começa seu mandato agitando o “trunfo” do cessar-fogo, sem deixar de dar apoio ao sionismo de direita no genocídio palestino. Seu discurso na posse deixou isso bastante nítido.

Trump terá como alvo principal, já a partir das primeiras horas de governo, os imigrantes. Sua proposta é repressão, controle e perseguição contra os imigrantes que vivem nos Estados Unidos, ampliando o clima policialesco que coesiona a extrema direita, contendo traços supremacistas e neofascistas. Trump fará uma verdadeira guerra total contra os imigrantes.

Suas ameaças soam despropositadas sobre outros territórios, mas combina agitação e expansionismo no método de “aproximação sucessivas”, típico da nova extrema direita. Fez ameaças tarifárias e militares sobre o Canadá e sobre o canal do Panamá. E para completar, falou que o golfo do México deveria se chamar Golfo da América.

No outro polo, está a operação de Musk, agora elevado à condição de conselheiro governamental e um dos braços direitos de Trump. Além da luta aberta pela desregulação das redes, onde ganhou o aliado de peso Zuckerberg, Musk trata de operar internacionalmente. Suas prioridades nas últimas semanas se concentram no Reino Unido, onde abriu uma frente contra o governo trabalhista de Starmer, e na Alemanha, apoiando com recursos, artigos e posições públicas à candidatura de Alice Weidel, do neofacista AFD, que aparece com 20% nas pesquisas para a eleição nacional do final de fevereiro.

Por fim, como se já não bastasse, a nova “política” da Meta e que acaba influindo no conjunto das redes sociais: de uma galeria especial, os donos e CEOS das Bigtechs tinha lugar de honra na posse. Zuckerberg, Pichai, Bezos e Musk, entre outros ilustram que será um governo ligado diretamente ao núcleo duro dos bilionários.

Ao criar um ambiente favorável para as fake news, sob a demagogia do “ultraliberalismo” as bigtechs se entrincheiram com Trump, consolidando o deslocamento à direita do Vale do Silício.

Uma nova situação

Estamos entrando numa nova fase, numa nova situação política que condiciona o conjunto da luta política no âmbito internacional. Trump chamou de regresso à “Era de Ouro” do capitalismo mundial. Podemos pensar que está mais para uma era de um tipo de “nacional-imperialismo”, que busca suprir pela violência opressiva a crise geral que vem indicando a decadência dos Estados Unidos.

Basta ver como Bannon está a vontade para propor Eduardo Bolsonaro como candidato a presidente, ou a chegada do ativista anticiência, Robert Kennedy ao posto de ministro da Saúde (lembrando que a reforma da saúde foi uma das principais agendas da luta social nas últimas décadas nos Estados Unidos). Trump também anunciou a saída da Organização Mundial de Saúde (OMS).

A resposta de Trump à crise climática vai polarizar, sobretudo, no ano em que teremos a realização da COP 30 na Amazônia: seu lema é “perfurar, perfurar”, dando sinal verde e novos incentivos para a indústria petroleira quando mais ela está questionada. Essa contradição civilizatória vai se expressar com mais força, opondo um amplo setor ambiental ao lobby dos bilionários albergados na trumpismo. Completou o gesto, assinando a retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris, que tinha como objetivo o compromisso da redução da emissão de gases-estufa. Revogou ainda uma parte das medidas ligadas ao incentivo de energia limpa.

O novo presidente está operando para concretizar a expulsão dos imigrantes, com uma nova política de fronteiras, com a anunciada emergência. Como parte dos seus atos iniciais, indultou 1500 acusados de assaltar o Capitólio em 6 de janeiro de 2021.

Diante desse novo momento, será fundamental a experiência que a classe trabalhadora estadunidense fará com as propostas sociais e econômicas de Trump. Em recente entrevista, Nancy Fraser, renomada intelectual que tem estudado as dimensões contemporâneas do capitalismo em crise, afirmou que Trump não poderá cumprir com a promessa de elevar o nível de vida para o conjunto da classe trabalhadora do país, e muitos dos seus eleitores votaram em protesto contra a política dos Democratas. Se tomarmos a população em absoluto, Trump teve cerca de 32% dos votos do padrão de aptos a votar, o que o deixa longe de uma hegemonia sólida, que necessita para impor sua agenda conservadora radical.

Contudo, apenas com a combinação da luta dentro dos Estados Unidos com a crítica e ação global se poderá derrotar um projeto que também busca ser global.

Está colocada na ordem do dia a ampliação do antimperialismo, da solidariedade e de uma visão alternativa de mundo. As manifestações embrionárias do movimento popular no Panamá, contra o discurso de Trump, indicam como se pode começar a resistência.

Coordenar com os socialistas e a esquerda nos Estados Unidos

A resposta à nova ofensiva de Trump está por ser vista. Vai depender de como será a resistência da maioria social nos Estados Unidos. Lembremos que a maior revolta popular dos últimos tempos, a revolta contra a morte de George Floyd protagonizada pelo movimento negro organizado pela campanha “Black Lives Matter”, aconteceu durante o primeiro governo Trump.

Um bloco político defensivo, mas que coloque o horizonte da questão ambiental e civilizatória deverá se colocar em marcha por todo mundo. Que seja capaz de unir a potência da juventude como Greta Thumberg, os jovens que acamparam nos cinco continentes em solidariedade à Gaza, com os movimentos indígenas e quilombolas do Brasil, da região amazônica e da América do Sul, apenas para dar um exemplo. A COP30, suas agendas alternativas como as atividades paralelas serão um ponto de encontro e resistência.

Vai ser necessário coordenar o antiimperialismo – que deverá responder às provocações trumpistas- com a solidariedade aos imigrantes, com a esquerda social mexicana, portoriquenha e de toda América Central e Caribe.

E, sobretudo, apoiar e acompanhar a dinâmica da esquerda estadunidense e seus fenômenos mais recentes: a nova onda de lutas e greves e o crescimento do DSA (Socialistas Democráticos da América) e sua ala esquerda. Estaremos nesse esforço.


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