Paraisópolis merece Justiça
Quase quatro anos depois do massacre que matou nove em baile da comunidade, pairam dúvidas se PMs acusados irão à júri popular
Foto: Paulo Pinti/Agência Brasil
Na terça-feira (25), ocorreu a primeira audiência para ouvir testemunhas de acusação no caso do Massacre de Paraisópolis, que matou nove jovens durante um baile funk da comunidade em dezembro de 2019. Na oportunidade, foi realizada uma manifestação – organizada por familiares, amigos e movimentos sociais -, em frente ao Fórum Criminal da Barra Funda. A Rede Emancipa, aliada de primeira hora das famílias em luta, esteve presente!
A luta de Paraisópolis, no geral, é uma luta central para denunciar uma polícia que é assassina, que é genocida e, sobretudo, profundamente racista e corrupta. É um caso emblemático porque envolveu um assassinato em massa em um dos maiores bailes funk de São Paulo, que é o Baile da DZ7. O massacre é mais um episódio da repressão tradicional que a Polícia Militar (PM) faz em praticamente todas as comunidades, periferias e bailes funk, mas teve a ver também com a prática praticamente miliciana da polícia paulista.
Um mês antes do massacre houve a morte de um sargento na região de Paraisópolis e, desde então, havia uma espécie de ocupação militar no bairro, com episódios constantes de desrespeito a moradores, numa violenta retaliação generalizada a toda a população da região. O ápice disso foi a ação do baile da DZ7. Foi uma ação covarde. Os nove jovens morreram asfixiados, empurrados contra uma viela sem área para escapar, sob bombas.
Foi uma emboscada criada pelo destacamento da PM que realizou a ação de repressão. O Samu foi chamado e a chamada foi interrompida, ficando o socorro impedido. Logo após, houve uma série de ações. manobras e mentiras para ocultar os assassinatos.
Estive, junto a Rede Emancipa, no Hospital do Campo Limpo, local para onde as vítimas foram enviadas, poucas horas após o massacre. Havia uma verdadeira ocupação policial no hospital, com enfermeiros e médicos sob a mira de PMs que circulavam nos corredores do hospital, impedindo a entrada de parentes e a divulgação de informações. Um absurdo completo é desumano.
Quase quatro anos depois, temos a informação de que o processo judicial não andou como deveria. E neste dia 25, houve a primeira audiência do caso, com oitiva das testemunhas de acusação aos 12 PMs implicados. Foi uma etapa importante, mas ainda muito atrasada em relação ao andamento prometido para o caso. Tambem não temos certeza se os policiais envolvidos vão a júri popular, como querem as famílias.
É importante dizer o quanto os familiares seguem nessa luta. Importante dizer que Danylo e Cris, que são da Rede Emancipa, estão nessa luta, como familiares de uma das vítimas, o Denys Henrique. É muito difícil, mas os familiares seguem altivos e firmes. É importante que se saiba exatamente o que aconteceu e que haja justiça para as famílias e para toda a comunidade de Paraisópolis.