Derrubar a reforma do Ensino Médio: a primeira grande luta
Foto: Movimento Juntos

Derrubar a reforma do Ensino Médio: a primeira grande luta

É possível construir uma maioria social para derrotar a reforma do Ensino Médio.

Israel Dutra e Thiago Aguiar 21 mar 2023, 18:04

No último dia 15 de março, milhares de estudantes e trabalhadores da educação saíram às ruas para protestar contra a reforma do Ensino Médio, num momento em que a sociedade começa a tomar consciência dos efeitos da medida: redução do número de aulas de disciplinas fundamentais, falta de professores, propostas absurdas de cursos e a verdadeira farsa dos supostos “itinerários formativos”.

Até o momento, o Ministério da Educação insiste em manter o Novo Ensino Médio (NEM). Trata-se de uma verdadeira contrarreforma, herança do governo Temer, que foi alimentada durante a tragédia de Bolsonaro à frente da presidência. Uma importante resistência, no entanto, está se construindo, tensionando a agenda política nacional, com epicentro nas escolas, buscando questionar o NEM e lutando pela revogação da reforma. Essa é a primeira grande luta de um setor organizado da sociedade, após a derrota eleitoral e o fim do governo Bolsonaro.

O caráter privatista da reforma

Não há dúvidas de que a “reforma” está orientada pelos interesses do empresariado e orientada pelos ditames do Banco Mundial. A “flexibilização” indica mudança na carga horária, acabando na prática com disciplinas formativas como Sociologia e Filosofia,  dando peso maior para a formação técnica, tudo sob os parâmetros da Base Nacional Comum Curricular(BNCC), resultando nos chamados “itinerários formativos”.

Com o desmonte das disciplinas obrigatórias, abre-se a porta para a precarização do trabalho docente, deixando de lado critérios, como a obrigatoriedade da formação em licenciatura para os professores, sem contar a abertura para uma maior carga horária de EAD (Ensino à Distância) nas disciplinas complementares. O sentido geral do NEM é ampliar ainda mais a desigualdade nas escolas. Os filhos dos ricos poderão ter acesso a uma educação múltipla, cidadã e universalista. Enquanto isso, para os filhos da classe trabalhadora, são oferecidas modalidades de ensino precarizado, distantes das necessidades e da realidade social brasileira.

A nova gestão do Ministério da Educação cultiva laços importantes com setores privatistas, tendo como modelo o que foi implementado em Sobral (CE), a referência dos principais dirigentes atuais do MEC, Camila Santana e Izolda Cela. A reforma, como afirmou Paulo Neves, educador e dirigente da TLS, em artigo em nosso site Movimento: “evidencia que teremos uma continuidade da política privatista, vinculada às fundações privadas como Fundação Lemann, Itaú Cultural e Instituto Ayrton Senna, além de dezenas de outras instituições privadas espalhadas pelo território nacional (…).” A CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação) aprovou, em sua 4ª plenária intercongressual no último final de semana, um plano de lutas, cuja principal bandeira é a revogação do NEM.

A centralidade da luta da educação

Sem dúvida, estamos diante de um movimento muito promissor. A luta pela revogação do NEM encadeia com toda uma série de reivindicações que colocam no centro a valorização da educação, cuja importância é nítida. O lastro de um movimento que une educadores, estudantes, pais e comunidade escolar chega aos cantos mais distantes do país.  

Vale lembrar que, quando Bolsonaro ainda desfrutava de índices majoritários de apoio na sociedade, em abril de 2019, o “tsunami da educação”, um verdadeiro levante educacional, fez parar a ofensiva do então presidente. Foi o primeiro movimento de massas em resposta às políticas do genocida, quando muitos ainda estavam atônitos pela eleição de Bolsonaro.

Agora, o movimento reivindicativo educacional tem o papel de tensionar a agenda nacional para luta por mais direitos. Uma vitória que derrote o NEM daria forças e energia para o conjunto das lutas, diante do novo cenário, levando o pêndulo da sociedade mais à esquerda, para as batalhas que estão pela frente.

Mobilizar para revogar a reforma

A insatisfação generalizada e os primeiros passos da luta já mostram que é possível construir uma maioria social para derrotar a reforma privatista. Por isso, o papel das entidades da educação é garantir um dia de lutas unificado entre as categorias para revogar o NEM. O movimento estudantil está convocando o tradicional dia de lutas em 28 de março, enquanto a CNTE e os sindicatos da educação votaram um calendário para intervenção.

A esquerda social, que tem peso entre professores, servidores e estudantes, deve preparar e apoiar as lutas em curso, como as que enfrentam Tarcísio em São Paulo, e a greve da educação do Rio Grande do Norte. Hoje (21), quando fechávamos a redação deste editorial, Lula afirmou em entrevista que o governo encaminhará “reformulações” no Ensino Médio. Tal sinalização, que precisa ser efetivada de forma mais nítida, é um sinal da força do movimento. Não aceitamos nada menos do que a revogação do NEM. E acreditamos na força da luta da educação, como maioria social: essa é a chave para vencer.


TV Movimento

Palestina livre: A luta dos jovens nos EUA contra o sionismo e o genocídio

A mobilização dos estudantes nos Estados Unidos, com os acampamentos pró-Palestina em dezenas de universidades expôs ao mundo a força da luta contra o sionismo em seu principal apoiador a nível internacional. Para refletir sobre esse movimento, o Espaço Antifascista e a Fundação Lauro Campos e Marielle Franco realizam uma live na terça-feira, dia 14 de maio, a partir das 19h

Roberto Robaina entrevista Flávio Tavares sobre os 60 anos do golpe de 1º de abril

Entrevista de Roberto Robaina com o jornalista Flávio Tavares, preso e torturado pela ditadura militar brasileira, para a edição mensal da Revista Movimento

PL do UBER: regulamenta ou destrói os direitos trabalhistas?

DEBATE | O governo Lula apresentou uma proposta de regulamentação do trabalho de motorista de aplicativo que apresenta grandes retrocessos trabalhistas. Para aprofundar o debate, convidamos o Profº Ricardo Antunes, o Profº Souto Maior e as vereadoras do PSOL, Luana Alves e Mariana Conti
Editorial
Israel Dutra e Roberto Robaina | 16 maio 2024

Tragédia no RS – Organizar as reivindicações do movimento de solidariedade

Para responder concretamente à crise, é necessário um amplo movimento que organize a luta pelas demandas urgentes do estado
Tragédia no RS – Organizar as reivindicações do movimento de solidariedade
Edição Mensal
Capa da última edição da Revista Movimento
Revista Movimento nº 49
Nova edição traz o dossiê “Trabalho em um Mundo em Transformação”
Ler mais

Podcast Em Movimento

Colunistas

Ver todos

Parlamentares do Movimento Esquerda Socialista (PSOL)

Ver todos

Podcast Em Movimento

Capa da última edição da Revista Movimento
Nova edição traz o dossiê “Trabalho em um Mundo em Transformação”