A montanha pariu um rato: sobre a mobilização de Bolsonaro em Copacabana
O fracasso relativo da última manifestação bolsonarista fortalece a necessidade da ação nas ruas contra os golpistas
Foto: Manifestação bolsonarista em Copacabana no último 16 de março. (Reprodução)
Alentada pelas redes, com a ajuda de Elon Musk, a mobilização nacional unificada que o bolsonarismo convocou para o último domingo, dia 16 de março, resultou num fracasso relativo.
Longe da propagada meta de “um milhão nas ruas”, o que se viu em Copacabana foi uma mobilização decadente, que apesar de todo aparato e presença política, se contou na casa das dezenas de milhares. Segundo levantamento do “Monitor do Debate Político”, em associação com a ONG “More In Common”, o número de presentes seria de 18, 3 mil pessoas.
Nas redes sociais se notou a desorientação, inclusive discursiva do bolsonarismo, centrado na anistia e de forma defensiva, quando o próprio Jair Bolsonaro falou que mesmo “preso ou morto” estaria presente na vida política. Os atos nas capitais foram ainda menores, com pouca adesão na Avenida Paulista em São Paulo ou no Parcão em Porto Alegre, tradicionais pontos de agitação da extrema direita durante tais jornadas. Podemos dizer que os atos foram bastante minoritários na opinião pública nacional, se comparados com o impacto midiático das decisões dos campeonatos regionais de futebol, que tiveram lugar no mesmo domingo.
E não se pode atribuir isso à falta de presença política – que foi o ponto relativamente mais forte do ato – onde estavam os governadores mais importantes da extrema direita, a começar por Tarcísio e o “anfitrião” Claudio Castro, além do catarinense Jorginho Mello e de Mauro Mendes, do Mato Grosso. Além disso, Silas Malafaia convocou e fez uso da palavra.
Uma conjuntura em aberto
A manifestação, com eixo de “anistia já”, buscava incidir no julgamento marcado para o dia 25 de março, em meio à ofensiva de Moraes e do Judiciário. O centro do bolsonarismo era buscar aproveitar o “efeito Trump e Musk” para capitalizar a queda de popularidade do governo e retomar a iniciativa política. Para tanto, sua estratégia era combinar a defesa de Bolsonaro e dos golpistas do 8 de janeiro com uma mobilização capaz de incidir sobre a massa constante nos atos “verde-amarelos” dos domingos.
Essa foi sua principal derrota. Foi o ato mais fraco convocado diretamente por Bolsonaro. A imprensa mesmo fez questão de repelir e dar pouca difusão, além de afirmar o fracasso exposto, no que foi um verdadeiro revés para Bolsonaro e seu círculo mais íntimo.
Tarcisio cumpriu um papel protocolar, mas bastante esperto. Saiu em defesa de Bolsonaro, mas como bem observou matéria da Folha de São Paulo, estava com o uniforme número 2 da seleção, azul. De forma simbólica, apresentou-se como igual, mas diferente dos pares mais radicalizados do palco”. Trocando em miúdos: estava presente, “fardado”, mas pronto como uma segunda opção.
O ato demonstra duas coisas: a disputa aberta entre os golpistas e bolsonaristas, que já vínhamos caracterizando desde o balanço da eleição de 2024; e que (sem nunca subestimar o peso da extrema direita) sua capacidade de mobilização mostra que seguem na defensiva.
Da outra parte, o governo Lula segue navegando de forma errática, com sua popularidade retraindo como fruto do agravamento das condições de vida, notória no aumento dos preços e da carestia. Suas opções por ceder novamente ao centrão, no caso das eleições das casas legislativas, e no escandaloso novo orçamento secreto, têm um custo cada vez mais alto. Sem falar no prosseguimento da agenda social-liberal na economia.
As manifestações convocadas para o dia 30, com o mote “Sem Anistia!”, estão pouco mobilizadas ainda que exista um ambiente favorável na sociedade para encarar tais pautas e agendas.
O bolsonarismo, apesar de ter pouca capacidade de mobilização nesse momento, segue sendo apoiado por uma parcela de alguns milhões. Seu atual fracasso relativo deveria ser aproveitado pelos partidos que se reivindicam à esquerda, mas não é o que tem ocorrido. A esquerda está institucionalizada e burocratizada, sem chamar mobilizações de rua, e quando chama não convoca. É o caso do próximo ato do dia 30 de março. A CUT, a UNE e outros setores estão aquém na convocatória para que seja um ato forte e supere a própria “bolha”. O PSOL deve ser parte fundamental desta tarefa.
Reforçar a mobilização
Diante da debilidade dos nossos inimigos, não há outra saída senão apostar e redobrar os esforços em prol da mobilização. O destaque do filme “Ainda Estou Aqui”, que teve eco em todas as camadas da sociedade brasileira, é um ponto de apoio para debater a necessidade de punir os golpistas de hoje e de ontem.
Isso deve ser articulado com as demandas sociais: a retomada da pauta da redução da jornada de trabalho, bem como as mobilizações pontuais que existem em curso, como os estudantes e professores que vem se mobilizando contra as condições exaustivas das salas de aula diante da onda de calor extremo, por exemplo.
Nossa corrente, o MES/PSOL, na nossa condição de fundadores do PSOL e parte de sua ala esquerda, demanda que o Partido atue com força nas ruas e não se limite a apoiar o governo contra a extrema direita. Nosso lugar precisa ser o dos que trabalham para organizar e mobilizar o povo, começando pela convocatória no dia 30, como parte inclusive da luta pela memória no aniversário do golpe militar.
Apenas mobilizando as maiorias teremos condições de construir uma inflexão na relação de forças, tarefa posta diante da conjuntura. Dia 30 estaremos lá.