Mulheres Negras Movendo Estruturas Por Outro Futuro
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Mulheres Negras Movendo Estruturas Por Outro Futuro

Leia o editorial da Revista Movimento marcando o Julho das mulheres negras na América Latina e Caribe

Carla Zanella 12 jul 2023, 18:00

Em julho de 1992, o Primeiro Encontro de Mulheres Negras Latino Americanas e Caribenhas, promovido pela ONU, marcou o dia 25 de julho como um dia de mobilização em defesa dessas mulheres. Entretanto, é a partir de 2013 que a data começa a ter mais relevância no cenário brasileiro, entrando para o calendário nacional em 2014 com a transformação do dia 25 de julho em Dia Nacional de Tereza Benguela, a líder quilombola que por 20 anos liderou o Quilombo Quariterê.

Quase 400 anos de escravização, sem que houvesse políticas públicas de reparação histórica, fez com que as mulheres negras historicamente ocupassem as piores condições de trabalho, sendo a maioria entre as vítimas de violência doméstica, obstétrica, entre outras violências de gênero.

Essa realidade foi piorada nos últimos anos. O governo genocida de Bolsonaro intensificou o ritmo de ataques e a retirada de direitos, além da catástrofe que representou a pandemia de Covid 19, tornando as condições das mulheres negras ainda mais difíceis.

A vitória eleitoral de Lula, construída amplamente pelas mãos da negritude, das mulheres e da periferia, foi um passo importante para o país. Após 4 anos trágicos de duros ataques aos movimentos sociais, o novo governo chegou indicando ministros que possuíam um bom diálogo com os movimentos, como o caso de Silvio Almeida e Anielle Franco, ministros dos Direitos Humanos e da Igualdade Racial, respectivamente.

Esses foram passos relevantes, afinal, para o povo negro. O debate acerca da representatividade sempre foi fundamental. A força do movimento negro tem empurrado para que muitos de nós sejamos os primeiros a ocupar espaços de poder, em especial, nos parlamentos, sem perder de vista os ensinamentos que o feminismo negro nos traz quando aponta que a ocupação desses lugares é válida, justamente, para que possamos ser os construtores de pontes. Isso significa que os primeiros de nós a estar nesses espaços precisa trabalhar pela melhoria das condições de vida do nosso povo e seguir abrindo caminhos para que outros de nós possam ocupar esses lugares, sendo possível que os nossos sigam esse caminho no governo, suas presenças representarão mais do que a vitória da representatividade, mas um movimento importante e essencial da institucionalização de políticas antirracistas.

Para que isso seja possível, precisamos avançar no financiamento desses ministérios para que eles tenham como criar e implementar políticas públicas massivas e eficazes. Além disso, é preciso aprofundar o debate acerca do que significa a aprovação da política econômica e financeira do governo, que ficou conhecida como o novo Arcabouço Fiscal. Afinal, se o diagnóstico é de que as mulheres negras são as mais atingidas pela falta de políticas públicas, a implementação de uma política econômica que permite ao governo seguir pagando juros da dívida e limita a possibilidade de investimentos nas áreas sociais é de forte impacto entre as mulheres negras.

Ainda, é necessário exigir do governo Lula que não meça esforços para dar um desfecho para o brutal assassinato de Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes. O crime cometido contra a vereadora do PSOL, é um crime contra todas as mulheres negras, que estão exaustas de ver a violência ceifar nossas vidas e dos nossos filhos. Queremos ocupar espaços sem medo de morrer. Justiça para Marielle é um compromisso de luta entre as mulheres negras. Não é possível falar em democracia enquanto ela não for real para a população negra.

Nesse sentido, o que está colocado para nós é a construção de um calendário de lutas feministas e antirracistas que nos permita a retomada da conquista de direitos, depois de longos anos defensivos. O julho das pretas é uma data fundamental desse calendário, nos permitindo colocar em foco as lutas que deveriam ser centrais o ano inteiro: por emprego, renda, pelo fim da violência racista e machista e por políticas públicas que sejam capazes de dar conta dessas necessidades. O movimento de mulheres negras costuma afirmar que, quando constituirmos uma sociedade de bem viver para as mulheres negras, esta será uma sociedade de bem viver para todos e todas. Por isso, não nos enganamos, sabemos que o sistema que se estrutura na violência machista e racista para sobreviver, não construirá saídas para os nossos problemas. Desse modo, apontamos: será pelas mãos das mulheres negras que moveremos as estruturas na construção de um outro futuro, anticapitalista, antirracista e feminista.


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Autores

Camila Souza