Palestina: avança o massacre e a perseguição
Palestinians inspect the damage following an Israeli airstrike on the El-Remal area in Gaza City

Palestina: avança o massacre e a perseguição

Não há luta mais importante do que a luta do povo palestino. Não há arma mais consistente do que a solidariedade internacional dos povos. 

Israel Dutra 30 out 2023, 15:13

Nossa resposta é a solidariedade

Os últimos dias têm sido os mais macabros, na sina de morte que o colonialismo de Netanyahu impõe sobre Gaza com as incursões terrestres e a sórdida estratégia de asfixiar os recursos humanitários. Foram cortadas a internet e a eletricidade, os centros de ajuda têm sido saqueados pela população faminta e o Estado de Israel chega até mesmo a ameaçar impedir a restauração das comunicações proposta pela Starlink, com uso de satélites em Gaza.

À medida que cresce a destruição por completo da infraestrutura – fazendo de Gaza não só uma “prisão a céu aberto”, como um verdadeiro campo de concentração em pleno século XXI –, cresce a repulsa e a indignação: a solidariedade se multiplica em todo o mundo, enquanto a dita comunidade internacional está dividida e em crise.

Por outro lado, há uma comoção no movimento de massas em solidariedade à Palestina, que está crescendo e se desenvolvendo. Há uma intensa luta política nas ruas, nas redes e na opinião pública de cada país. Uma luta que está sendo travada no aqui e agora. O ataque e a perseguição às lideranças políticas são a outra cara dessa ofensiva. No Brasil, nos Estados Unidos, na Argentina e na França, personalidades e lideranças da esquerda apoiadoras da causa palestina estão sendo perseguidos e hostilizadas. Trata-se de um sintoma da polarização, mas também do temor do sionismo de perder a disputa política, da qual as resoluções da ONU e as manifestações multitudinárias planeta afora já indicam a dinâmica.

A resolução da ONU mostrou o isolamento internacional da ofensiva de morte

A máxima expressão do isolamento crescente da ofensiva assassina do Estado de Israel ocorreu na reunião da ONU da última sexta-feira (27), convocada com urgência para apontar alguma saída para o horror em Gaza. A proposta, mesmo mediada, de “trégua humanitária” recebeu 120 votos a favor, apenas 14 contra (incluindo Israel e Estados Unidos) e 45 abstenções. A repercussão da votação foi tamanha que levou a uma nova onda de protestos. O secretário-geral da ONU, juntamente com todo um setor de países imperialistas, se separou de Israel e dos Estados Unidos, fazendo coro à ideia de cessar-fogo.

Israel está ignorando solenemente os apelos da ONU, com Netanyahu discursando sobre o início de uma “segunda fase da guerra total”. A UNESCO, a OMS e a organização “Médicos sem Fronteiras”ampliaram seu chamado ao cessar-fogo, dando mais força e peso para as manifestações que cresceram e voltaram a ocorrer no último sábado (28) em centenas de cidades do mundo.

O genocídio levado a cabo, com mais de 8 mil mortos em território palestino, levou a um ponto de inflexão na opinião pública, após o bombardeio aos hospitais e a entrada em cena das massas árabes. A comoção está crescendo, mesmo que de forma espontânea: foram 300 mil em Londres; os judeus antissionistas dos Estados Unidos tomaram o centro das manifestações em Nova York; centenas de milhares manifestaram-se nos países árabes e na Turquia, colocando um problema concreto para os que sustentam a ofensiva de Netanyahu.

Há uma reorganização geopolítica mundial e na dinâmica da crise após o 7 de outubro. Há uma mudança no Oriente Médio que se expande para a Europa, com Estados autocráticos com peso mundial, como a Turquia, rompendo relações com o Estado de Israel. Os setores liberais, como Biden, Macron e o trabalhista inglês Keir Starmer, buscam sustentar a ação de Israel, criminalizando a resistência palestina, perseguindo lideranças e usando seus aparatos para disputar a opinião pública em seus países.

Na França, o ministro do Interior, Gérald Darmanin, ordenou que as manifestações de solidariedade à Palestina fossem criminalizadas e reprimidas pela polícia. A tentativa de proibição foi desmoralizada pelas manifestações em Paris. Ontem (29), os franceses se somaram mais uma vez ao chamado internacional e realizaram protestos em Paris e Marselha.

No Brasil, há uma febril campanha que une setores sionistas da mídia, uma parte da cúpula de igrejas neopentecostais e a direita sionista militante para justificar a agressão, usando fake news para confundir a população brasileira. Tal campanha combina-se com a perseguição para intimidar as lideranças e figuras públicas que denunciam o genocídio. E, mesmo assim, pesquisas de opinião indicam que 61% dos entrevistados opõem-se à ofensiva do Estado de Israel, considerando-a desproporcional. Em que pese a manipulação de pesquisas e a guerra de informações, o levantamento indica que existe um amplo espaço a ser disputado em defesa da causa palestina na sociedade brasileira.

