Nossa solidariedade ao povo sírio – abaixo os bombardeios e a intervenção dos imperialismos

Não há o menor indício de que a ofensiva sobre Damasco abra uma via de solução para a guerra civil na Síria.

Charles Rosa e Israel Dutra 15 abr 2018, 18:19

Na madrugada deste sábado (14/04), enquanto dormiam as famílias sírias, o mundo assistia às imagens de mísseis aéreos caindo sobre as cidades de Damasco e Homs. Conforme anunciado em seu Twitter durante a semana, o presidente dos EUA, Donald Trump, juntamente com os governos da França e do Reino Unido, ordenou os bombardeios contra supostos locais de armazenamento de armas químicas do governo de Bashar al-Assad.

Esta nova agressão ao território sírio acontece dias após a morte de ao menos 43 pessoas por um ataque com gás cloro em Duma (região controlada por grupos opositores ao regime de Assad). As circunstâncias desse massacre covarde começariam a ser esclarecidas neste sábado por uma equipe internacional de fiscalização de armas químicas. Como em outras ocasiões, a pretexto de retaliar o governo de Assad, as potências imperialistas ocidentais somaram seus esforços bélicos para incrementar mais violência a um país totalmente arrasado por uma guerra civil que já se arrasta há 7 anos. A sinistra contabilidade de mais 400 mil mortos e quase 12 milhões de deslocados resulta de um conflito internacionalizado, no qual o regime de Assad e os opositores armados medem forças num intricado jogo entre potências militares mundiais, como EUA e Rússia, e potências regionais, como Arábia Saudita, Turquia, Israel e Irã. Enquanto estes estados tramam suas intervenções com base nos frios cálculos geopolíticos e econômicos, o maior êxodo da história recente segue batendo todos os recordes.

É nosso dever repudiar esta agressão, que afronta não somente as principais normativas e instâncias da ONU, mas também aos parlamentos dos EUA, França e Reino Unido que sequer foram consultados acerca da pertinência desta decisão, numa mostra flagrante de que o intervencionismo externo e o autoritarismo interno caminham lado a lado. Além disso, não há o menor indício de que a ofensiva sobre Damasco abra uma via de solução para a guerra civil na Síria. Ao contrário, a escalada militar protagonizada por Trump, May, Macron, Putin, etc, deixa a comunidade internacional cada vez mais apreensiva e desconfiada quanto à eficácia dos dispositivos diplomáticos para se alcançar a paz.

Missão cumprida?

A definição de Trump no twitter, seu principal meio de comunicação, de que a “missão foi cumprida” lembra outras investidas do imperialismo norte-americano, como nas suas ocupações do Iraque e do Afeganistão. O que Trump quer na verdade é exercer uma ameaça e um controle maior no Oriente Médio, varrendo para debaixo do tapete a enorme crise política e comercial da qual não pode sair os EUA.

A linha de intervenção bélica serve também aos governos como May e Macron- esse íntimo do ditador da Arabia Saudita- para tergiversar sobre seus próprios conflitos internos. No caso de Trump, há um amplo movimento contra o uso de armas que sacode a sociedade estadunidense, além da crise causada pelas Fakenews, no escandalo do Cambbride Analitca. Macron vive uma onda de greves e lutas. Neste sábado, saíram mais de cem mil franceses em Marselha com a consigna ‘Stop Macron”

Trump se esforça para cumprir o papel de gendarme mundial, apesar de sempre ter manifestado simpatias pela ditadura de al-Assad antes de residir na Casa Branca.

Não há paz com a ditadura Assad

Temos total concordância com o que pontou a declaração do NPA francês neste sábado:

“ Desde março de 2011, com o evante democrático contra o tirano Bachar al-Assad, a população síria sofre uma feroz repressão do ditador e de seus aliados, na qual, na primeira fila estão a Rússia de Putin e o Irã dos aiatolás. As dificuldades encontradas pelo levante, a militarização imposta pelo regime e as ingerências interessadas das monarquias do Golfo favoreceram, o desenvolvimento de forças integristas e Jihadistas, enquanto as forças democráticas estavam muito solitárias diante de Assad e das forças e contrarrevolucionárias.

Chamamos a rechaçar a sórdida campanha que tem por objetivo duvidar o enésimo ataque químico criminoso do regime contra civis, homens, mulheres, crianças em Duma, testemunhada por tantas informações provenientes de cidadãos e serviços médicos sobre a área. Porém, condenamos sem nenhuma ambiguidade a nova aventura militar dirigida por Trump na Síria, e a participação francês nessa campanha de bombardeios que quer dar uma ilusão de que o povo sírio vai estar agora melhor protegido. Tal ação não pode senão acrescentar guerra a guerra, caos aos caos: vítimas civis, recordação de um passado colonial odioso, reforçamento da postura de Assad como muralha frente ao imperialismo ocidental”.

Sempre é válido lutar pela verdadeira narrativa dos fatos: a Primavera Árabe de 2011, empreendida pelos povos do Oriente Médio e do Norte da África contra os regimes ditatoriais da região, encontrou em Bashar al-Assad o seu maior carrasco. Não “apenas” por governar a Síria com mão de ferro desde 2000, herdando o poder e as fortunas de seu pai Hafez. Mas principalmente porque ele é o maior sanguinário do século XXI, responsável pela morte de centenas de milhares de seus compatriotas e pelo reiterado emprego de armas químicas contra a população civil. Graças à sustentação da Rússia, pôde sufocar grande parte da rebelião na Síria. Por sua intransigência, generalizou-se pelo território sírio o caos, do qual souberam se beneficiar os grupos fundamentalistas que a propaganda assadista fez questão de confundir com os opositores laicos.

Entretanto, cabe lembrar também a ferocidade do regime sírio não conseguiu derrotar os curdos que lutam por seu território e por Rojava. Defendemos o direito à auto-determinação do povo sírio, como estamos a fazer com a questão de Rojava e Afrin, acossadas pela aliança entre o também ditador Erdogan e a Rússia.

Às ruas contra os senhores da guerra!

Ao mesmo tempo, prestamos a nossa mais ativa solidariedade ao povo sírio. Chamamos à mobilização de todos os que se comprometem com uma paz justa para os povos e que não estão ao lado da rapinagem e da guerra, características essenciais desta etapa decadente do capitalismo. Assim como fizemos contra a Guerra no Iraque, no Afeganistão, na Palestina, no Curdistão e em defesa dos povos vítimas do militarismo imperialista em outras ocasiões, saberemos dar a resposta nas ruas aos senhores da guerra. A visita do vice-presidente dos EUA, Mike Pence, ao Brasil em 30 de maio oferecerá uma excelente oportunidade para expressarmos a nossa indignação contra o belicismo das principais potências mundiais!


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