A recessão mundial derrete a economia: quem pagará a conta?

Em conjunto com a pandemia de covid-19, que segue se alastrando pelo mundo, outro “vírus” ameaça a sociedade: o da recessão.

Israel Dutra e Thiago Aguiar 14 abr 2020, 19:40

Em conjunto com a pandemia de covid-19, que segue se alastrando pelo mundo, outro “vírus” ameaça a sociedade: o da recessão. Os efeitos econômicos e sociais da crise combinada – sanitária, política e social – ainda são imprevisíveis. Na Europa, ainda no olho do furacão da disseminação da doença, todos os índices econômicos desabaram no primeiro trimestre: a retração em países como França, Itália, Inglaterra e Alemanha oscila entre 4 e 6%. Sem falar na destruição de postos de trabalho e na redução da massa salarial.

Nessa terça-feira, dia 14 de abril, o Fundo Monetário Internacional (FMI) afirmou que a “grande paralisação”, como está sendo chamada a presente crise da economia mundial, levará o planeta a uma recessão ainda pior do que a de 2008. O FMI afirma que a atual crise só pode ser comparada à de 1929.

No Brasil, a situação é ainda mais grave. Há uma batalha política contra Bolsonaro, que nega a real situação da pandemia, retroalimentando os elementos mais agudos da crise geral. Não existindo um trabalho coordenado, o “esforço de guerra” – que exige mais centralização e cooperação – surte um efeito menor, seja por um isolamento social “pela metade”, seja pela incapacidade do governo de gerir o país à beira do precipício.

O movimento dos trabalhadores e da juventude ainda tem poucas condições de intervir, duramente golpeado pela condição objetiva e, ainda por cima, pela debilidade da oposição, incapaz de oferecer um caminho.

Diante desse cenário, é preciso debater quem vai pagar a conta. Não deixa de ser irônica a entrevista de Boris Johnson, no último domingo ao sair da UTI do hospital, em que agradece ao sistema público de saúde e aos profissionais da saúde imigrantes por sua cura. O furor dos neoliberais em destruir os serviços públicos se transforma em gratidão fora do lugar.

Genocídio social e econômico

Se a pandemia deixa marcas terríveis na Europa, onde ainda o padrão de bem-estar é muito superior ao dos países da periferia, que pensar da chegada do pico na América Latina e no Sul global? O efeito da covid-19 no continente latino-americano, com seus bolsões de miséria, serviços públicos sucateados e parte grande da força de trabalho na informalidade, serão terríveis. O que assistimos no Equador, com corpos deixados a céu aberto, é o prenúncio de uma realidade geral de colapso sanitário, mas também de colapso econômico.

As medidas de Bolsonaro e Guedes colocam em primeiro lugar a garantia da solvência e da lucratividade de bancos, do sistema financeiro, de credores da dívida pública e de grandes empresas. A MP que permite a redução dos salários dos trabalhadores e de jornadas já empurrou um milhão de trabalhadores a viver com salários reduzidos e enormes dificuldades. Por sua vez, porta-vozes da burguesia assanham-se no noticiário econômico exigindo que se aproveite a oportunidade da crise para aprovar medidas que há muito desejam, como o corte de salários do funcionalismo público, o aumento da terceirização, o fim da estabilidade e dos concursos. A classe trabalhadora, formal e informal, nos setores público e privado, vai sendo condenada à insegurança, ao endividamento, ao empobrecimento e ao desemprego – estima-se que o número de desempregados no Brasil poderá dobrar nos próximos meses.

A culpa é do governo Bolsonaro

No Brasil, a pandemia já superou 25 mil casos e 1,5 mil mortes. Existe uma hipótese de subnotificação massiva: algumas fontes falam que há 10 vezes mais casos de covid-19 no país. Como trágico exemplo da rápida disseminação e de suas consequências, está a situação de Manaus (AM), cujo sistema de saúde já entrou em colapso.

Bolsonaro é o grande responsável pelo agravamento da miséria. Ao relativizar o coronavírus, fazendo chacota, visitando comércios e incentivando as “carreatas da morte”, o indivíduo que ocupa a presidência expõe milhões de brasileiros ao risco. Junto com Guedes, propôs que a renda emergencial básica fosse de apenas 200 reais. Sua única proposta concreta é recorrer à hidroxicloroquina, medicamento cuja eficácia contra a covid-19 não foi comprovada.

Ao mesmo tempo, sua orientação antipopular e antinacional, de completa submissão a Trump, cria mais dificuldades para que cheguem ao país os aparelhos e insumos necessários para enfrentar a doença, como no vergonhoso caso de “confisco” por parte do governo estadunidense do material comprado por governos estaduais brasileiros com fornecedores chineses.

Trata-se de uma verdadeira política da morte, como, aliás, os próprios apoiadores neofascistas de Bolsonaro inacreditavelmente sublinham na difusão de montagens “humorísticas” na internet em que o presidente aparece rindo e dançando ao carregar um caixão.

Lutar pelo programa de emergência

É preciso seguir a exigência de medidas de enfrentamento à disseminação da doença e que mitiguem os efeitos da paralisação econômica sobre os trabalhadores. É preciso agilizar o pagamento da renda básica; promover a reconversão industrial para produzir insumos e equipamentos, como os ventiladores respiratórios, necessários nos hospitais; defender os trabalhadores da saúde; além de promover testes massivos, combatendo a subnotificação e auxiliando no isolamento dos doentes. Quem pagará os custos da crise? É necessário taxar os milionários, por meio de um imposto sobre grandes fortunas e grandes heranças; impostos sobre os lucros e dividendos; além da taxação dos bancos e do sistema financeiro. Há uma série de outras medidas fundamentais como, por exemplo, a revisão do teto de gastos e da Lei de Responsabilidade Fiscal, e a auditoria da dívida pública (como, aliás, estabelece a Constituição de 1988). Como a série de vídeos de Luciana Genro tem demonstrado, os bilionários brasileiros – e não os trabalhadores e servidores públicos – deveriam pagar a conta da crise!


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