Foto: Reprodução

Na noite do Oscar 2025, o documentário “No Other Land” brilhou ao conquistar a estatueta de Melhor Documentário. Mais do que um reconhecimento cinematográfico, a premiação representou um poderoso manifesto pela paz e pelos direitos humanos no Oriente Médio. O filme, que retrata as agruras da ocupação israelense e a luta cotidiana do povo palestino, emocionou a audiência com discursos contundentes de seus produtores, que fizeram um apelo direto por justiça e pelo fim da violência.

Um dos momentos mais marcantes da noite foi a fala de Basel Adra, protagonista do documentário, que compartilhou sua própria experiência como palestino vivendo sob ocupação.

 “Há dois meses me tornei pai e espero que minha filha não tenha que viver a mesma vida que eu vivo agora. Em que eu sempre sinto a vigilância, sou obrigado a me mudar, minhas casas são destruídas e a minha comunidade vive isso todos os dias por causa da ocupação israelense”, declarou ele, visivelmente emocionado. 

Sua fala ressoou com a plateia e com milhões de espectadores ao redor do mundo.

Os diretores do documentário, uma equipe composta por israelenses e palestinos, também reforçaram a necessidade de um novo caminho para a região, criticando a postura da política externa dos Estados Unidos sob a gestão de Donald Trump. 

“Fizemos esse filme, nós palestinos e israelenses, porque juntos nossas vozes são mais fortes”, afirmaram. 

Os produtores enfatizaram que o futuro depende do reconhecimento da igualdade entre os povos e do respeito a direitos fundamentais.

Outro momento de forte impacto veio quando um dos produtores destacou as desigualdades estruturais entre israelenses e palestinos, mesmo entre aqueles que desejam a paz. 

“Israel foi atacado em 7 de outubro, mas quando eu vejo Basel, vejo meu irmão. Mas não somos iguais. Vivemos em um regime em que eu tenho liberdade sob a lei civil e ele atende à lei militar, que destroi sua vida e em que ele não consegue controlar sua própria existência”. 

A fala ressaltou o desequilíbrio de poder e a urgência de uma solução política justa.

A premiação de “No Other Land” acontece em um momento delicado do cenário político global, com tensões crescentes no Oriente Médio e um debate acirrado sobre o papel das potências internacionais no conflito israelo-palestino. Os discursos da equipe do filme deixaram um recado claro: 

“Não é tarde demais para a vida, para os vivos. Não existe outra forma”.

Lançado em 2024, No Other Land é um documentário dirigido por Basel Adra, Hamdan Ballal, Yuval Abraham e Rachel Szor, todos estreando como diretores. O filme foi produzido por um coletivo palestino-israelense e é descrito pelos realizadores como um ato de resistência e uma busca por justiça diante do conflito contínuo na região.

A coprodução entre Palestina e Noruega estreou mundialmente na seção Panorama do 74º Festival Internacional de Cinema de Berlim, em 16 de fevereiro de 2024. No evento, No Other Land conquistou o Prêmio do Público Panorama de Melhor Documentário e o Prêmio de Documentário da Berlinale. Posteriormente, foi pré-selecionado para a categoria de Melhor Documentário no 97º Oscar.

A história por trás do filme

O documentário acompanha Basel Adra, um jovem ativista palestino que há anos resiste ao deslocamento forçado de seu povo pelos militares israelenses na região de Masafer Yatta, na Cisjordânia ocupada. Através de suas filmagens, ele documenta a destruição gradual de sua aldeia natal, onde soldados israelenses demoliam casas e expulsavam seus moradores. Durante esse processo, Basel constroi uma amizade inesperada com Yuval Abraham, um jornalista israelense. No entanto, essa relação é marcada pela desigualdade entre suas realidades: enquanto Basel enfrenta opressão e violência diárias, Yuval vive sob um regime de liberdade e segurança.

Filmado ao longo de cinco anos (2019-2023), “No Other Land” mostra os esforços de Basel e outros ativistas palestinos contra a destruição de Masafer Yatta, ordenada pelas Forças de Defesa de Israel (IDF) para a construção de um campo de treinamento militar. Em uma decisão liminar, a Suprema Corte de Israel rejeitou a apelação dos habitantes locais, negando o reconhecimento da aldeia, apesar de registros cartográficos que atestam sua existência desde o século XIX. Como parte da “Zona C” da Cisjordânia, a área está sob total controle civil e militar de Israel, que impõe restrições severas à população palestina e prende aqueles que participam de protestos pacíficos contra a ocupação.

O documentário também incorpora imagens de arquivo registradas ao longo de vinte anos pela família de Basel Adra, incluindo uma visita do ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair ao vilarejo em 2009. Inspirado nessa tradição de documentação, Basel decidiu começar a filmar a chegada das primeiras escavadeiras ao território, no verão de 2019.

---