A burguesia pressiona, o governo vacila. É hora de lutar!
Governo atrasa anúncio dos novos cortes enquanto cresce mobilização contra o ajuste fiscal e pelo fim da escala 6×1
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
O debate político nacional está condicionado por dois elementos centrais: de um lado, as repercussões sobre a vitória de Trump nos Estados Unidos; de outro, a discussão sobre os rumos da política econômica e orçamentária do governo. Por óbvio, ambos se relacionam.
A vitória de Trump encoraja Bolsonaro a insistir em sua própria anistia e a dos golpistas ligados ao 8 de janeiro. Esse cenário influencia no adiamento do anúncio do pacote de Haddad, um sintoma da hesitação do governo em promover um ajuste mais severo avaliando possíveis consequências políticas similares aquelas que levaram à derrota de Kamala Harris.
As iniciativas que estão sendo feitas, como o Manifesto contra o Pacote Antipopular e o crescente apoio à luta pelo fim da jornada 6×1, difundida por Rick Azevedo e o movimento VAT (Vida Além do Trabalho) contando com mais de 2 milhões de assinaturas de apoio, mostram que existe um lugar para a esquerda se postular e atuar para influenciar a favor dos interesses da classe trabalhadora.
O governo hesita
Os sinais das urnas nos Estados Unidos e das recentes eleições municipais brasileiras acenderam um sinal amarelo para o governo. Se seguir no caminho da austeridade fiscal, como querem e exigem seus aliados do capital financeiro e da burguesia liberal, Lula sabe que pode erodir sua base de apoio já declinante em alguns pontos.
Mas a burguesia liberal quer mais e sua pressão vem também de dentro do governo para além de Haddad. A recente entrevista do ministro dos Transportes Renan Filho defendendo a privatização de rodovias e afimando que “o presidente não é de esquerda nem para o PT”, o suporte à privatização das escolas estaduais de São Paulo através do financiamento do BNDES de Aloizio Mercandante (questionado por nossa deputada federal Sâmia Bomfim) ou o apoio do PT – junto com o PL – ao deputado federal Hugo Motta para a presidência da Câmara demonstram estas pressões evidentes.
O fortalecimento eleitoral do Centrão e as inúmeras rendições do governo a este setor da direita conservadora aprofundam a crise enfrentada pela próprio governo, como já pontuamos em editoriais anteriores. Soma-se a isso a escandalosa decisão recente do STF que derruba a estabilidade no serviço público, conquista estrutural do ascenso de lutas dos anos 1980, realizada com o apoio de ministros indicados por Lula, como Flávio Dino, Cristiano Zanin e Dias Toffoli.
Este cenário fortalece as posições da extrema direita, que enfrentaram grande disputa interna nos últimos meses, mas se consolidou como força política em centenas de cidades pelo país e manteve significativa força mesmo com derrotas nas eleições de grandes cidades como São Paulo, Belo Horizonte, Belém, Fortaleza. O jogo de Bolsonaro aposta na mudança de sua situação jurídica a partir de uma mudança na conjuntura política com o enfraquecimento do governo enquanto, ao mesmo tempo, figuras próximas como os governadores Tarcísio e Caiado buscam construir alternativas mais palatáveis ao regime político para 2026.
Nesse cenário de pressão por todos os lados, não há saída para o governo Lula. Se aprofundar a austeridade, corre os riscos dos efeitos citados acima, mas se recusar a orientação pró-mercado de Haddad, entrará em rota de colizão com seus principais fiadores no poder. E a saída correta para esta situação, através da mobilização popular, é a mais improvável de todas devido a profunda natureza de conciliação que organiza o governo.
Em alguns dias saberemos os detalhes das propostas de aprofundamento do ajuste , mas já é evidente que estes acontecerão de forma profunda porque o mercado exige cortes na casa das dezenas de bilhões de reais. E é muito provável que tais cortes venham acompanhados de explicações demagógicas como o “combate às fraudes”, no caso dos programas sociais, ou a “otimização da gestão” para justificar mudanças nos valores destinados para serviços públicos essenciais.
Organizar a luta: contra o ajuste e pelo fim da escala 6×1
Este cenário não se desenvolve sem luta, como demonstrado pela mobilização contra a escala 6×1 e pela resistência contra a austeridade fiscal. Contra as expectativas daqueles que previam um final de ano morno, ambos os movimentos colocam os interesses concretos da classe no centro da pauta política do país e podem ter consequências importantes na luta econômica dos trabalhadores e na dinâmica da esquerda radical.
Para isso, é necessário organizar a luta nas últimas semanas o ano ao redor daquilo que já tem sido feito, como o manifesto contra o ajuste e as mobilizações convocadas pelo VAT. Devemos ampliar as campanhas centralizadas, demonstrações de rua e agitação pública para desenvolver o movimento dos setores críticos contra a vacilação e o imobilismo oficialista.
Nesse sentido, convocamos as manifestações contra a escala 6×1 que serão realizadas em todo país no próximo dia 15 de novembro e impulsionamos amplas iniciativas de propaganda nas ruas e nas redes combinando as lutas contra o ajuste fical e pelo fim da escala de trabalho 6×1. Estas são as tarefas centrais do momento.