Posição do MES sobre a saída de Marcelo Freixo do PSOL

A saída de Marcelo Freixo do PSOL faz com que se torne ainda mais necessário a afirmação de um PSOL independente e anticapitalista

Secretariado Nacional do MES 11 jun 2021, 14:41

A ida de Marcelo Freixo ao PSB confirma as movimentações do deputado federal nos últimos meses. Seu projeto de governar o Rio de Janeiro em aliança com o DEM, o MDB e Eduardo Paes tornou insustentável sua permanência no PSOL, representando um enorme passo em favor da lógica institucional burguesa e em detrimento da defesa dos direitos sociais.

O Movimento Esquerda Socialista foi a primeira tendência que destacou dentro do PSOL a necessidade de apoiar Freixo como liderança pública do partido no Rio e em todo Brasil, devido a seu importante papel na luta democrática, notadamente depois da CPI das Milícias.  Freixo foi um lutador democrático consequente, e isso o ligou ao programa anticapitalista do PSOL, mas sua aproximação com Lula acelerou uma transição em direção a uma posição democrática nos marcos e na defesa da institucionalidade burguesa. Uma transição de um democrata com diálogo com o anticapitalismo para uma posição democrática com diálogo com o capital.

Nesta situação, sua permanência no PSOL tornou-se incompatível. O PSOL é um partido amplo. Inclusive uma parte importante de sua direção atualmente está apostando na liderança de Lula, e o movimento de Freixo leva esta aposta em Lula até as últimas consequências. Leva-o a tentar imitar Lula. Mas no PSOL são poucos que aceitam ir tão longe, mesmo a ala mais próxima de Lula no partido. E há também no PSOL uma forte tendência, da qual nos orgulhamos ser parte, que defende um projeto independente e anticapitalista e não aceita abrir mão de um programa de transformação social estrutural. Na luta contra a extrema direita cerramos fileiras com todos, mas não baixamos a bandeira nem abrimos mão do programa.

A derrota da extrema-direita e seu caráter miliciano no Rio de Janeiro é nossa prioridade absoluta, e não há dúvidas de que o PSOL deve apoiar qualquer candidatura – inclusive burguesa liberal – que faça frente a esta ameaça  em um eventual segundo turno das próximas eleições caso os liberais, e não o Psol, passe para o segundo turno. Entretanto, não podemos confundir esta tarefa com o abandono dos interesses da classe trabalhadora sob risco de aprofundar as condições que levaram justamente ao fortalecimento da extrema-direita. É preciso lembrar  que Cabral e seu parceiro,  Eduardo Paes, foram responsáveis, em grande parte, pela política que permitiu o crescimento das milícias no Rio de Janeiro. Por isso entendemos como um grande erro apostar nesta aliança abandonando a construção de uma esquerda verdadeira.        

É necessário entender o movimento de Freixo como consequência das pressões vividas pelo partido  e as profundas mudanças que estão começando a ocorrer na política brasileira. A ascensão da extrema direita foi produto de dois processos combinados: por um lado das frustrações com o PT e sobretudo o resultado da crise das forças da burguesia liberal que, em sua oposição ao PT, abriram o caminho para que o esgoto fascista da política burguesa viesse à tona.

Agora, diante do trauma social e mais ainda sanitário provocado no país pelo governo Bolsonaro, diante das ameaças às liberdades democráticas que este governo representa e sua incompetência para gerenciar os negócios majoritários dos próprios capitalistas, há uma parte importante da sociedade, de todas as classes sociais, querendo que este governo não continue. A grande maioria da superestrutura de todas as classes sociais quer que isso ocorra em 2022. Como todos sabem, nossa corrente, o MES, se soma a este ampla vontade e luta, inclusive nas ruas, para que a queda deste governo genocida ocorra antes.

Ocorre que as forças sociais burguesas que fazem oposição a Bolsonaro não conseguiram recompor suas próprias lideranças políticas. Esta falta de recomposição se expressa no fato de que até hoje não puderam armar uma candidatura com força sequer para ir ao segundo turno das eleições presidenciais.

Assim, uma parte da burguesia liberal já aceitou recorrer novamente à liderança de Lula, cujo prestígio foi recuperado parcialmente depois que o governo Temer, e agora mais ainda Bolsonaro, mostraram o que são capazes de fazer contra o povo aqueles que se opuseram ao PT pela direita e promoveram o impeachment de Dilma.

Ainda que a persistência da crise de representação da burguesia liberal faça que este setor esteja dividido quanto ao que fazer (alguns até quem sabe preferindo Bolsonaro a Lula, outros, na sua maioria ainda tentando um nome próprio) não há dúvida de que os defensores da aliança com Lula estão ganhando corpo também.

Lula sabe disso e se movimenta nesta direção, além de suas conhecidas aproximações com o centrão de Kassab e as oligarquias regionais de Renan, Barbalho e Sarney. No caso específico do Rio de Janeiro, e diante da fraqueza histórica do PT, Freixo tenta ocupar o lugar que Lula trata de montar na política nacional. Não pretendemos analisar as chances de Freixo neste caminho (embora suspeitamos que sejam bem menores do que as de Lula, que tem boas chances de costurar sua pretendida aliança com a burguesia), mas apenas marcar que existe um movimento da burguesia de recorrer a políticos formados em outras classes sociais desde que os interesses materiais da burguesia como classe dominante se mantenham preservados.

No caso do Rio a especulação com Freixo é parte disso, embora estes setores tenham a liderança de Eduardo Paes como representação própria e com incomparavelmente mais influência do que a de Freixo. Eis uma enorme diferença entre o cenário do Rio e o nacional. O temor da continuidade de Bolsonaro faz com que estas articulações tenham apoio de massas. Mas seus limites e suas falências se provarão mais cedo ou mais tarde.

Este movimento que ocorre na burguesia, de recorrer a líderes de classes exploradas, e a concordância destas lideranças forjadas em partidos surgidos na chamada esquerda, está abrindo por sua vez um espaço para a renovação das lideranças da própria classe trabalhadora e da juventude anticapitalista. Este espaço de renovação começou a ocorrer quando surgiu o PSOL. Agora estamos iniciando um novo momento no interior desta etapa. Manter a bandeira erguida nos permitirá ser linha de frente nesta necessária renovação e na  construção de uma esquerda que não tenha medo de dizer seu nome; uma esquerda que não aceite governar com os capitalistas, o que necessariamente significa governar para eles.

 A movimentação de Freixo torna ainda mais necessária a afirmação de um PSOL independente, que construa ampla unidade de ação contra a extrema-direita, mas não capitule ao oportunismo nem se dilua em projetos alternativos de gestão do regime burguês. A necessidade da candidatura própria do PSOL à presidência, hoje representada pelo deputado Glauber Braga, é parte da luta contra esse processo capitulação.

Por fim, considerando o relevante o papel desempenhado nos últimos anos de luta democrática e as diversas ameaças sofridas contra Freixo, entendemos que o PSOL não deve reivindicar seu mandato. Ainda que defendamos os mandatos como frutos de uma construção partidária coletiva, o papel desempenhado por Freixo nesta luta o coloca em risco permanente e sua condição de parlamentar ajuda a garantir sua segurança.


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Pedro Micussi