EUA dão primeiro passo para guerra comercial
Trump impõe tarifas a Canadá e México. Decisão pode desestabilizar mercados globais, prejudicar setores estratégicos e provocar retaliações; China também está na mira do republicano
Foto: GPO/Fotos Públicas
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou ontem que seguirá com a imposição de tarifas de 25% sobre as importações do Canadá e do México a partir deste sábado, 1º de fevereiro.
”Não precisamos dos produtos que eles têm. Temos todo o petróleo de que precisamos. Temos todas as árvores de que precisamos”, afirmou Trump, acrescentando que a tarifa de 25% pode ser apenas um piso, sugerindo taxas mais altas ” com o tempo”.
A medida, justificada pelo republicano como uma resposta ao fluxo de fentanil e aos déficits comerciais, pode desencadear graves consequências econômicas globais, desestabilizando mercados e prejudicando setores estratégicos, como a indústria automobilística e energética.
A decisão representa uma ameaça direta ao livre comércio entre os três países, minando o acordo comercial vigente e colocando em risco centenas de bilhões de dólares em transações. As moedas do Canadá e do México sofreram forte desvalorização após o anúncio, enquanto os preços do petróleo dispararam. Empresas dos setores afetados, como Ford e General Motors, viram suas ações caírem, refletindo a preocupação dos investidores com o impacto da medida sobre a economia norte-americana e global.
Trump insinuou que poderá ampliar a taxação e sugeriu que o petróleo – uma das principais importações dos EUA – poderia ser isento da tarifa, dependendo das variações de preço. Ele prometeu tomar uma decisão até a noite de quinta-feira (30), no entanto, a incerteza gerada pela postura do governo já compromete a previsibilidade do comércio internacional e pode desencadear uma guerra comercial com seus dois principais parceiros comerciais.
Reações
O Canadá e o México reagiram à decisão e prometeram retaliar caso as tarifas entrem em vigor. A embaixadora canadense nos EUA, Kirsten Hillman, alertou para os danos que essa escalada comercial pode causar às economias dos três países, destacando que os consumidores americanos também sofrerão com preços mais altos em bens essenciais, como combustível e alimentos.
“Se essas tarifas entrarem em vigor, o Canadá responderá. Isso não é algo que queremos fazer. Não queremos entrar em um vai e vem de tarifas com os Estados Unidos. Não é bom para o Canadá, para os canadenses e para os trabalhadores canadenses, e não é bom para os Estados Unidos, para os americanos e para os trabalhadores americanos”, disse.
A Câmara de Comércio do Canadá classificou a medida como um erro econômico com impactos negativos generalizados, atingindo desde postos de gasolina até o comércio eletrônico.
“As tarifas do presidente Trump vão taxar os próprios americanos primeiro. Desde preços mais altos nos postos de gasolina, nos supermercados e nas compras online, as tarifas se espalham pela economia e acabam prejudicando consumidores e empresas em ambos os lados da fronteira. Isso é um jogo em que todos perdem, disse o vice-presidente executivo da entidade, Matthew Holmes.
China
Trump sinalizou que pretende impor novas tarifas à China, embora não tenha especificado a alíquota exata — anteriormente, ele mencionou a possibilidade de uma taxa de 10%. O ex-presidente acusou Pequim de não cumprir seus compromissos de impedir a exportação de fentanil e de produtos químicos utilizados na fabricação da droga para os Estados Unidos.
“Com a China, também estou pensando em algo, porque eles estão enviando fentanil para o nosso país e, por causa disso, estão causando centenas de milhares de mortes. Então, a China também vai acabar pagando uma tarifa por isso, e estamos no processo de implementação”, afirmou.
Além disso, Trump ordenou que sua administração investigue se Pequim está respeitando os termos de um acordo comercial firmado durante seu primeiro mandato, preparando o caminho para novas sanções econômicas contra a segunda maior economia do mundo.
Ao insistir em uma política protecionista agressiva, Trump não apenas ameaça a estabilidade econômica regional, mas também agrava as tensões comerciais em escala global, colocando os Estados Unidos em rota de colisão com seus principais aliados e parceiros comerciais.