‘Não vão nos calar’
Ameaças a parlamentares

‘Não vão nos calar’

Escalada da violência política de gênero no Brasil gera episodio grotesco: todas as deputadas da Alesp sofreram ameaças de estupro e morte em um mesmo dia

Tatiana Py Dutra 4 jun 2025, 09:31

Foto: Rodrigo Costa/Alesp

Em um episódio que escancara o avanço da violência política de gênero no país, todas as deputadas estaduais de São Paulo foram ameaçadas de estupro e morte por e-mail no último sábado (31). O ataque covarde foi revelado nesta terça-feira (3) durante sessão plenária da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp).

A gravidade do episódio não reside apenas no seu teor, mas no fato de ser um ataque coordenado contra todas as mulheres parlamentares da Casa, algo inédito na história recente da Alesp, segundo nota divulgada coletivamente pelas deputadas.

Não é um caso isolado, tampouco fruto de um “surto” individual. Trata-se de uma prática sistemática que visa calar, intimidar e expulsar mulheres – sobretudo mulheres de esquerda, negras e de pautas progressistas – dos espaços de poder. Como afirmaram as próprias deputadas em nota conjunta intitulada “Não Seremos Silenciadas”, “casos de violência política como esse, organizados por grupos na internet, têm sido cada vez mais comuns”.

A deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP), que também já foi alvo de ameaças, classificou o ataque como parte de uma engrenagem mais ampla de opressão:

“Essa violência não é individual, é uma tentativa sistemática de calar mulheres na política, de nos afastar dos espaços de poder e decisão. Não vão nos intimidar. Seguiremos na luta, ocupando, resistindo e enfrentando o machismo e o autoritarismo!”, declarou.

A também deputada estadual Monica Seixas (PSOL) recordou que já enfrentou episódios semelhantes, e que sua luta na Justiça abriu precedentes contra a violência política de gênero:

“No caso que aconteceu comigo em 2022, em que um agora ex-deputado disse que colocaria um cabresto em minha boca, fui à Justiça e esse caso abriu precedente para que outras companheiras de luta tivessem justiça feita a seus agressores, punidos. Seguimos: nós por todas”, reforçou.

A vereadora de São Caetano do Sul Bruna Biondi (PSOL) também endossou:

“Os machistas tentam, mas as feministas que foram eleitas pelo povo não vão se calar! Seguimos firmes.”

A epidemia da violência política de gênero

O episódio na Alesp é mais uma expressão de um problema estrutural no país. Dados do Observatório da Violência Política e Eleitoral da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) revelam que, apenas no primeiro semestre de 2022, o Brasil registrou 214 casos de violência política – sendo 35% deles diretamente contra mulheres.

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) também vem tratando o tema como prioritário desde que incluiu, em 2021, a violência política de gênero como crime eleitoral, com pena que pode chegar a 4 anos de reclusão.

Relatório da ONG Justiça Global mostra que mulheres negras, LGBTQIA+ e de territórios periféricos são as maiores vítimas dessa violência, que vai de ameaças e agressões verbais até assassinatos políticos.

Investigações e segurança fragilizada

O caso foi registrado como ameaça, injúria racial e falsa identidade pela Polícia Civil junto à Alesp. Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP), um homem de 28 anos foi identificado como suspeito. Durante a operação, a polícia apreendeu um computador e um celular na residência do investigado, que nega participação no crime.

Diante do absurdo, a Alesp anunciou um simulado de segurança para testar seus protocolos em situações de risco extremo. Além disso, foram discutidas ações como controle mais rigoroso de acesso, reforço na segurança pessoal das deputadas e uso de veículos blindados, quando necessário.

Não é só sobre elas, é sobre todas nós

Este não é um ataque apenas às parlamentares da Alesp. É um ataque à própria democracia, aos direitos das mulheres, à luta feminista e aos avanços sociais conquistados nas últimas décadas. A naturalização da misoginia, do racismo e da violência como ferramenta política precisa ser enfrentada de forma coletiva, organizada e urgente.

Não basta punir os agressores. É necessário transformar a cultura política e estruturar uma proteção real para todas as mulheres que ousam ocupar os espaços de decisão.


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Autores

Camila Souza