Estudantes protestam contra calor insuportável em escola técnica de Campinas
Falta de infraestrutura e tentativas de silenciamento também foram denunciadas na manifestação da Escola Técnica Conselheiro Antônio Prado
Fotos: Laura Tamborim/Jornal PQP
Na última quarta-feira (12), estudantes da Escola Técnica Estadual Conselheiro Antônio Prado (Etecap), em Campinas, se uniram ao movimento Juntos para denunciar o abandono estrutural da instituição de ensino pelo governo estadual. A manifestação escancarou o descaso das autoridades com as condições precárias da escola, que se tornam insustentáveis diante das intensas ondas de calor. Sem ventiladores suficientes, sem climatização adequada e com salas superlotadas, os estudantes enfrentam um ambiente impróprio para o aprendizado, que prejudica diretamente o desempenho acadêmico e a saúde.
“A gente tem uma escola da década de 60 que não foi reformada. Ela é bem parecida com uma fábrica. As janelas são bem pequenas, tem aqueles tijolos vazados, e um teto de amianto que, quando bate sol, guarda muito calor. Isso acaba fazendo com que a escola vire um verdadeiro micro-ondas. A gente não tem circulação de ar necessária. Faltam ventiladores que funcionem, ar-condicionado”, relata o estudante Alex Valentim, 17 anos.
Os estudantes também denunciaram as péssimas condições dos laboratórios, essenciais para sua formação técnica. Durante as aulas práticas, eles precisam utilizar equipamentos de segurança, como calça jeans, jaleco de manga comprida e luvas, o que agrava ainda mais o desconforto causado pelo calor. O uso de ventiladores dentro dos laboratórios é proibido, pois pode comprometer experimentos e amostras, especialmente em atividades que envolvem fogo e microrganismos.
“No laboratório de meio ambiente, até temos um ar-condicionado, mas ele é muito antigo e praticamente ineficaz”, conta o estudante.
Em um episódio alarmante, quatro alunos passaram mal dentro do laboratório de microbiologia antes que a gestão decidisse cancelar uma aula. O problema também afeta os funcionários da unidade. Os alunos contam que o refeitório da escola só ganhou um ventilador este ano e que a cozinha não conta com o equipamento, o que causa mal estar nas cozinheiras.
“Teve uma funcionária que desmaiou. Se não me engano, ela teve uma convulsão por causa do calor e outra funcionária a levou de carro até um hospital próximo”.
Os alunos também criticam a postura da direção, que justifica a falta de reformas com a suposta burocracia do Centro Paula Souza e o status histórico da escola.
“A gestão sempre usa essa desculpa de que a Etecap é um patrimônio histórico, mas ela não é tombada. Mesmo assim, usam isso para justificar a falta de melhorias básicas, como instalar uma simples porta no banheiro”, desabafou um estudante
Outras demandas



A mobilização reuniu cerca de 200 estudantes e fechou uma das faixas da avenida em frente à escola, e contou com apoio do Coletivo Juntos. Organizados, os estudantes produziram faixas e cartazes e se manifestaram por meio de um carro de som. O ato, porém, foi além da questão climática. Os estudantes também aproveitaram a mobilização para denunciar casos graves de racismo, transfobia, machismo e homofobia dentro da escola. Segundo os manifestantes, a gestão da unidade tem sido conivente com situações de discriminação, silenciando vítimas e abafando as denúncias.
“Ano passado tivemos casos muito sérios de racismo aqui dentro, e a direção preferiu fazer vista grossa. Eles estão passando pano para tudo e tentam nos calar”, afirma Alex.
A revolta dos alunos também se estende a outras deficiências da escola, como a falta de materiais básicos, a precariedade das instalações e a insuficiência de espaços adequados para refeições e lazer.
“A estrutura é péssima, mas cobram da gente como se tivéssemos um ambiente adequado para estudar”, pontua o estudante.
Outro ponto de insatisfação exposto pelos estudantes foi a dificuldade de acesso ao transporte público. Com o aumento das tarifas dos ônibus da Transurc e da EMTU, muitos alunos enfrentam dificuldades para chegar à escola. Além do alto custo das passagens, os estudantes denunciam a precariedade do transporte, com veículos sucateados, superlotação e horários inconsistentes.
“Pagamos caro para andar em ônibus que vivem lotados, quebram constantemente e muitas vezes nem passam no horário”, afirmou um dos manifestantes.
A demora na liberação do passe escolar também foi alvo de críticas. Segundo os alunos, as empresas impõem uma burocracia excessiva para a concessão do benefício, reprovando fotos e dificultando a obtenção do desconto, o que obriga muitos estudantes a pagarem a tarifa cheia.
“Eles fazem de tudo para que a gente pague mais caro, atrasam o passe escolar de propósito”, denuncia Alex.
Mobilização prossegue
Ao final do ato, os estudantes fizeram uma assembleia para decidir os próximos passas do movimento. Ficou acordado que no próximo dia 19 de março, data em que o sindicato dos professores fará uma paralisação por questões trabalhistas, os alunos também vão parar para exigir a climatização da escola – ainda que não haja certeza que os docentes do Etecap participarão da mobilização.
“Acontece uma perseguição muito grande aos professores que participam de greve, que são organizados em sindicato, por parte da gestão. Então, é bem ruim, assim. No ato do dia 13, a gente conseguiu ter a presença de duas professoras. Outras duas não puderam por causa de perseguições internas”, declarou Alex.
A mobilização da Etecap evidencia um problema recorrente nas escolas estaduais paulistas: a negligência do governo em garantir condições mínimas para uma educação de qualidade. O movimento estudantil promete continuar pressionando as autoridades para que medidas concretas sejam tomadas, garantindo infraestrutura adequada e combatendo as violências dentro da unidade.