A responsabilidade do PSOL

Fundador e dirigente do PSOL, Roberto Robaina reafirma a necessidade de afirmar um projeto político independente.

Roberto Robaina 14 mar 2019, 00:01

No final de 2002 escrevi um livro chamado “Uma visão pela esquerda”. O escrevi entre o primeiro turno da eleição presidencial e a posse de Lula. Sua tese central era que estava se abrindo um novo ciclo na história da esquerda brasileira e da organização dos trabalhadores cuja marca seria a tendência à crise e bancarrota do PT e a necessidade da construção de uma nova alternativa política dos trabalhadores. O paradoxo aparente era a indicação de uma dinâmica de crise precisamente num momento em que o PT atingira seu máximo poder no interior do regime politico iniciado na Nova República.

O prefácio deste livro foi escrito por Luciana Genro, naquele momento recém eleita deputada federal. Nosso prognóstico era comum e apostavámos que um novo partido teria o papel histórico de ocupar o vazio à esquerda que começaria a abrir-se, resgatando bandeiras que começavam a ficar pelo caminho. Para construir seria preciso reagrupar, recompor, unir esforços e ao mesmo tempo postular o novo. A ideia do PSOL estava sendo lançada. O corpo veio em seguida, a partir de janeiro de 2004, na reunião de fundação do Movimento pelo Novo Partido, embrião do PSOL.

A história nunca tem os ritmos dos textos, mas as linhas gerais da ideia acerca da necessidade do PSOL foram confirmadas. Sem tal projeto as traições, crises, desilusões na história da esquerda brasileira teriam como resultante a dissipação total de forças. O PSOL, partido necessário, virou marca da campanha de Plínio em 2010. Mas um partido, para manter-se vivo e com sentido, deve reafirmar sua necessidade nos embates das lutas do seu povo. Não tem validade eterna, como para nós o próprio PT confirmou pela negativa. Se na sua fundação o PSOL veio para ocupar um lugar de defesa de uma esquerda socialista coerente, isto é, que ergue a bandeira da luta e rejeita a colaboração de classes com os capitalistas, no dia de hoje o PSOL tem que reafirmar seu compromisso pela justiça. Em memória de uma militante de suas fileiras, Marielle Franco, que converteu-se, na tragédia da morte provocada por criminosos surgidos no interior do corpo repressivo do Estado e da degeneração do regime capitalista, num símbolo da luta democrática, o PSOL reafirma seus compromissos de não desistir. De manter erguida uma bandeira sem manchas. Agora também em nome de Marielle. Agora também tendo ela como bandeira.

Marielle não tombou em vão. Quando Marcelo Freixo, atual deputado federal, encabeçou a CPI das milícias, produzindo, como resultado deste trabalho parlamentar, a prisão de dezenas de policiais e políticos ligados aos crimes do que começara a ser conhecido como milícias, uma nova página se incorporava com força total no programa do PSOL: o combate contra as milícias como parte de uma linha maior de luta contra a repressão e a criminalização da pobreza. Uma página que como partido político organizado apenas o PSOL abraçou com centralidade. Não à toa, Marcelo Freixo é hoje, na prática, o principal porta voz do PSOL. E isso também foi uma decisão política cuja defesa compartilhamos com Luciana Genro e nossos camaradas do Movimento Esquerda Socialista desde 2010. Freixo enfrentou o PMDB quando este partido governava o Rio em aliança com todo o sistema político, inclusive, como se sabe, com as forças que em nome da esquerda ocupavam o governo nacional. Nestes tempos duros surgiu Marielle, como assessora do deputado que depois ganhou forma de arte no personagem Fraga do Tropa de Elite II. O filme mostrou também que o problema é o sistema. É movidos por esta convicção que seguiremos exigindo justiça por Marielle, exigindo a punição aos assassinos e mandantes. É por tudo isso que reafirmamos a necessidade de afirmar um projeto político independente.


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