É preciso atuar: cinco medidas imediatas para intervir

A semana que começa exige iniciativa para dar força moral ao conjunto dos ativistas que estão construindo a resistência pelos cinco continentes. Os atos do final de semana no Brasil seguiram se fortalecendo, como o que caminhou na avenida Paulista, além de manifestações no sul do Brasil (em Porto Alegre, Curitiba, Santa Maria, Bagé, Livramento, Pelotas entre outras). Listamos cinco tarefas imediatas para o ativismo, diante dos momentos decisivos que presenciamos a estrutura militar de Israel e dos Estados Unidos chocando-se com a força da resistência em Gaza, além da sensibilização contra os crimes de guerra e ataques contra hospitais, mulheres, crianças e idosos.

1- Apelo ao cessar-fogo imediato: defesa da entrega de ajuda humanitária, como solicitam os “Médicos Sem Fronteiras”, restabelecimento de água, internet e eletricidade de forma imediata, além da abertura de corredores de passagem;

2- Disputa nas redes contra as fake news; compartilhamento das manifestações pelo mundo para furar o cerco da grande mídia;

3 – Construir um calendário unitário, como o aprovado pela UNE, que convoca o dia 4 de novembro como uma data mundial; atuar com centro nas universidades, como fazem os ativistas estadunidenses;

4 – Exigir que o governo Lula suba o tom, após a postura de Israel de ignorar os esforços da ONU; convocar os embaixadores e apontar para a necessidade romper relações com o Estado de Israel, a partir da negativa do cessar-fogo, a exemplo da Turquia e com ainda mais força de Gustavo Petro; o movimento social deve reforçar essas posições;

5 – Reforçar a solidariedade entre todos os que lutam pela Palestina, unificando as manifestações além da esquerda atuante e reforçando as posições nas câmaras, sindicatos e universidades para conquistar certa “hegemonia” democrática na opinião; defender o direito à resistência do povo palestino, com base na ideia de que um povo de um país ocupado pode resistir ao apartheid e tem este direito. 

Nossa moral e a deles

Importantes lideranças, ativistas e intelectuais têm se posicionado firmemente em defesa da Palestina, denunciando o colonialismo do Estado de Israel. O sionismo tem respondido com ataques e arbitrariedades, como no caso de Luciana Genro (PSOL-RS): deputados da extrema direita gaúcha abriram um processo na Comissão de Ética em virtude da defesa da causa palestina. Prontamente, preparamos um manifesto internacional em solidariedade a Luciana, que contou com assinaturas vindas de mais de 20 países. Os ataques à esquerda defensora da causa palestina que não teme dizer o próprio nome não são particulares do Brasil, senão parte de uma ofensiva internacional do sionismo, como provam os casos de Rashida nos EUA, Myriam Bregman e Luciana Echevarría na Argentina.

Ataques de ordem similar aconteceram com Bruna Biondi (vereadora do PSOL no mandato coletivo Mulheres por + Direitos em São Caetano do Sul) e Mônica Seixas (deputada estadual do PSOL pelo Movimento Pretas em São Paulo). No caso de Mônica Seixas, a base governista do bolsonarista Tarcisio se utiliza da perseguição para calar um mandato que tem sido a linha de frente da oposição às privatizações e cortes na educação. Está sendo preparado um amplo movimento de solidariedade em defesa de Mônica e de seu mandato. 

O combate sem tréguas à extrema direita no Brasil, que faz uma defesa intransigente do Estado de Israel e avaliza o genocídio em Gaza, precisa apoiar-se na defesa sem mediações da causa palestina. Precisamos ampliar nossas iniciativas de solidariedade, estendendo-as aos que, com coragem e firmeza, se colocam ao lado dos palestinos, combatendo todos os ataques e tentativas de criminalização vindas do sionismo e da extrema direita, como a lista Gayer. As tentativas de intimidação, de que foram vítimas, por exemplo, os professores Mônica Herz e Márcio Scalércio na PUC-RJ precisam ser respondidas com solidariedade e luta. 

A ação da esquerda brasileira não pode ser calibrada pelas investidas do sionismo, da extrema direita e da mídia tradicional, mas sim pela revolta e disposição de luta que colocaram 300 mil em Londres e centenas de milhares nos países árabes. É preciso somar forças sem medo e desmoronar o “consenso” que o Estado de Israel e os Estados Unidos querem edificar 

A solidariedade como arma central

Quando fechávamos este editorial, o exército sionista entrava por ar, mar e terra na Cidade de Gaza, dando um salto na necessidade de ampliar a solidariedade e tomar medidas mais concretas. Portanto, nosso tempo é agora. Somos parte de um movimento democrático central no mundo. Não estamos sozinhos e somos muitos, a solidariedade é uma arma quente.  

Nossa corrente está jogada na defesa da causa palestina. Acabamos de publicar uma edição especial da Revista Movimento, dedicada à defesa da luta palestina, ajudando na formação e informação a respeito da luta histórica do povo palestino por sua autodeterminação. Vamos ampliar a agitação e propaganda para disputar o terreno da consciência de milhões no mundo. Não há luta mais importante do que a luta do povo palestino. Não há arma mais consistente do que a solidariedade internacional dos povos. 


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