Uma alternativa socialista para Santa Catarina

Uma alternativa socialista para Santa Catarina

Os arranjos políticos para as eleições de 2022, em construção pela burguesia catarinense, demonstram seu alinhamento em torno do avanço do projeto neoliberal, por isso, nossa tarefa central é resgatar a independência da classe trabalhadora.

Márcio Vargas 11 nov 2021, 17:09

Diferentes frações da burguesia catarinense dominam o poder político, atuando em conjunto para o avanço do projeto neoliberal, sustentando a simpatia local pelo bolsonarismo: de Rancho Queimado, como anti-exemplo nacional do “kit COVID”, à Itajaí com os experimentos de ozônio via retal, passando pelas motociatas que levaram milhares às ruas em Chapecó e na capital, chegando à LGBTQIAfobia do prefeito de Criciúma e à misoginia do judiciário no caso da Mari Ferrer. Esse contexto adverso exige urgentes debates sobre tática eleitoral às esquerdas, dada uma condição comum e objetiva, exceto à esquerda liberal dócil e adaptada à institucionalidade: não temos opção!

A direita canhestra almeja o título de estado mais bolsonarista do Brasil. Enquanto se multiplicam os bilionários catarinenses, o custo de vida para a classe trabalhadora encarece, com a cesta básica mais cara do país e a deterioração do emprego chegou a um nível histórico de desigualdade na distribuição da renda, puxado pelo achatamento das camadas médias. Ao contrário do imaginável, os partidos de esquerda (em sentido amplo) não esboçam o mínimo combate para além da institucionalidade, mantendo o maior partido desse espectro, relações muito próximas às do governo estadual. Não por acaso, o deputado petista que definiu a absolvição do governador Carlos Moisés, no processo de impeachment do caso dos respiradores fantasmas, foi o único parlamentar da ALESC a compor a comitiva oficial para Glasgow.

Sem dispensar o aprofundamento de outros fatores, fica suficientemente evidenciado o desafio da esquerda socialista em Santa Catarina, em especial daquelas que constroem o PSOL. Dentre as mobilizações de rua pelo Fora Bolsonaro, em Floripa, o 7 de setembro foi emblemático: um dia nublado, com chuvas intermitentes (e uma chuvarada no que seria o ápice do ato), no qual a vanguarda da capital foi contada. Somos uma vanguarda de, talvez, mil militantes nas esquerdas, algo incrível não fosse a dispersão e o divisionismo, acentuado pela ausência do PSOL enquanto partido, exceto pelas bandeiras de autoconstrução de algumas correntes e colaterais.

O psolismo oficial na capital se fecha nos gabinetes, aparecendo para poses ao final de atos, ao passo que organizações de diferentes espectros da esquerda conquistam as juventudes, as negritudes, as mulheres, as LGBTQI+s e outros setores da classe com seu vigor, algo distante do burocratismo e imobilismo na direção majoritária do PSOL-SC, cuja coesão é precária, dada a constituição da maioria no Diretório e na Executiva Estadual a partir do “Golpe de Chapecó”, com quadros dirigentes frágeis e sem base social, que precisam ser tutorados, portanto, também não tem condições de promover unidade.
A relativização dos acordos desejados pela maioria fragilmente posta no PSOL-SC, redundam as condições pouco favoráveis à construção de uma alternativa de esquerda. Incapazes de admitir o naufrágio da adesão automática do PSOL à candidatura de Lula, ainda no 1º turno das eleições próximas, servem de mero apêndice a pretexto do combate ao bolsonarismo em SC. Há um longo caminho de construção partidária, assim como a unidade da esquerda socialista não se dará a partir de quem opera pela liquidação do PSOL. A alternativa é seguir na luta e na organização com a classe trabalhadora.


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Pedro Micussi