O lucro fez mais uma vítima. Ana Clara Benevides, de 23 anos, estudante de Psicologia da Faculdade Federal de Rondonópolis foi a vítima, na última sexta-feira, 17, no show da cantora Taylor Swift. Uma parada cardiorrespiratória após um desmaio em razão do calor foi a causa.

O Estádio Nilton Santos, o Engenhão, marcava uma sensação térmica superior a 60 graus. É reportado que mais de mil pessoas sofreram desmaios durante o evento. A produção não só proibiu a entrada de garrafas plásticas de água, como também fechou a ventilação do Estádio, em uma iniciativa baseada unicamente pelo lucro, tentando evitar que o público não-pagante pudesse visualizar dentro do Engenhão.

No meio do show a cantora parou seu setlist de três horas e meia e pediu que a equipe distribuísse água aos fãs. Não foi suficiente. Em outro momento, pegou garrafas de águas de fãs e arremessou pelo estádio. Ao redor, fãs gritavam pedindo por água. Não foi suficiente.

É válido comentar as muitas falhas, algumas inclusive criminosas: a incapacidade de avaliação da sensação térmica do evento pelos organizadores, a privação do uso de garrafas pessoais de água dentro da Nilton Santos, os efeitos colaterais do gramado sintético na sensação térmica – que, como reportado por times como o Flamengo, chega ao nível de derreter chuteiras de jogadores. Em um teste feito no mesmo dia do show, a temperatura dos gramados sintéticos chegou aos 70 graus. A empresa Tickets 4 Fun falhou criminosamente em avaliar os critérios de risco as 60 mil pessoas dentro do Estádio.

Hoje,18, segundo dia da turnê, a ignorância criminosa do lucro acima da vida segue imperando. Fãs denunciam que a equipe do evento está limitando o acesso de camelôs nas filas, que vendem águas e leques. Em nota no começo do dia, a empresa Tickets 4 Fun decidiu não se pronunciar sobre a entrada de garrafas plásticas no show. O Ministro da Justiça, Flávio Dino, em resposta, publicou no começo da tarde uma portaria, via Secretaria do Consumidor. Passa a ser permitido que se acesse estádios com garrafas de água, de material adequado e uso pessoal.

Morrer de calor é consequência do capitalismo. O Rio de Janeiro registra, pela terceira vez na mesma semana, a máxima temperatura da sua história. Hoje, 19, a máxima é superior ao show de 18, sexta. Os efeitos das mudanças climáticas estão nas manchetes brasileiras todas as semanas. Sejam os ciclones do Sul do país, sejam as chuvas em São Paulo, seja o calor extremo do Rio, sejam às máximas de 44 graus do Centro-Oeste, o culpado é um só: o capitalismo e seu modelo de produção. Não existe sobrevivência. E Ana foi mais uma vítima fatal.

É urgente que as empresas sejam responsabilizadas. A Deputada Sâmia Bomfim entrou com ação no Ministério Público pela responsabilização e medidas cabíveis na garantia da segurança e dos direitos dos fãs nos shows. Em texto, ela lembra que a Tickets 4 Fun “também produzia o Lollapalooza, já responde a ações no Ministério Público do Trabalho por trabalho análogo à escravidão em edições desse festival.” E completa: “A garantia do acesso à água, a estruturação para circulação de ar e a adaptação para a infeliz realidade de emergência climática que passamos é o mínimo. A ganância e o lucro não podem estar acima da dignidade e dos direitos. A situação ocorrida no dia de ontem é estarrecedora e não pode se repetir de forma alguma.”.

O mundo não está acabando. O lucro acima do capitalismo está matando a humanidade. O Planeta Terra seguirá aqui. Mas as próximas gerações talvez não estejam aqui para testemunhar. 

Ana, junto com outras 60 mil pessoas, acordou com a esperança de viver o melhor dia da sua vida. Morreu. Em nome do lucro da Tickets 4 Fun. “Eles não vão nos ajudar, estão muito ocupados se ajudando. Eles não vão mudar isso. Vamos fazer isso nós mesmos”, canta Taylor em uma música. Que todo fã lembre disso e se empenhe na luta por justiça climática e justiça por mais um sonho destruído em nome do lucro bilionário de alguns. Quer sobreviver? Destrua o capitalismo e mude o mundo.

---